_destaque, Notícias

Leptospirose: um milhão de afetados anualmente e políticas insuficientes de controle

Segundo pesquisador da Universidade de Yale, autoridades de saúde pública devem priorizar intervenções no desenvolvimento de métodos de diagnóstico mais modernos e saneamento adequados para prevenir essa doença negligenciada

13/11/2015
Enquanto

Enquanto incidência da doença em países ricos é de uma pessoa para cada 100 mil

A leptospirose é uma doença de extremos, sendo um dos exemplos que diferenciam o poder econômico entre as diversas regiões do planeta. Enquanto em países com clima temperado – boa parte deles, ricos – a incidência é de uma pessoa para cada 100 mil, nas regiões de clima tropical, especialmente nas favelas urbanas, esse índice é dez vezes superior, podendo ser até 100 vezes maior especialemente diante de eventos climáticos adversos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Recentemente, uma pesquisa mostrou que a gravidade do problema vai além das diferenças de incidência, a carga global da doença é muito maior do que a estimada anteriormente, sendo de mais de 1 milhão de novos casos/ano e gerando cerca de 59 mil mortes.

O trabalho foi realizado pelos doutores Federico Costa, professor de Epidemiologia do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Albert Ko , chefe do Departamento de Epidemiologia das Doenças Microbianas da Faculdade de Medicina da Universidade de Yale e outros colaboradores. Primeiramente, foram feitos levantamentos em pesquisas já publicadas sobre a leptospirose. Das 12 mil disponíveis, eles selecionaram 80 documentos de alta qualidade que informam as estimativas do problema a nível mundial. Em determinadas regiões, especialmente na África, foram identificados poucos estudos de qualidade assegurada.

De acordo com os resultados, publicados na edição de doenças tropicais negligenciadas do site PLOS, a maior taxa de morbidade e mortalidade em relação à leptospirose ocorre nas regiões Sul e Sudeste da Ásia; Oceania; Caribe; regiões Andina, Central e Tropical da América Latina; África e Oriente Subsaariano. Os mais infectados são homens adultos, entre 20 e 49 anos, cujas taxas foram 48% do total de casos e 42% do total de óbitos.

Segundo o doutor Federico, estudos sobre o tema têm avançado nos últimos anos, especialmente no desenvolvimento de técnicas moleculares para identificar a doença. “Porém, ainda é necessária uma metodologia rápida e barata que permita avaliar leptospirose na ponta (emergências, UPAS etc.), quando os pacientes ainda não apresentam sinais graves da doença. Isto é fundamental para diminuir a letalidade”, explicou o pesquisador.

Medidas de controle

Para o Dr. Albert Ko, os países onde a leptospirose é um grande problema de saúde pública devem implementar suas estratégias de controle e prevenção para combater a doença. “[Esses países] devem priorizar esta doença negligenciada e desenvolver a infraestrutura necessária para implementar uma vigilância eficaz, orientações de gestão clínica e medidas preventivas”, destacou.

Boa parte das medidas de controle passam por questões de saneamento básico, um dos maiores problemas nos países afetados.   “O controle e possível eliminação da leptospirose urbana será possível se as autoridades de saúde pública e os governos priorizarem intervenções que abordem o ambiente pobre subjacente em favelas urbanas, como os esgotos a céu aberto e os sistemas de drenagem de águas pluviais, que promovem a transmissão da doença”, explica o doutor Ko.

Para o pesquisador, outros problemas incluem a falta de testes de diagnóstico adequados e de vacinas contra a doença, o que têm contribuído diretamente para o seu status de “doença negligenciada”. Essas barreiras têm origem nas grandes empresas do setor, que não têm feito grandes investimentos em soluções para uma doença que aflige especialmente aos mais pobres.