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Coronavírus: população teme pandemia mundial

Cientistas ao redor do mundo buscam vacina contra o nCoV. Entretanto, ela deve passar por testes iniciais em animais, o que pode levar meses até serem completados

07/02/2020
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No dia 21 de janeiro a Opas emitiu alerta para os países das Américas, recomendando que os profissionais de saúde tenham acesso a informações atualizadas sobre a doença e estejam prontos para manejar a infecção

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou nesta no dia 30 de janeiro, em Genebra, na Suíça, que o surto do novo coronavírus (2019-nCoV) constitui uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII). Atualmente, há casos em vários países. A entidade enquadrou situações nessa categoria com a gripe H1N1, em 2009, o vírus Zika, em 2016, e a febre Ebola, que devastou parte da África ocidental de 2014 a 2016. A OMS enviou diretrizes para hospitais de todo o mundo sobre prevenção e controle de infecções. O novo vírus começou a gerar mais temores após a notícia de que é transmissível entre humanos e de ter chegado a vários países, elevando as preocupações de uma pandemia no planeta. Vários aeroportos do mundo passaram a adotar procedimentos de controle sistemático nas chegadas de voos procedentes das zonas de riscos. O vírus misterioso também virou fator de risco para os mercados mundiais.

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) emitiu, no dia 21 de janeiro, um alerta aos seus países-membros recomendando que os profissionais de saúde tenham acesso a informações atualizadas sobre a doença, estejam familiarizados com os princípios e procedimentos para manejar infecções e sejam capacitados a obter informações sobre o histórico de viagens de um paciente, a fim de conectar essas informações aos dados clínicos. O comunicado recomenda que as autoridades nacionais revisem as ações consideradas em resposta à disseminação do SARS-CoV em 2003. “As autoridades nacionais devem adaptar os manuais e adotar medidas proporcionais ao risco atual, diz o documento. Ele também ressalta que não há evidências que sugiram que a transmissão de pessoa para pessoa ocorra facilmente. Por fim, a OPAS afirma que os países-membros devem fortalecer as atividades de vigilância ativa para detectar eventos incomuns, casos que possam ser considerados suspeitos (especialmente em viajantes) e evitar a proliferação do novo coronavírus nas Américas.

O vírus que surgiu na província de Wuhan, no centro da China, no final de 2019, se espalhou para metrópoles chinesas como Pequim e Xangai, Hong Kong, e atinge cerca de 30 países e territórios. Até o dia 09 de fevereiro, 812 pessoas morreram na China pelo coronavírus, superando as mortes causadas pela SARS há quase duas décadas. Até essa data, os casos confirmados em todo o mundo chegavam a 37.558, sendo 37.251 na China, que registrou quase todas as mortes. Especula-se que um mercado de frutos do mar da província de Wuhan, que tem uma população de 11 milhões de pessoas, tenha relação com os primeiros casos registrados. O país isolou cerca de 20 milhões de pessoas na região. O novo vírus que começou a se espalhar pelo mundo gera mobilização das autoridades sanitárias internacionais. Como medida de proteção diante do alto número de casos, o governo da capital chinesa decidiu cancelar as festas populares que estavam previstas para a celebração do Ano Novo chinês. Todos os anos, milhares de habitantes de Pequim se espalham por parques e espaços públicos para assistir aos tradicionais bailes do leão e do dragão.

Segundo a OMS, o ataque do novo coronavírus ainda não atingiu seu pico. Em entrevista coletiva, o diretor executivo de emergências de saúde na OMS, Dr. Mike Ryan, alertou que mais casos e mortes provavelmente surgirão. Segundo ele, o surto ainda está evoluindo. Em 22 de janeiro, especialistas britânicos do Imperial College de Londres estimaram que cerca de 4 mil pessoas em Wuhan provavelmente serão infectadas e, na pior das hipóteses, esse número pode estar próximo de 9.700. O diretor geral da OMS, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que a situação é uma emergência na China, mas ainda não se tornou uma emergência de saúde global – ainda pode se tornar uma. “Estamos completamente comprometidos em acabar com esse surto o mais rápido possível e não hesitarei em reunir novamente o comitê a qualquer momento, acrescentou. Em 23 de janeiro, o comitê de emergência decidiu que era muito cedo para considerar o surto uma crise de saúde global devido ao número limitado de casos.

