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Brasil tem verba para pesquisas, mas problemas com gestão Brazil has funds for research, but trouble with management

Pesquisadores acreditam que falta ao País mais integração entre os cientistas e gestão integrada de recursos em áreas estratégicasResearchers believe the country lacks integrations between scientists and integrated resource management in strategic fields

16/08/2015

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Brasil tem um grande potencial para produzir as suas próprias drogas, aproveitando a biodiversidade do País, a experiência no desenvolvimento de pesquisas e os programas de formação

O Brasil possui cientistas de ponta e é afetado por boa parte das doenças negligenciadas do mundo, como a dengue e Chagas, o que facilita o desenvolvimento de estudos. Então, por que o País ainda não é uma referência na produção de fármacos para essas enfermidades? A resposta pode ser a necessidade de melhorias na gestão de trabalho, como a integração entre pesquisadores de diferentes áreas.

Essa é a opinião dos doutores Lucio Freitas, do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), e Eric Chatelain, chefe do setor de Descoberta de Novos Medicamentos da organização internacional sem fins lucrativos Drugs for NeglectedDiseasesinitiative (DNDi). Os pesquisadores são favoráveis ao fomento de parcerias com cientistas de diferentes disciplinas com o mesmo objetivo: a produção de fármacos.

“O descobrimento de fármacos envolve disciplinas como a biologia, a química sintética e medicinal, a farmacologia e a pesquisa com modelo animal. Essa é uma tarefa multidisciplinar e, quando é feita na academia, o professor responsável pela pesquisa muitas vezes quer fazer todo o processo”, explica o Dr. Lucio, acrescentando que falta integração entre os pesquisadores.

“É preciso colocar esses cientistas em contato, aprendendo com os erros uns dos outros e, também, com as histórias de sucesso. Isso melhoraria a produção brasileira na área”, acredita.

O raciocínio vai ao encontro do que defende o Dr. Eric. “Essa ideia de parcerias tem de ser reforçada principalmente na academia. Todos os parceiros envolvidos no processo de descoberta têm que puxar as cordas da mesma direção com um objetivo comum: obter uma droga! Então, basicamente, é colocar o ego no bolso e trabalhar com a equipe”, afirmou.

Ainda segundo Eric, o Brasil tem um grande potencial para produzir as suas próprias drogas, aproveitando a biodiversidade do País, a experiência no desenvolvimento de pesquisas e os programas de formação.

Histórico de trabalho

Dr. Lucio é favorável que as pesquisas financiadas tenham o registro completo de desenvolvimento do trabalho, com cobrança de apresentação de resultados obtidos. Isso reduziria, por exemplo, a duplicidade ou reinício de estudos a partir do zero. Ele ainda considera que deveria ser obrigatório no País o uso de cadernos de laboratório que sigam as regras internacionais exigidas para comprovação de propriedade intelectual – como o registro de todas as atividades e resultados da pesquisa em um caderno com páginas numeradas, e com revisão de conteúdo por um colega que não esteja diretamente envolvido na pesquisa.

“É fundamental ter rastreabilidade do que se faz, mas muitos não consideram isso importante ou relevante. Quando termina a tese do aluno, ele coloca o caderno debaixo do braço e vai embora, leva pra casa. O aluno que vem continuar aquele projeto, por vezes, precisa repetir muitos experimentos, às vezes até começar do zero. Isso porque ele não sabe onde estão os parasitas, onde estão os clones de DNA, as anotações etc. “Estamos implementando iniciativas de padronização no LNBio para aumentar a integração entre projetos e otimizar o uso de recursos”, acrescenta.

Banco de linhagens celulares

“Precisamos de mais iniciativas de repositórios de células e linhagens de microorganismos, de cepas de referências. Eu tive muita dificuldade de conseguir um estoque de vírus da dengue, por exemplo. Trabalhei com a doença na Coreia do Sul. Quando cheguei ao Brasil para buscar amostras, no entanto, levei seis meses para conseguir. Nem todos querem dividir”, afirma.

Para ele, também é preciso priorizar mais a meritocracia no meio científico brasileiro, além de começar a desenvolver parcerias entre universidades e empresas privadas para o financiamento de estudos. O cientista acredita que, com ajustes, o Brasil tem todas as condições de melhorar substancialmente a eficiência e os trabalhos desenvolvidos, além de reduzir os custos.

