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OMS passa a recomendar vacina da dengue da Takeda; entenda a diferença do outro imunizante

Grupo consultivo em imunizações do órgão orientou a introdução da dose em locais com alta incidência e transmissão da doença

03/10/2023

A Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a recomendar a vacina contra a dengue desenvolvida pela farmacêutica japonesa Takeda, a Qdenga, nesta segunda-feira. A orientação segue as recomendações do Grupo Consultivo Estratégico de Peritos em Imunização da OMS (SAGE, da sigla em inglês), que se reuniu entre 25 e 29 de setembro.

Em nota, o órgão destacou que a doença “representa um fardo significativo para a saúde pública em países endêmicos” e alertou que esse impacto “deverá aumentar ainda mais, tanto em termos de incidência como de expansão geográfica, devido às alterações climáticas e à urbanização”. No ano passado, o Brasil bateu o recorde da série histórica com 1.016 mortes pela doença, além de quase 1,5 milhão de casos.

— Essa é a primeira vacina contra dengue com potencial para uso mais amplo. Muitos países estão enfrentando surtos devastadores de dengue e prevemos o agravamento geral da situação com as alterações climáticas — disse a chefe do Departamento de Segurança Sanitária do Instituto Finlandês de Saúde e Bem-Estar, presidente do SAGE, Hanna Nohynek, em coletiva de imprensa.

A vacina da Takeda utiliza um vírus atenuado para induzir a resposta imunológica e, segundo análise da OMS, demonstrou eficácia contra os quatro sorotipos do patógeno entre crianças. Por isso, o SAGE passou a recomendar que os lugares com carga e transmissão elevadas de dengue considerem a introdução do imunizante.

O grupo aconselhou que a vacina seja incorporada para crianças de 6 a 16 anos. “Nessa faixa etária, a vacina deve ser introduzida cerca de 1 a 2 anos antes do pico de incidência de hospitalizações relacionadas à dengue, específico para a idade”, disse. A orientação também diz que as duas doses devem ser administradas com intervalo de três meses entre elas.

O SAGE ressaltou ainda que a introdução da nova vacina deve ocorrer junto a uma “estratégia de comunicação bem concebida e pelo envolvimento da comunidade”. Nos estudos clínicos, a imunização demonstrou uma eficácia geral de 80,2% para evitar contaminações, e de 90,4% para prevenir casos graves.

Vacina da dengue disponível do Brasil

A Qdenga, também chamada de TAK-003, recebeu o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em março para uso no Brasil em pessoas de 4 a 60 anos, independentemente de já ter sido infectado pela dengue ou não.

A vacina começou a ser comercializada nas clínicas particulares no início de julho. Em relação à rede pública, o laboratório solicitou ao Ministério da Saúde, em agosto, a inclusão das doses no Sistema Único de Saúde (SUS).

Agora, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do SUS (Conitec) tem até 180 dias para avaliar o custo-benefício do imunizante e recomendar, ou não, a sua inclusão no Programa Nacional de Imunizações (PNI).

Nas clínicas, as doses podem ser encontradas por valores que variam entre R$ 400 e R$ 500. Como o esquema envolve duas aplicações, com um intervalo de três meses entre elas, o preço final fica entre R$ 800 e R$ 1 mil.

Diferença para a vacina anterior

A vacina da Takeda não é a primeira contra a dengue recomendada pela OMS ou a receber um aval da Anvisa. Em 2015, o Brasil aprovou a Dengvaxia, desenvolvida pela Sanofi, que se tornou o primeiro imunizante para a doença com o sinal verde no país. No ano seguinte, foi o primeiro a ser orientado globalmente pelo SAGE.

No entanto, o público-alvo restrito levou a vacina a não ter uma alta adesão. Isso porque ela é indicada apenas àqueles que já foram contaminados anteriormente para evitar um quadro de reinfecção, que costuma ser mais grave. Nesses casos, a eficácia é alta, de quase 80% para evitar doença severa.

Porém, em pessoas soronegativas, ou seja, que nunca tiveram dengue, a dose não se mostrou significativamente eficaz em impedir a infecção. Além disso, não apresentou o perfil ideal de segurança, levando à possibilidade de um risco aumentado de casos graves no período após a vacinação.

Por isso, a Dengvaxia é aprovada somente entre 9 a 45 anos e para os que já tiveram a doença. Ela é aplicada no esquema de três doses, com intervalo de seis meses. Assim como a dose da Takeda, ela pode ser encontrada apenas na rede privada no Brasil.

No entanto, além de estar disponível para mais idades (4 a 60 anos), o novo imunizante é o único que pode ser administrado para pessoas que nunca tiveram dengue e envolve uma aplicação a menos.

Saiba mais: https://oglobo.globo.com/saude/medicina/noticia/2023/10/02/oms-passa-a-recomendar-vacina-da-dengue-da-takeda-entenda-a-diferenca-de-outros-imunizantes.ghtml

**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**