Questionado sobre os riscos de uma pandemia global, o Presidente da Sociedade e Política de Saúde da China e Professor de Política e Economia de Saúde Escola de Saúde Pública de Yale, Dr. Xi Chen, explica que vários países já registraram casos do novo coronavírus e tendo em vista um maior nível de globalização em relação ao ano de 2003, durante a SARS, mais países podem vir a identificar casos. Mas o professor é otimista ao dizer que a China e o mundo estão mais preparados para lidar com o nCoV do que antes. “As autoridades chinesas têm sido eficientes na identificação de casos, sequenciando o genoma do patógeno e liberando-o para a comunidade científica”, destaca.

Em relação a novos casos, o Dr. Chen admite que os turistas chineses poderiam levar o nCoV para muitos outros países da Ásia dado o festival da primavera, que tem sido um feriado importante para muitos países asiáticos, incluindo Vietnã, Tailândia e Coréia, evento cancelado pelo governo Chinês. A mobilidade nesses países também pode aumentar a chance de infecção. Ainda de acordo com o Dr. Chen, as infecções provavelmente podem ter sido subestimadas devido ao diagnóstico incorreto e ao subdiagnóstico, por exemplo. “Outras cidades podem subnotificar, pois têm menos experiência com o vírus. Entretanto, com o compartilhamento de informações, eu esperaria uma chance menor de subnotificação”, acrescenta. Para ele, o alto custo dos testes de diagnóstico pode ter contribuído para a subnotificação. “Essa foi a razão pela qual, no início, apenas pessoas associadas a Wuhan foram encontradas infectadas. Quando o teste se torna mais acessível, por exemplo, através de subsídios do governo, grupos de pessoas mais representativos podem ser testados”, conclui.

Cientistas pesquisam vacina contra o novo coronavírus

Cientistas ao redor do mundo têm trabalhado em busca de uma vacina contra o nCoV. Entretanto, a solução deve passar por testes iniciais em animais, o que pode levar meses até serem completados, ou seja, talvez leve mais de um ano até que as pessoas recebam a vacina.

O laboratório da Inovio em San Diego (Califórnia) é um dos locais onde a vacina está sendo desenvolvida e os cientistas esperam ter o produto pronto para ser testado em humanos no início do verão e já lhe deram um nome: “INO-4800”. A equipe responsável pelo desenvolvimento da vacina utiliza uma nova tecnologia de DNA e trabalha com uma empresa de biotecnologia de Pequim.

Cientistas norte-americanos e russos também têm realizado pesquisas. O Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês) pesquisa o desenvolvimento de uma vacina e, de acordo com o diretor do setor de alergia e doenças infecciosas, Dr. Anthony Fauci, está perto de dar os primeiros passos para o desenvolvimento dela. Ele disse ainda que levará alguns meses até o início da primeira fase dos ensaios clínicos e mais de um ano até que ela esteja disponível aos pacientes.

Enquanto isso, cientistas da China e dos Estados americanos do Texas e de Nova York trabalham juntos para criar uma vacina. Segundo o pesquisador e especialista em imunização Peter Hotez, a lição aprendida é que as infecções por coronavírus são graves e uma das maiores e mais novas ameaças à saúde global. Ele declarou ainda que é mais fácil desenvolver uma vacina contra coronavírus do que contra outros vírus, como HIV e Influenza. Todos os vírus têm seus desafios, mas os coronavírus podem ser um alvo relativamente simples para criar vacinas, enfatizou.

O governo da Rússia também garantiu que o Ministério da Saúde do país está estudando uma vacina contra o coronavírus e entrou em contato com pesquisadores chineses para obter material biológico para começar a investigação com essa finalidade. Começamos a trabalhar com a vacina, mas precisamos resolver questões fundamentais. Primeiro, precisamos de um modelo animal apropriado. Em segundo lugar, precisamos do vírus vivo, destacou o vice-ministro da Saúde, Sergey Krayevoy.

De acordo com o microbiologista e médico, Dr. Yuen Kwok-yung, pesquisadores de Hong Kong desenvolveram uma vacina que pode curar as pessoas infectadas pelo coronavírus. Entretanto, mesmo com o desenvolvimento em estágio avançado, ela ainda precisa ser testada em animais, o que pode atrasar a distribuição às pessoas. Ainda segundo ele, a vacina possui chances de ser baseada em uma versão considerada inativa do vírus, o que poderia resultar em sintomas mais graves caso pessoas sejam vacinadas e, em seguida, forem contaminadas.

