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Doenças podem emergir e causar pandemias em nível mundial

10/01/2013
Doenças

A aglomeração dentro de residências e a falta de serviços básicos de higiene é uma realidade nas grandes cidades tropicais

“A próxima pandemia que enfrentaremos provavelmente virá da vida selvagem”. A afirmativa é do escritor norte americano especializado em ciência David Quammen, que publicou suas conclusões no livro Spillover: animal infections and the next human pandemic (Respingamento: infecções animais e a próxima pandemia humana, em tradução livre). Em entrevista à Revista Época, Quammen aborda um pouco do que está em seu livro; fruto de entrevistas com especialistas que combateram surtos de doenças como: gripe aviária, gripe suína, aids, febre amarela e ébola.

Para o doutorem Medicina Tropicale presidente da SBMT, Dr. Carlos Costa, o autor tem razão ao ponderar a possibilidade de uma pandemia oriunda da vida selvagem. “Apesar de profundamente danificados pela ação do homem, os ecossistemas silvestres persistem com vida selvagem e com zoonoses de transmissão dentro desses sistemas que, eventualmente, podem manter contato com o ser humano”, explica Dr. Carlos Costa ao atentar que esse contato pode se dar de diversas maneiras: trabalhando ou visitando o campo, por exemplo.

Dr. Carlos Costa aponta que os vírus são muito plásticos, adaptáveis e de rápida transmissão. “As cidades, hoje, estão muito povoadas. Ocorre uma grande interação de pessoas em ambientes fechados, além de condições de vida completamente precárias particularmente nas cidades tropicais”, diz.

Na avaliação do doutorem Saúde Pública Tropicalpela Harvard University, tudo favorece para que ocorra uma epidemia. “A gente não sabe quando será e nem onde, mas é uma possibilidade bastante razoável”, observa ao ponderar que as condições atuais, principalmente, a interação entre os povos, a grande circulação, os voos rápidos, favorecem a rápida propagação de uma doença. “Pessoas ainda no período de incubação, doentes, em ambiente fechado, dentro dessas aeronaves, e indo para hospitais que nem sempre estão preparados para receber esse tipo de emergência”, salienta ao comentar que seguramente essa possível epidemia não estaria restrita a países e populações tropicais. Entretanto, acrescenta que as cidades tropicais são muito mais vulneráveis, principalmente em suas favelas.

O vírus se propaga facilmente
“Se imaginarmos, por exemplo, o ambiente de um shopping, uma aeronave, um ônibus, um metrô, veremos que as condições de dispersão de parasitas e vírus por via aérea, principalmente, por infecção respiratória, são enormes”, lembra Dr. Carlos Costa ao ponderar que não é possível prever qual mutação vai ocorrer nesse patógeno que deve propiciar a adaptação ao ser humano. Conforme o especialista, dependendo da mutação, essa transmissão pode ser tanto por via respiratória quanto por outras vias.

Ele avalia ser uma possibilidade que sempre vai existir entre nós. “Quando a maioria da humanidade vivia no campo, a interação com o meio ambiente era mais profunda. O ser humano caçava, plantava e se alimentava. Hoje, com a agricultura mecanizada, de exploração capitalista, isso diminuiu um pouco. Mas nos nichos de agricultura familiar e de subsistência a interação com a floresta permanece”, destaca ao assinalar que, agora, o ambiente novo de explosão são as cidades que provavelmente serão o combustível da próxima epidemia.

Potenciais reservatórios
Primatas, morcegos e roedores são sim reservatórios de doenças, de acordo com o autor norte americano. “Eles são potenciais, pois existem outros”, esclarece Dr. Carlos Costa. “A proximidade genômica dos macacos a do ser humano faz com que alguns patógenos saltem mais facilmente dessas espécies, a exemplo do HIV. Já os morcegos, por possuírem uma variedade enorme de espécies, também podem veicular, além dos roedores devido à intimidade e a proximidade com as pessoas”, analisa ao garantir que onde há ser humano existe roedor, principalmente, o rato doméstico.

Apesar dos reservatórios capazes de transmitir diretamente o vírus para as pessoas sejam vertebrados, o especialista atenta que é bom não esquecermos os insetos. “O Aedes aegypti é um sinal de como os insetos podem se adaptar ao ser humano. A Encefalite do Nilo Ocidental nos EUA, de leste a oeste, mostra também que mesmo em nações desenvolvidas essas epidemias podem se tornar incontroláveis”, adverte ao frisar que a Encefalite do Nilo é um exemplo da vulnerabilidade da civilização humana.

Solução coletiva
“O mundo é uma aldeia global. Ele tem seus quintais, seus nichos de pobreza, mas dificilmente existe um lugar inalcançável, inatingível. Então é preciso realmente montar esquemas e assegurar que os grandes laboratórios de vigilância sanitária estejam atentos”, defende o presidente da SBMT. Segundo ele, não podemos relegar a países que não têm tanta competência científica e tecnológica – devido à escassez de recursos – a responsabilidade de efetivar a vigilância contra doenças emergentes. Dr. Carlos Costa salienta que se trata de um problema mundial, e como tal deve ser trabalhado por todas as nações.

Apesar do autor norte americano citar a China como uma futura promessa, o especialistaem Medicina Tropicaldiz que o país é apenas um exemplo de nação emergente. “O Brasil e a Índia, talvez, sirvam melhor como exemplo de países de grande competência científica, e que podem se colocar a serviço disso”, acredita Dr. Carlos Costa ao alegar que o Brasil já dá sinais claros de estar entrando numa fase iluminista, do ponto de vista científico.

Ele fala que hoje existe uma destinação razoável de recursos para ciência e tecnologia e educação. “Esperamos que o pré-sal do petróleo venha, também, acrescentar recursos para essa área”, confessa ao enfatizar que o Programa Ciência sem Fronteiras vai rapidamente alçar a comunidade científica brasileira em nível de competência e de competitividade internacionais.

“Acredito que o Brasil como a China, o Brasil mais ainda por ser tropical, é o protótipo da nação do desenvolvimento científico e tecnológico para enfrentar os dilemas tropicais, entre eles a emergência de novas doenças”, finaliza o doutorem Medicina Tropical. Clustering within households and a lack of basic hygiene are a reality in large tropical cities