Curso

A integração entre pesquisadores de diferentes áreas relacionadas foi tema da São Paulo SchoolofAdvanced Science onNeglectedDiseasesDrug Discovery – Focus onKinetoplastids (SPSAS-ND3). O evento reuniu em Campinas (SP), entre os dias 14 e 24 de junho, 40 palestrantes e 87 estudantes das principais áreas envolvidas no processo de descoberta de drogas: química; farmacologia e modelos animais; parasitologia e screening (“triagem”) de novos compostos com ação biológica antiparasitária.

Os alunos foram divididos em quatro categorias, onde tiveram a oportunidade de conhecer todas as áreas de pesquisa. “Só quando você reconhece a dificuldade do outro que se entende a importância de trabalhar em conjunto. Esse foi um objetivo do curso. Mostrar que não se deve tentar fazer uma iniciativa de descobrir e otimizar candidatos a fármacos sozinho, e que são necessários diferentes especialistas para conseguir chegar a um composto apto a prosseguir para os estudos pré-clínicos”, disse o Dr. Lucio.

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Brazil has a great potential to produce its own drugs, taking advantage of the Countrys biodiversity, the experience developing researches and formation programs

Brazil has leading-edge scientists and is affected by great part of the worlds neglected diseases, such as dengue and Chagas, what eases the development of studies. So, why is the country still not a reference producing drugs against these diseases? The answer may be the need to enhance work management, as integration between scientists from different fields.

This is the opinion from doctors Lucio Freitas, from the National Bisciences Lab (LNBio), and Eric Chatelain, head of the New Drugs Discovery department at the non-profit organization Drugs for Neglected Diseases Initiative (DNDi). The researchers advocate for the development of partnerships between scientists from different fields with the same goal: drug development.

The discovery of drugs involves subjects as biology, synthetic and medicinal chemistry, pharmacology and research with animal models. This is a multidisciplinary task and during academy, many times the responsible professor wants to perform the whole process, explains Dr. Lucio, adding it lacks integration among researchers.

Researchers must be in touch, learning from the others mistakes and, also, with the success cases. This would enhance the Brazilian production in the field, believes.

This thought is similar to what Dr. Eric defends. This idea of partnerships must be reinforced, especially during academy. All partners involved in the discovery process must pull the strings in the same direction with a common goal: obtain a drug! So, basically, the ego must be put aside and gather more teamwork, he said.

Still according to Dr. Eric, Brazil has a great potential for the production of its own drugs, taking advantage of the Countrys biodiversity, the experience in research development and the formation programs.

Work History

Dr. Lucio is favorable that funded researches should obtain a full registry of the work development, reporting about the achieved results. This would decrease, for instance, the duplication of restart of studies from zero. He still considers the country should obligate the use of lab notebooks to ensure the international rules for proof of intellectual property – as a log of all activities and results of the research in a book with numbered pages, and revised by a colleague who is not directly involved with the research.

It is fundamental to have traceability of what is done, but many do not consider this important or relevant. When the students thesis is done, he puts the notebook under his arm and leaves, taking it home. The student to continue that project, many times, needs to repeat several experiments, or even start from scratch. This happens because he does not know where the parasites are, where the DNA clones are, the annotations, etc. We are implementing standardization initiatives at the LNBio to increase the integrations between projects and optimize resources, he adds.

Cell lines bank

We need more initiatives of cell repository and microorganism lineages, from reference strains. I had great trouble obtaining a supply of dengue virus, for example. I worked with the disease in South Korea. When I arrived in Brazil to collect samples, however, it took me six months to gather. Not everyone is willing to share, he said.

For him, Brazils academy meritocracy must be prioritized, besides developing partnerships between universities and private companies for study funding. The scientist believes that, with some adjustments, Brazil has all conditions to substantially enhance the efficiency and developed works, besides reducing costs.

Course

The integration among researchers from different related fields was theme of the São Paulo School of Advanced Science on Neglected Diseases Drug Discovery – Focus on Kinetoplastids (SPSAS-ND3). The event took place in Campinas (SP), from June 14 to 24 and gathered 40 speakers and 87 students from the main areas of the drug discovery process: chemistry, pharmacology and animal models; parasitology and screening of new anti-parasite biological action compounds.

The students were divided in four categories, where they had the opportunity to understand all research areas. Only after you acknowledge the troubles faced by the others is that you understand how important it is to work in teams. This was the courses goal. Evidence that we should not involve in an initiative to discover and optimize drug candidates by ourselves, and that different experts are important to reach a compound able to reach pre-clinical studies, said Dr. Lucio.