Sobre o novo coronavírus

O nCoV é uma nova cepa que ainda não havia sido identificada em humanos. O principal sintoma do coronavírus chinês é febre elevada, que pode vir acompanhada de tosse, aperto no peito e dificuldade em respirar. Alguns pacientes examinados tinham líquidos nos pulmões, caracterizando pneumonia viral e derrame pleural. As recomendações para evitar o contágio são semelhantes à prevenção da gripe e do coronavírus da SARS: manter boa higiene das mãos, utilização de máscaras médicas em caso de tosse, evitar ambientes fechados e com multidões. Segundo alguns especialistas, o vírus pode não ser tão mortal quanto outros coronavírus, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), que matou quase 800 pessoas durante um surto de 2002 a 2003, também originário da China.

Sobre o vírus coronavírus – CID10

Os coronavírus (CoV) são uma grande família viral, conhecidos desde meados dos anos 1960, que causam infecções respiratórias em seres humanos e em animais. Geralmente, infecções por coronavírus causam doenças respiratórias leves a moderada, semelhantes a um resfriado comum. A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem. Os coronavírus comuns que infectam humanos são alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.

Alguns coronavírus podem causar síndromes respiratórias graves, como a síndrome respiratória aguda grave que ficou conhecida pela sigla SARS da síndrome em inglês “Severe Acute Respiratory Syndrome”. SARS é causada pelo coronavírus associado à SARS (SARS-CoV), sendo os primeiros relatos na China em 2002. O SARS-CoV se disseminou rapidamente para mais de doze países na América do Norte, América do Sul, Europa e Ásia, infectando mais de 8.000 pessoas e causando em torno de 800 mortes, antes da epidemia global de SARS ter sido controlada em 2003. Desde 2004, nenhum caso de SARS foi notificado mundialmente.

Em 2012, foi isolado outro novo coronavírus, distinto daquele que causou a SARS no começo da década passada. Esse novo coronavírus era desconhecido como agente de doença humana até sua identificação, inicialmente na Arábia Saudita e, posteriormente, em outros países do Oriente Médio, na Europa e na África. Todos os casos identificados fora da Península Arábica tinham histórico de viagem ou contato recente com viajantes procedentes de países do Oriente Médio – Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes e Jordânia. Pela localização dos casos, a doença passou a ser designada como síndrome respiratória do Oriente Médio, cuja sigla é MERS, do inglês “Middle East Respiratory Syndrome” e o novo vírus nomeado coronavírus associado à MERS (MERS-CoV).

Manifestações Clínicas

Os coronavírus humanos comuns causam infecções respiratórias leves a moderadas de curta duração. Os sintomas podem envolver coriza, tosse, dor de garganta e febre. Esses vírus algumas vezes podem causar infecção das vias respiratórias inferiores, resultando em pneumonia. Esse quadro é mais comum em pessoas com doenças cardiopulmonares, com sistema imunológico comprometido ou em idosos.

O MERS-CoV, assim como o SARS-CoV, causam infecções graves. Para maiores informações sobre as manifestações clínicas do MERS-CoV, acesse a página sobre MERS-CoV.

Período de incubação

De 2 a 14 dias

Período de Transmissibilidade

De uma forma geral, a transmissão viral ocorre apenas enquanto persistirem os sintomas. É possível a transmissão viral após a resolução dos sintomas, mas a duração do período de transmissibilidade é desconhecido para o SARS-CoV e o MERS-CoV. Durante o período de incubação e casos assintomáticos não são contagiosos.

Transmissão inter-humana

Todos os coronavírus são transmitidos de pessoa a pessoa, incluindo os SARS-CoV, porém sem transmissão sustentada. Com relação ao MERS-CoV, a OMS considera que há atualmente evidência bem documentada de transmissão de pessoa a pessoa, porém sem evidências de que ocorre transmissão sustentada.

Modo de Transmissão

De uma forma geral, a principal forma de transmissão dos coronavírus se dá por contato próximo de pessoa a pessoa.

Definição de contato próximo: Qualquer pessoa que cuidou do paciente, incluindo profissionais de saúde ou membro da família; que tenha tido contato físico com o paciente; tenha permanecido no mesmo local que o paciente doente (ex.: morado junto ou visitado).

Fonte de infecção

A maioria dos coronavírus geralmente infecta apenas uma espécie animal ou, pelo menos um pequeno número de espécies proximamente relacionadas. Porém, alguns coronavírus, como o SARS-CoV podem infectar pessoas e animais. O reservatório animal para o SARS-CoV é incerto, mas parece estar relacionado com morcegos. Também existe a probabilidade de haver um reservatório animal para o MERS-CoV que foi isolado de camelos e de morcegos.