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Exposição ao sêmen pode aumentar resistência ao HIV em mulheres, diz estudo

Pesquisador, no entanto, destaca que trabalho não visa incentivar relações sexuais sem uso de preservativo, o que aumenta o risco de contrair o vírus e outras doenças sexualmente transmissíveis

11/01/2016
Descobertas

Descobertas podem abrir caminho para melhorar estratégias de prevenção e futuros estudos de vacinas contra o vírus

Entre as mulheres, as profissionais do sexo são as mais vulneráveis às infecções ao vírus HIV. No entanto, algumas delas vêm intrigando à ciência por demonstrarem uma capacidade incomum de resistência ao vírus, especialmente entre as que não usam preservativos com frequência. O mistério, no entanto, pode estar próximo do fim a partir de um estudo  realizado em San Juan, em Porto Rico.

De acordo com os cientistas do Instituto Wistar, que desenvolveram o trabalho em parceria com pesquisadores da Universidade de Porto Rico, essas mulheres podem experimentar mudanças no organismo, como alterações nos seus sistemas imunes. A hipótese é que a exposição ao sêmen aumente a resistência ao vírus HIV.

O trabalho foi feito com profissionais do sexo que atuam em San Juan. Os dados mostraram que as fizeram sexo desprotegido com homens tiveram menor prevalência do vírus do que as que tiveram relações usando preservativo.

O resultado permitiu aos pesquisadores identificar um grupo de mulheres que tiveram uma maior expressão de uma proteína responsável por proteger a vagina de infecções virais e bacterianas. Mas o que realmente surpreendeu os cientistas é que os níveis elevados de ativação desta proteína foram relacionados com o número de atos sexuais sem preservativo, mostrando que o sêmen pode aumentar a expressão da proteína protetora no sistema reprodutor feminino.

Observou-se ainda menores taxas de ativação imune no sangue e no tecido da mucosa destas mulheres – aspecto importante, uma vez que sistemas imunes ativados ajudam o vírus a se espalhar pelo organismo. Além disso, elas apresentaram baixos níveis de expressão de genes necessários para que o HIV infecte o sistema imune de uma pessoa, como as células CD4, e sobreviva.

[A pesquisa] indica claramente que as mulheres estão equipadas para ativar mecanismos de resistência, explica o doutor Luis Montaner, diretor do Laboratório de HIV Imunopatogenia do Instituto Wistar e autor sênior do trabalho.

Apesar das importantes descobertas, o doutor Montaner ressalta que o trabalho não visa incentivar o sexo sem preservativo, uma vez que esse fator aumenta o risco geral de infecção pelo vírus e outras doenças sexualmente transmissíveis. Ao invés disso, o estudo identifica os efeitos inesperados que a exposição ao sêmen, a longo prazo, podem ter sobre o colo do útero e a vagina. Isso pode reduzir mas não eliminar a probabilidade de infecção, afirmou. Além disso, as descobertas podem abrir caminho para melhores estratégias preventivas e futuros estudos de vacinas contra o HIV.