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Entomologista Dr. Brisola propõe ações para evitar novos óbitos causados por febre amarela

Levantamento e formação de especialistas com capacidade de coletar, identificar e estudar mosquitos estão entre as propostas

14/06/2016
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Para o especialista, é preciso ainda procurar outros vírus, como o Rocio – causador de centenas de óbitos e paralisias permanentes no vale da Ribeira, na década de 1970

A febre amarela urbana voltou a ser pauta nacional após as mortes de duas pessoas devido à doença. Os casos, ocorridos nas cidades de Natal (RN) e Bady Bassyt (SP), levantam o debate sobre as ações para impedir o avanço de uma possível epidemia. Apesar de serem aparentemente casos isolados, os episódios mostram a importância de discutir medidas que ajudem a evitar novas tragédias. Especialmente porque o Aedes aegypti, o mosquito mais conhecido do País e que transmite enfermidades como a dengue, é um bom vetor daquela doença.

Para o doutor em Entomologia Carlos Brisola Marcondes, professor titular da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é preciso desenvolver estudos abrangentes em áreas suspeitas e em outras aparentemente indenes, como Natal.

Ele lembra que o Brasil tem uma multiplicidade de arbovírus e ótimas condições para a sua reprodução, com a maior fauna de mosquitos do mundo, com mais de 500 espécies. Apesar dessa vasta variedade, os pesquisadores com conhecimento de taxonomia de mosquitos e outros vetores estão, a cada dia, mais raros.

“Os jovens não têm estímulo para aprender isto, pois só a biologia molecular dá futuro e verba no País. Este pessoal, em sua maioria aposentado ou quase, que constitui o downstairs, está desestimulado e sem apoio”, afirma o pesquisador.

Para mudar esse quadro, o doutor Marcondes sugere um levantamento nacional de especialistas com capacidade de coletar, identificar e estudar mosquitos e outros vetores. Além disso, ele propõe a organização de treinamentos para identificar mosquitos e colaborar para verificar a presença de arbovírus em mosquitos e vertebrados. Outra proposta é desenvolver levantamentos e vigilância nas áreas mais susceptíveis de apresentar casos de febra amarela, não só na região Centro-Oeste e os estados da região amazônica, mas também em pelo menos na metade oeste dos estados das regiões Nordeste, Sudeste e Sul.

Ele ressalta que treinar pessoal não significa apenas mostrar o que é um Aedes aegypti, um Culex e um Anopheles, mas, sim, dar condições de identificar mosquitos de vários gêneros, aprendendo morfologia e usando chaves; seria conveniente fazer treinamentos em várias instituições e estados, com pelo menos 40 horas.

“É fundamental ainda verificar se há presença significativa de Aedes aegypti nas localidades em que for encontrado o vírus de febre amarela, pois, mesmo sendo a transmissão mais difícil que a de dengue, há o risco de surtos, com possíveis óbitos”, explica.

A partir dessa vigilância, o entomologista defende a vacinação da população mais exposta das áreas onde for constatada a presença do vírus da febre amarela e maior rigor no controle de Aedes aegypti. Mosquitos silvestres precisam ser coletados e analisados para infecção pelo vírus, com especial atenção para os de Haemagogus e Sabethes.

Para o especialista, é preciso ainda procurar outros vírus, como o Rocio – causador de centenas de óbitos e paralisias permanentes no vale da Ribeira, que fica entre os estados de São Paulo e Paraná, na década de 1970. “[O Rocio] está presente em equinos de pelo menos quatro estados do País (Silva et al., 2014), encefalite equina do leste, a de Saint Louis, a West Nile e etc”.

**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**