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Medida simples pode evitar reprodução do Aedes aegypti

O estudo mostra como uma pequena intervenção pode resultar em uma redução importante da retenção de água das chuvas e, consequentemente, impactar na proliferação de larvas do mosquito

13/08/2017
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Os resultados são de grande relevância por chamar atenção para a necessidade de reorientação nos programas de prevenção e controle de arboviroses

Um estudo liderado pelo pesquisador da Fiocruz na Bahia e professor do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA), o médico epidemiologista Guilherme Ribeiro, publicado na revista internacional Parasites & Vectors, em 2016, mostrou que as bocas de lobo, também conhecidas como bueiros, ao acumularem água parada são potenciais focos do Aedes aegypti, mosquito que transmite dengue, zika e chikungunya. No estudo in loco, os pesquisadores também encontraram o Aedes albopictus. A mesma revista publicou um segundo trabalho realizado pela equipe liderada pelo Dr. Ribeiro em abril deste ano apontando o efeito de uma intervenção realizada nas bocas de lobo sobre o acúmulo de água e a reprodução do Aedes aegypti.

“Durante o primeiro estudo, realizamos uma pesquisa em quatro locais da cidade de Salvador. Moradores de uma das áreas onde se efetuou a investigação se organizaram e efetuaram uma intervenção nas bocas de lobo. Após essa ação a nossa equipe decidiu avaliar o efeito da mudança comparando os dados coletados antes e depois da intervenção. São os resultados dessa avaliação que foram recentemente publicados”, explica o Dr. Ribeiro. A intervenção consistiu na colocação de concreto na parte inferior para elevar a base até o nível do tubo de saída evitando o acúmulo de água. Também foi colocada uma malha metálica cobrindo o tubo de saída para impedir o entupimento com lixo.

O pesquisador acredita que é possível que existam outras áreas de Salvador, ou mesmo do Brasil, nas quais uma intervenção como a avaliada no estudo possa ser benéfica. “Cabe ressaltar que as estruturas de drenagem são desenhadas e instaladas pelas equipes de engenharia urbana. Unir os esforços do setor da saúde com aqueles dos engenheiros sanitários é fundamental para uma avaliação em larga escala destas estruturas de drenagem e para o desenho e aplicação de uma intervenção que seja simples e eficaz em impedir acúmulo de água nas estruturas de drenagem”, defende. Ainda de acordo com o especialista, o enfrentamento do problema das arboviroses precisa envolver ações intersetoriais e não se concentrar na área da saúde e em ações de controle vetorial. “É necessário a união de várias frentes como, por exemplo, dos órgãos de planejamento urbano e manutenção das áreas públicas, das companhias de distribuição de água, de coleta e tratamento de esgotos, de limpeza urbana, dentre outras. Melhoria nesses serviços são fundamentais para que possamos reduzir o impacto das arboviroses para a saúde pública”, acrescenta.

Os resultados são de grande relevância por chamar atenção para a necessidade de reorientação nos programas de prevenção e controle de arboviroses, já que as principais ações assumem que os focos de reprodução dos mosquitos transmissores de dengue, zika e chikungunya encontram-se nas residências e não nos ambientes públicos. De acordo com os autores, as campanhas de combate ao Aedes são direcionadas para os criadouros dos mosquitos localizados no ambiente domiciliar, negligenciando potenciais criadouros localizados em espaços públicos.

O estudo demonstra como uma simples intervenção pode resultar em uma redução importante da retenção de água parada das chuvas e, consequentemente, impactar na proliferação de larvas do mosquito. O pesquisador salienta que o controle de mosquitos do gênero Aedes tem sido um grande desafio no mundo. “Assim, esperamos com a publicação deste trabalho difundir essa experiência nacional e internacionalmente, enfatizando a necessidade do uso de formas alternativas que se mostram eficazes para a eliminação de potenciais criadouros desses mosquitos”, finaliza.