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Mesmo com recorde de pessoas em tratamento contra o HIV, é preciso novas estratégias para conter epidemia

Pesquisador defende foco na nova geração de brasileiros e retomar a mobilização social para o tema

12/02/2016
Jovens

Jovens estão apresentando taxas de incidência de HIV maiores do que as apresentadas pelas gerações das décadas de 1980 e 1990

Em janeiro deste ano, o governo federal divulgou que o número de pessoas em tratamento contra o HIV no Sistema Único de Saúde (SUS) aumentou em 97% – passando de 231 mil, em 2009, para 455 mil pessoas, no ano passado. Apesar de o indicador ser positivo em relação ao controle do vírus, a mobilização para o tema ainda precisa ser melhorada. Principalmente com a divulgação da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2015, de que o número de infectados pelo HIV diminuiu em todo mundo, mas aumentou no Brasil.

E o que estaria faltando para reduzir os índices no País? Segundo o doutor Alexandre Grangeiro, é preciso focar na nova geração de brasileiros que não conheceu a epidemia no seu auge e remobilizar a sociedade para o tema.

Para o doutor Alexandre, que é pesquisador do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo (USP), é necessário mudar a abordagem atual sobre a importância da prevenção. “É preciso utilizar técnicas de comunicação que estão mais próximas dessas novas gerações, e elas precisam ir além da questão do preservativo”, explica.

Ele destaca que os jovens estão apresentando taxas de incidência de HIV maiores do que as apresentadas pelas gerações das décadas de 1980 e 1990, quando houve o ‘boom’ da epidemia no planeta. “Ao que tudo indica, se mantiver essa tendência, vamos ter a partir de agora uma epidemia mais forte do que nós tivemos no passado”, aponta.

Quanto à mobilização em torno do HIV, o pesquisador acredita que há um empenho menor do tema por parte do Estado e da sociedade civil. “Temos vários setores que estão reduzindo essas ações, como educação. Isso ocorre exatamente no momento que a epidemia começa a ter mudança de comportamento, aumentando o número de casos”, alerta.

Importância do tratamento

Mesmo com necessidade de mudanças nas ações contra o HIV, o doutor Alexandre ressalta a importância do aumento do número de portadores do vírus em tratamento. Além disso, segundo o governo federal, 91% dos brasileiros adultos vivendo com HIV e Aids, em tratamento há pelo menos seis meses, já apresentam carga viral indetectável no organismo. O maior problema é que os índices de abandono de tratamento permanece muito alto.

Parte desse avanço deve-se à mudança de critério para iniciar o tratamento contra o vírus, que possibilitou ampliar o total de pessoas que vêm tomando o chamado “coquetel antiaids”. Com isso, reduz-se o número de pessoas na sociedade que pode transmitir involuntariamente o vírus, além de evitar que pessoas infectadas morram precocemente.

“Com a mudança do critério, a gente é capaz de ter impacto mais significativo. Ao diagnosticar e já vincular as pessoas ao tratamento, temos certa contribuição para evitar a disseminação do vírus, o que não tínhamos tanto nos anos anteriores”, explica o doutor Alexandre.

Grupos à margem

Outro aspecto ressaltado pelo pesquisador é a maior variedade de métodos preventivos atuais. Entre eles, a profilaxia pré-exposição (PrEP), que consiste no uso de um remédio antes da relação sexual, e da profilaxia pós-exposição (PEP) – a partir do uso de medicamentos antirretrovirais horas após a relação sexual.

O cientista afirma que o uso desse conjunto de métodos aumenta a proteção contra o vírus nos grupos que o utilizam, mas o problema está em outra direção: os que estão à margem dos serviços de saúde e dos métodos de prevenção.

“Acho que esses novos métodos não prejudicam a prevenção, só aumentam a opção daqueles que já estão motivados, daqueles que já estão engajados. Isso é bom, mas a gente continua um desafio de atingir aquelas outras pessoas que não estão motivadas para a prevenção”, conclui.