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Devemos publicar sobre Medicina Tropical nos países mais interessados

Doutor Marcos Boulos defende que publicações nacionais recebam recursos públicos, já que não é possível sustentá-las apenas com contribuições

06/06/2017
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Não é comum que as revistas brasileiras tenham impacto muito grande. Talvez por falta de financiamento, talvez por falta de profissionalismo

As pesquisas de doenças tropicais interessam mais a quem: aos países ricos ou aos pobres? A resposta pode parecer óbvia, mas traz consigo questões importantes. “Os pesquisadores, para terem o seu currículo com maior aprovação, acabam optando por revistas de impacto se o trabalho for muito bom”, afirma o infectologista Marcous Boulos.

Em entrevista à assessoria de comunicação da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), o doutor Boulos defende que as pesquisas sobre Medicina Tropical sejam publicadas nos países interessados. No entanto, ele destaca que as revistas locais precisam de mudanças para que tenham maior impacto. “Não é comum que as revistas brasileiras tenham impacto muito grande. Talvez por falta de financiamento, talvez por falta de profissionalismo. E nos demais países tropicais também”, disse.

Confira a entrevista na íntegra:

SBMT: Publicar sobre Medicina Tropical nos países mais interessados no tema deveria ser o ideal? Ou chamar a atenção para o tema nas revistas mais conceituadas é o melhor caminho?

Dr. Marcos Boulos: Nós devemos publicar sobre Medicina Tropical nos países mais interessados. Porque a maior parte do conteúdo diz respeito às pessoas que lidam com essas doenças. No entanto, isso não acontece. Os pesquisadores, para terem o seu currículo com maior aprovação, acabam optando por revistas de maior impacto se o trabalho for muito bom.

SBMT: O que falta, em sua opinião, para que pesquisadores publiquem mais estudos de impacto nas revistas de países tropicais?

Dr. Marcos Boulos: Falta que as revistas tenham um impacto maior. E, para elas terem impacto maior, precisam ter uma série de coisas. Primeiro, a publicação deve ser em inglês. Segundo, que ela de fato tenha artigos conceituados, que são muito lidos e tenham uma abrangência muito grande. Por isso que nós, no Brasil, temos poucas revistas que se comparem com as maiores revistas internacionais. Mas temos algumas boas.

SBMT: As publicações nos países tropicais deveriam receber mais apoio por meio de recursos públicos?

Dr. Marcos Boulos: Sim. As revistas nos países tropicais deveriam receber maior recurso público porque nós não conseguimos, através apenas de contribuições, de pagamentos e sócios, que as publicações possam ter uma qualidade maior. Por isso, creio que o financiamento público ajudaria muito.

SBMT: É possível as publicações de países tropicais se tornarem referências em curto prazo?

Dr. Marcos Boulos: É muito pouco provável. Elas podem ser referência especificamente nos países onde forem publicadas. Principalmente se o tema está relacionado a condutas. Por exemplo, o tratamento de uma doença tropical, que interessa às pessoas que ali estão, então pode ser referência. Aí nós temos a revista da SBMT, que às vezes é referência por ter assuntos práticos de utilização de vários médicos e profissionais da área da saúde.

SBMT: Na sua avaliação, há publicações no Brasil capazes de rivalizar em pesquisas de impacto com revistas internacionais? E nos demais países tropicais?

Dr. Marcos Boulos: É difícil dizer isso. Nós temos muitos trabalhos que são importantes. E algumas publicações podem chegar a ser referidas por pesquisadores em outros países. Mas não é comum que as revistas brasileiras tenham impacto muito grande. Talvez por falta de financiamento, talvez por falta de profissionalismo. E nos demais países tropicais também. A dificuldade é ter revistas de alto impacto nessas nações – a não ser na Austrália, se a gente considerá-la como país tropical, onde tem algumas publicações de impacto.