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Doença de Chagas: um assunto não resolvido

Apesar de não ser tão conhecida como malária e cólera, a doença de Chagas afeta entre seis e sete milhões de pessoas, matando mais de 12.500 por ano

09/01/2017
dr-coura

A demora do diagnóstico e do tratamento pode levar a morte na forma aguda da doença

Em 2006, o Brasil recebeu da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) a Certificação Internacional de Eliminação da Transmissão da Doença de Chagas por seu principal vetor. Mas nos últimos anos o cenário mudou. Em apenas sete meses, o número de casos comprovados de doença, somente no Acre, aumentou mais de 200% em relação ao registrado durante todo o ano de 2015. No Pará, as notificações também preocupam. Entre janeiro e setembro de 2016, foram registrados 127 casos, com duas mortes no município de Barcarena, no nordeste do estado. O açaí contaminado é tido como a principal forma de transmissão.

O professor, médico e pesquisador José Rodrigues Coura, atualmente, um dos mais importantes experts em doença de Chagas, explica que o inóculo do T.cruzi na transmissão por via oral (açaí) em geral é muito grande e o quadro clínico é em geral bastante grave e às vezes fatal. “A demora do diagnóstico e do tratamento pode levar a morte na forma aguda da doença”, alerta. Para ele, a vigilância e o controle da doença de Chagas na Amazônia devem ser incentivados para ser mais rápido e efetivo, principalmente para o diagnóstico e para o tratamento, principalmente da forma aguda da doença. “É fundamental treinar agentes em todas as Unidades de Saúde da Região Amazônica, com experiências na vigilância, no diagnóstico e no tratamento, como ocorre no caso da malária”, complementa. Doutor Coura aponta que o Consenso nesse aspecto deve ser ampliado.

O Consenso Brasileiro em Doença de Chagas 2015 representa uma referência importante, ao revisar e atualizar o conteúdo de sua primeira versão, publicada em 2005. A elaboração foi viabilizada pela colaboração entre a Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT) e o Ministério da Saúde, e contou com a participação de especialistas brasileiros com vasta experiência. Espera-se com este documento fortalecer o desenvolvimento de ações integradas para o enfrentamento da doença no País com foco em epidemiologia, gestão, atenção integral (incluindo famílias e comunidades), comunicação, informação, educação e pesquisas.