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Editor da RSBMT defende valorização das pesquisas publicadas nas revistas nacionais

Dr. Dalmo Correio Filho defende mudança na política adotada por órgãos de fomento brasileiros, que priorizam publicações em periódicos internacionais com alto fator de impacto

09/05/2017
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As pesquisas publicadas em revistas nacionais não podem ser inabilitadas. Pelo contrário, deveriam ser valorizadas e incentivadas

O fortalecimento das publicações de artigos originais sobre doenças tropicais e negligenciadas é um dos desafios da Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (RSBMT), assim como a necessidade de cobrar dos órgãos federais o fomento para a produção técnico-científica. É o que acredita o editor da publicação, doutor Dalmo Correia Filho. Ele afirma que a independência da RSBMT é seu maior patrimônio, já que a revista está apta a receber contribuições de toda comunidade científica, sempre seguindo os preceitos éticos, cujos conteúdos publicados são 100% gratuitos e estão disponíveis online.

Apesar de a RSBMT ser uma referência tanto no Brasil quanto no exterior, o Dr. Dalmo mostra-se preocupado quanto à política adotada em relação às publicações científicas em periódicos nacionais. “É uma realidade que órgãos reguladores/avaliadores e que classificam os periódicos científicos nacionais exercem pressão sobre os cursos de pós-graduação (mestrado, doutorado e pós-doutorado), exigindo que, para serem melhor avaliados e qualificados os pesquisadores têm de publicar em revistas internacionais. O fator de impacto é simplesmente o que está sendo avaliado, enquanto o fomento para a pesquisa de modo geral é drasticamente reduzido”, lamenta.

“As pesquisas publicadas em revistas nacionais não podem ser inabilitadas. Pelo contrário, deveriam ser validadas e valorizadas. E os cursos não podem ser prejudicados por causa disso”, afirma o editor. Ele acredita que essa política precisa e deve ser mudada, já que ela pode decretar a falência das publicações científicas no Brasil. Além disso, somente o fator de impacto não reflete a qualidade técnico-científica do que está sendo publicado. Outros indicadores podem e devem ser utilizados nesse processo Em entrevista concedida em 25/05/2015, o Editor Chefe da revista “The Lancet” informou que quase 50% das pesquisas publicadas nas revistas médicas – inclusive as de alto fator de impacto – podem ser falsas. Outros problemas são o plágio e a redundância na publicação.

E o problema vai além, como as descobertas sobre a epidemia de Zika no Brasil sendo publicadas em periódicos de alto impacto internacional. “A maioria esmagadora desses artigos deveria ser publicada em nossas revistas, porque aqui é que a população padece. Temos que ter suficiência técnico-científica para buscar as soluções em parceria, sem deixar que essa parceria imperialista e extrativista venha para cá”, explica o editor.

O médico destaca ainda que é preciso ampliar o auxílio às publicações nacionais, além de apoiar as pesquisas na origem. “Temos que garantir, ainda, fomento para as revistas se manterem, e que órgãos como o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) fomentem os periódicos científicos nacionais e não simplesmente empregue rios de dinheiro em outros países a fundo perdido por um viés político, sem preocupação com a pesquisa científica e inovação tecnológica fundamentais para a autonomia técnico-científica de nosso País”, diz.

Prioridades

A revista da SBMT é um dos periódicos que tem valorizado a produção de pesquisas nacionais. O periódico, criado em 1967, tem prestado enorme contribuição à comunidade científica nacional e internacional, na divulgação de artigos científicos sobre as doenças tropicais e negligenciadas. Os periódicos científicos nacionais contribuem de modo decisivo para a formação de um sistema acadêmico e autônomo de divulgação dos resultados de pesquisas científicas relevantes.

“Ela tem como missão dar prioridade a publicação desses assuntos. Não entendemos que há privilégio, mas necessidade de divulgar problemas e doenças que afligem nossa sociedade. É importante ressaltar que a emergência de doenças como a dengue e, agora, a chikungunya e a zika, mudaram a prioridade de publicação”, aponta o doutor Dalmo. As prioridades são estabelecidas a cada ano, conforme decisão em assembleia da SBMT e do Conselho Editorial da revista.

As agências de fomento no Brasil, especialmente a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e os editores de periódicos científicos nacionais concordam que é preciso valorizar as revistas científicas nacionais por meio de um processo de avaliação mais amplo, onde outros indicadores sejam adotados permitindo uma avaliação mais individualizada a partir do escopo de cada periódico e da interpretação dos seus indicadores bibliométricos. Este processo de avaliação permitirá que periódicos científicos nacionais classificados como de bom padrão editorial, sejam reconhecidos por essas agências e atraiam o interesse dos pesquisadores nacionais que terão a certeza de que publicando nessas revistas sua produção científica será valorizada.

“Reconheço o importante papel desempenhado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), ao manter seus programas de apoio aos periódicos científicos nacionais, por meio de editais específicos de fomento à editoração e publicação de periódicos científicos nacionais, cujo auxílio financeiro recebido tem sido de inexorável importância para a elevação do nível técnico-científico e a manutenção da periodicidade de publicação dos números da RSBMT com acesso “online” 100% aberto e sem cobrar nenhuma taxa dos autores”, finaliza o editor da revista.