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Consumo da carne de macaco africano pode difundir novo vírus letal Consumption of African monkey meat may be spreading new

13/07/2012

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Pesquisadores acreditam estar acompanhando um salto de vírus entre espécies e, embora seja cedo para afirmar que se de trata de um vírus realmente perigoso aos humanos, a preocupação é pertinente

Estima-se que oitenta por cento da carne consumida em Camarões, que fica na costa oeste da África,  seja carne de caça. Os pratos preferidos no País são gorila, chimpanzé e macaco, por causa de sua carne tenra e suculenta. Acredita-se que cerca de 3 mil gorilas são abatidos, no sul de Camarões, a cada ano, para atender a essa demanda ilícita. A informação foi divulgada pelo jornal britânico The Independent. A reportagem alerta que o hábito pode trazer prejuízos à saúde. Três quartos de todos os novos vírus humanos são conhecidos por provir de animais, e alguns cientistas acreditam que os humanos são particularmente susceptíveis aos oriundos dos macacos. Defende-se que o vírus da imunodeficiência humana (HIV) tenha se originado dos chimpanzés.

“Atualmente, a hipótese mais aceita pela comunidade científica, para explicar o surgimento do HIV, afirma que isto ocorreu devido ao frequente contato entre o sangue de chimpanzés contaminados com um vírus muito similar ao HIV – variantes originadas do SIV (Vírus da Imunodeficiência Símia) – e feridas, geradas pela própria atividade de caça, de caçadores nas florestas da África Central”, explica Dra. Rúbia Medeiros, que atua na linha de pesquisa de Biologia Molecular Humana e de Microrganismos; Imunogenética de doenças autoimunes e Imunogenética Evolutiva na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Na avaliação da especialista, no fim do século passado, a exploração comercial da carne de macaco na África propiciou a propagação do HIV pelo mundo. “Há diversas evidências que apoiam essa hipótese, porém é impossível determinar com exatidão como ocorreu o salto entre as espécies”, constata.

Os vírus são frequentemente transferidos do macaco ao homem por meio de  mordida ou de contato com o sangue do macaco morto – caso entre em uma ferida aberta. Há um menor risco de contaminação em relação ao consumo de primatas cozidos, mas não é completamente seguro.

Para Dra. Rúbia, controvérsias à parte, esta hipótese levanta uma questão importante para a saúde publica: a atividade de caça expõe o homem aos vírus que circulam no interior das florestas. O The Independent registra que embora camaroneses tenham comido carne de primatas durante anos, surtos de saúde recentes têm começado a levantar temores sobre a segurança da carne. O jornal traz o relato de um episódio ocorrido na aldeia de Bakaklion, onde moradores encontraram um gorila morto na floresta, o levaram para a aldeia e comeram a carne. Quase imediatamente, todos moreram.

“No último mês, pesquisadores da República de Camarões recomendaram aos moradores da região da bacia do Congo para não comerem carne de macacos, pois poderiam se contaminar com um vírus circulante nesses animais”, revela a pesquisadora. Ela diz que os cientistas estão monitorando a presença de um vírus muito semelhante com o HIV chamado de Human Foamy Virus (HFV), que teria se originado do Simian Foamy Virus. “Eles não sabem ao certo o que o HFV pode causar, mas temem que o vírus possa se espalhar, visto que esta variante viral é capaz de infectar humanos”, destaca.

Segundo Dra. Rúbia, pesquisadores acreditam estar acompanhando um salto de vírus entre espécies e, embora seja cedo para afirmar que se de trata de um vírus realmente perigoso aos humanos, a preocupação é pertinente. “Se analisarmos a quantidade de carne de macaco consumida pela população local (camaronesa) e a quantidade de carne exportada como iguaria, clandestinamente, chegaremos a valores realmente altos”, analisa a especialista que aponta que o aumento na demanda da carne de caça nos leva a uma grande exposição a micro-organismos que desconhecemos.

Do ponto de vista biológico, conta Dra Rúbia, estes novos contatos são naturais e devem ter ocorrido diversas vezes ao longo da história da humanidade. “Como o ocorrido com o HIV, a escala desse contato pode determinar o tamanho do risco para a população. Por outro lado, do ponto de vista social, o problema é ainda mais perturbador, uma vez que a atividade de caça é intrínseca ao homem e, com certeza, qualquer tentativa de impedir esta atividade levaria muito tempo para surtir efeito”, ressalta a especialista que defende que, no momento, o monitoramento desta prática e medidas sanitárias devem ser vistas como primordiais para a saúde da população da região.

