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Helmintex é o método de referência para comparação de desempenho com outros, diz Dr. Carlos Graeff-Teixeira

Estudo brasileiro revela alta sensibilidade do método Helmintex para detecção de ovos de Schistosoma mansoni e falha de desempenho do método rápido de detecção de antígenos na urina

07/05/2018
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Parasitoses serão eliminadas com melhor distribuição de renda, educação voltada à plena cidadania e efetiva igualdade na garantia dos direitos mais fundamentais à população

O estudo publicado recentemente na revista PLoS Neglected Tropical Diseases intitulado “Study of diagnostic accuracy of Helmintex, Kato-Katz, and POC-CCA methods for diagnosing intestinal schistosomiasis in Candeal, a low intensity transmission area in northeastern Brazil” revelou dois achados principais: primeiro a confirmação da alta sensibilidade do método Helmintex (HTX) para detecção de ovos de Schistosoma mansoni; segundo, a falha de desempenho do método rápido de detecção de antígenos na urina (POC-CCA) especialmente quanto menor foi a carga de ovos presentes nas fezes. De acordo com o mestre em Doenças Infecciosas e Parasitárias e doutor em Medicina Tropical, Carlos Graeff-Teixeira, um dos autores, o estudo destaca um dos papéis do Helmintex: o de servir como método de referência, para comparação de desempenho com outros métodos.

O pesquisador explica que a diferença fundamental do método Helmintex para o teste de Kato-Katz (KK) é a quantidade de fezes que são examinadas. “O KK examina 50 miligramas enquanto o HTX examina 30 gramas. Esta é a principal razão da maior sensibilidade do HTX. Embora muito sensível, o HTX é trabalhoso e caro quando comparado com o KK, muito simples e barato. Portanto, no estágio atual, o HTX não é um método para ser usado na rotina de diagnóstico, mas sim em trabalhos de pesquisa, especialmente para comparação de desempenho de outros métodos”, esclarece.

Iniciativas de controle reduziram com sucesso a prevalência e a intensidade da transmissão da esquistossomose em várias localidades ao redor do mundo. No entanto, indivíduos que liberam baixo número de ovos em suas fezes podem não ser detectados por métodos clássicos que são limitados pela baixa sensibilidade. Segundo o Dr. Graeff-Teixeira, isto se deve porque medidas de controle podem não eliminar o problema, mas reduzir sua intensidade, e as pessoas já não se infectam mais tão repetidamente ficando com poucos vermes que produzem poucos ovos. “Os métodos de detecção rápida de antígenos na urina, são os mais promissores para uso em campo. Igual aos testes para gravidez, quando se pinga uma gota de urina num orifício de um suporte plástico e o resultado é o aparecimento ou não de uma linha visível a olho nu, onde o antígeno presente na urina é detectado em uma membrana especialmente preparada”, detalha. Segundo o pesquisador, somente agora será possível avaliar adequadamente estes e outros métodos (sorologias, PCR), pois o HTX constitui um excelente método de referência, ou “padrão-ouro”. Dr. Graeff-Teixeira acrescenta ainda que os resultados do trabalho no sul de Sergipe mostram a necessidade de aprimoramento do POC-CCA ou método equivalente.

O Dr. Graeff-Teixeira adianta que já estão sendo trabalhadas melhorias adicionais para que um Helmintex menos intensivo em mão-de-obra seja testado em campo. “O Helmintex tem uma etapa inicial que é uma espécie de lavagem e exclusão de resíduos das fezes, através de vários procedimentos, chamada de etapa de concentração. Nesta etapa o volume de fezes examinada é reduzida de 30 gramas para aproximadamente 0,5 grama. A idéia é fazer um isolamento por diferença de tamanho dos resíduos num sistema fechado, mais limpo e mais rápido. Em colaboração com duas Universidades australianas: Queensland e Oeste da Austrália, foi desenvolvido também uma sonda capaz de gerar potente microgradiente magnético, para aumentar a eficácia de isolamento dos ovos. Na etapa final, que é de detecção ou identificação dos ovos, várias alternativas estão sendo estudadas, entre elas a indução da emissão de energia radiante a partir da superfície dos ovos, o que poderia dispensar o demorado exame ao microscópio”, assinala.

Planejamento de políticas públicas para eliminação de parasitoses como doenças de saúde pública no Brasil

Alguns países tropicais, como o Brasil, os programas de controle da esquistossomose levaram a uma redução significativa na prevalência e na carga parasitária de populações endêmicas. Questionado sobre a atual situação da esquistossomose e das helmintoses no Brasil, o Dr. Graeff-Teixeira lembra que a Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, coordenou um inquérito nacional que mostrou redução importante da ocorrência de parasitoses intestinais. “Os dados do Ministério mostram também em todo o País a redução das formas graves clássicas, como acometimento do fígado e baço. Então a situação, no geral, como também as condições de vida das populações, é de uma relativa melhora. Ao mesmo tempo, continua o potencial da esquistossomose ter expandida sua área de ocorrência, especialmente com o incremento das atividades de ecoturismo”, salienta.

Na opinião do especialista, as políticas públicas precisam ser políticas de Estado, traçadas e perseguidas ao longo de longos períodos que perpassem os curtos mandatos de governos temporários. Para ele, do ponto de vista prático, as carreiras do corpo técnico, precisam estar valorizadas e desatreladas das passageiras conjunturas politico-partidárias. “As parasitoses em geral e a esquistossomose em particular, serão eliminadas quando foram resolvidos três problemas fundamentais: a melhor distribuição de renda e ao mesmo tempo, uma educação voltada para a plena cidadania, e a efetiva igualdade na garantia dos direitos mais fundamentais para todos os brasileiros”, garante.