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Dia mundial de combate à hanseníase – Janeiro Roxo

O Brasil é responsável por aproximadamente 15% dos casos novos globais, ocupando a 2ª posição do mundo – aproximadamente 30.000 casos novos anuais

08/01/2021

width=440Desde 2020, as manchetes no mês de janeiro têm sido dominadas pela COVID-19, deslocando o olhar de outros problemas de saúde pública, como a hanseníase. Anualmente, no último domingo do mês de janeiro, é lembrado o Dia Mundial contra a Hanseníase e no dia 31 de janeiro é o Dia Nacional de Combate e Prevenção da Hanseníase, data instituída no Brasil pela Lei nº 12.135/2009 – o Janeiro Roxo

A hanseníase persiste como problema de saúde pública global, sendo responsável por aproximadamente 200.000 casos novos diagnosticados em todo o mundo anualmente. Além disto, milhões de pessoas ainda convivem com algum tipo de incapacidade física ou deficiência em decorrência da doença.

É uma doença infecciosa causada por um bacilo, Mycobacterium leprae, que se multiplica lentamente resultando em um período de incubação da doença, em média, de 5 anos. É provavelmente transmitida por gotículas, do nariz e da boca, durante o contato próximo e frequente com casos não tratados com a poliquimioterapia (PQT). Os sintomas podem ocorrer dentro do 1º ano, mas também podem levar até 20 anos ou até mais para se expressarem. Ressalta-se que a hanseníase é curável com a PQT, um tratamento gratuito no Sistema Único de Saúde (SUS).

Os sinais e sintomas mais frequentes da hanseníase são [https://youtu.be/mYUtdN0MJnA]:

  • lesão(ões) (manchas) e/ou área(s) da pele com alteração da sensibilidade térmica (ao calor e frio) e/ou dolorosa (à dor) e/ou tátil (ao tato);
  • comprometimento do(s) nervo(s) periférico(s), geralmente espessamento (engrossamento), associado a alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas;
  • Áreas com diminuição dos pelos e do suor;
  • Áreas do corpo com sensação de formigamento e/ou fisgadas;
  • Diminuição e/ou ausência da força muscular na face, mãos e pés;
  • Caroços (nódulos) no corpo, em alguns casos avermelhados e dolorosos.

Saiba mais: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z-1/h/hanseniase

A doença é primariamente neural, afetando principalmente a pele, os nervos periféricos, a mucosa do trato respiratório superior e os olhos. Trata-se de uma condição crônica negligenciada que tem implicações críticas para as pessoas acometidas tanto físicas, como danos progressivos e permanentes à pele, nervos, membros e olhos gerando incapacidade física e deficiência, quanto sociais, como estigma, preconceito e restrição à participação social. Está fortemente associada às condições de pobreza e vulnerabilidade social, potencializando o contexto de exclusão social. Ressalta-se que mulheres e crianças são particularmente vulneráveis às “sequelas” sociais e econômicas da doença.

A superação do grave impacto individual e coletivo da hanseníase vai além do diagnóstico precoce e tratamento oportuno, alinhados à prevenção de incapacidade física. Além disto, requer uma mudança de mentalidade para que a doença não seja mais uma fonte de medo, vergonha ou preconceito. O acesso aos serviços de saúde deve estar garantido, com qualidade, com vistas ao alcance dos direitos humanos em uma vida com dignidade dentro da sociedade.

A prevenção da doença passa pelo diagnóstico precoce, o tratamento oportuno e a investigação de contatos que convivem ou conviveram, residem ou residiram, de forma prolongada, com caso novo diagnosticado de hanseníase. Abordagens centradas nas pessoas acometidas, integrando imunoprofilaxia (vacina BCG) e quimioprofilaxia têm sido adotadas com êxito mais recentemente. Outros estudos seguem com o foco de eliminar a transmissão da doença até 2030.

Memória

Registrou-se em maio de 2020 o falecimento de Manuel Matias do Nascimento, que atuou no município de Fortaleza, Ceará, na condução do Grupo de Amigos e Portadores de Hanseníase (GAPH). Após dias de internação, Manuel faleceu no dia 20 de maio.

Manuel foi um exemplo de liderança construída a partir das dores e dificuldades trazidas pela hanseníase. Em sua simplicidade, buscou reunir pessoas acometidas para a partilha de vivências e o combate ao preconceito associado à doença.

Membro do Fórum Social Brasileiro para o Enfrentamento de Doenças Infecciosas e Negligenciadas, durante o Congresso da SBMT em 2019, participou dos módulos do Curso de Fortalecimento de Lideranças junto com demais pessoas à frente de movimentos de enfrentamento às doenças tropicais negligenciadas no Brasil. Buscava estratégias para promover o empoderamento individual dos integrantes do GAPH em uma perspectiva psicossocial, fortalecendo a conscientização da população sobre hanseníase.