“Quase 30 anos após as primeiras descobertas sobre o HIV/AIDS temos muito a comemorar sobre o aprendizado que este vírus gerou para a comunidade científica. Resta-nos aplicar o conhecimento gerado e tentar impedir novos prejuízos à saúde humana”, reconhece.

Os símios são conhecidos por sediar outros vírus potencialmente mortais, como ebola, antrax, febre amarela, e vírus potenciais a serem ainda descobertos.

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Researchers believe the virus may be jumping from one species to another, and although it is too early to tell if the virus is a really dangerous to humans, there are reasons to be concerned

It is estimated that eighty percent of the meat consumed in Cameroon, on the west coast of Africa, is hunted meat. The favorite dishes in the country are gorilla, chimpanzee and monkey, because of their tender and juicy meat. It is believed that about 3,000 gorillas are illegally killed in southern Cameroon every year to meet this demand. The information was published by the British newspaper The Independent. The report warns that the habit can be harmful to health. Three-quarters of all new human viruses are known to originate from animals, and some scientists believe that humans are particularly susceptible to those that come from the monkeys. It is argued that the human immunodeficiency virus (HIV) originated from chimpanzees.

Currently, the most accepted hypothesis by the scientific community to explain the emergence of HIV, is that it was due to the frequent contact between the blood of chimpanzees infected with a virus very similar to HIV – variants originated from SIV (Simian Immunodeficiency Virus) – and wounds, generated by the hunting activities of hunters in the Central African forests, explains Dr. Rúbia Medeiros. She is a researcher of Human and Molecular Biology of Microorganisms; Immunogenetics of autoimmune diseases and Evolutionary Immunogenetics at the Federal University Rio Grande do Sul (UFRGS). According to Dr. Medeiros, at the end of last century the commercial exploitation of monkey meat in Africa led to the spread of HIV throughout the world. There is plenty of evidence supporting this hypothesis, but it is impossible to determine exactly how the jump occurred between the species, she notes.

Viruses are often transferred from monkey to man through bites or contact with the blood of the dead monkey – when it enters an open wound. There is lower contamination risk from consumption of cooked primate meat, but they are not completely safe.

Dr. Medeiros also believes that despite the controversy this hypothesis raises an important public health issue: the hunting activity exposes humans to viruses that circulate within the forests. The Independent reports that although Cameroonians have been eating primate meat for years, recent disease outbreaks have begun to raise concerns about the safety of the meat. The newspaper reports an episode in the village of Bakaklion where residents found a dead gorilla in the forest which they took to the village and ate. They all died almost immediately.

A month ago, researchers from Cameroon advised local residents of the Congo Basin not to eat monkey meat because they could be contaminated with a virus, says the researcher. She says that scientists are monitoring the presence of a virus very similar to HIV called Human Foamy Virus (HFV), which originated from Simian Foamy Virus.They do not know for sure what HFV may cause, but fear that the virus could spread, since this variant virus can infect humans, she says.

According to Dr. Medeiros, researchers believe they are witnessing a jump of the virus between species, and although it is too soon to state that the virus is really dangerous to humans, the concern is relevant. If you look at the amount of monkey meat consumed by the local population (Cameroonians) and the amount of meat that is clandestinely exported as a delicacy, the figures are really high, says the expert, who points out that the higher the demand of game, the greater the exposure to unknown micro-organisms.

From a biological standpoint, says Dr. Medeiros, these new contacts are natural and must have occurred several times throughout human history. As with HIV, the scale of this contact can determine the size of the risk to the population. On the other hand, from the social point of view, the problem is even more disturbing, since hunting activity is intrinsic to mankind and, surely, any attempt to prevent this activity would take too long to be effective, she says. She also believes that currently, monitoring of hunting and health measures are vital for the health of the population.

Nearly 30 years after the first discoveries about HIV/AIDS we have a lot to celebrate regarding the information that this virus has generated for the scientific community. It is up to us to apply such knowledge and try to prevent further harm to human health, she acknowledges.

Apes are known to host other potentially deadly viruses such as Ebola, anthrax, yellow fever, and potentially deadly viruses that are yet to be discovered.