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Peste negra 125 anos: Existe risco de reativação em massa da doença no Brasil?

Dra. Alzira Almeida, Pesquisadora Emérita da Fundação Oswaldo Cruz, explicou durante o MEDTROP 2024 como o bioterrorismo pode ocorrer

30/09/2024

Fala-se de pandemias desde 1.320 anos antes de Cristo. Na Bíblia, especificamente no livro de Samuel, há uma passagem que menciona oferendas de camundongos de ouro, feitas na arca da aliança, com o objetivo de acabar com a disseminação de doenças associadas aos ratos. Entre os anos 541 e 544, houve a pandemia de peste bubônica, durante o reinado do imperador Justiniano I. No entanto, sem dúvida, a peste negra, que assolou a Europa no século XIV, é uma das mais conhecidas. E, claro, impossível não citar a pandemia da Covid-19, que teve seu auge em 2020. 

O que foi a peste negra?

A peste negra, como ficou conhecida a peste bubônica, é uma doença causada pela bactéria Yersinia pestis, que atingiu o continente europeu no século XIV. A doença chegou à Europa através de comerciantes que transportavam especiarias de Constantinopla em embarcações infestadas por ratos. A picada de pulgas é o principal mecanismo de transmissão da doença. Na época, a população acreditava que a peste negra era um castigo divino. Para tratar os doentes, as cidades contratavam médicos, mas a quantidade era insuficiente e o conhecimento na época era limitado.

Essa foi uma das pandemias mais mortais da história, matando entre 75 e 200 milhões de pessoas.  Para controlar a enfermidade, o primeiro soro antipestoso foi preparado em 1895 por Alexandre Yersin, Émile Roux, Albert Calmette e Armand Borrel, no Instituto Pasteur em Paris. Yersin descobriu o bacilo da peste bubônica em 1894 e estudou a doença até 1897. 

No Brasil, o Instituto Butantan começou a produzir soro antipestoso em 1901 para controlar a doença na cidade de São Paulo. A doença se manifestou no território brasileiro em Santos, em 1899. 

O médico, sanitarista, bacteriologista e epidemiologista Oswaldo Cruz contribuiu para o combate à peste bubônica no Brasil, formando equipes para eliminar os ratos e incentivando a população a capturar os animais, oferecendo recompensas em dinheiro.

A criação do Instituto Soroterápico Federal, em 1900, que mais tarde se tornou a Fundação Oswaldo Cruz, e do Instituto Serumtherápico (Instituto Butantan) no ano seguinte, permitiu a produção de soro e vacina antipestosos, acabando com a emergência sanitária.  

A doença pode voltar afetar o Brasil?

Tendo em vista o histórico da peste negra, questiona-se a possibilidade de sua reativação no Brasil. Embora a doença tenha entrado em processo de baixa mortalidade a partir dos anos 90 e esteja controlada desde 2005 no país, segundo o Ministério da Saúde, ainda não foi totalmente erradicada. Casos de peste ainda são registrados em outros países, como nos Estados Unidos, onde de 2000 a 2020 ocorreram 14 mortes por peste, com uma média de sete casos por ano, de acordo com a BBC News Brasil.  

Continentes africanos e europeus também registraram casos de peste atualmente. O retorno da pandemia de peste negra pode acontecer de dois modos: o primeiro seria por reintrodução intencional através de bioterrorismo; e o segundo, de forma não intencional, com a introdução acidental de pessoas, pulgas, roedores e outros animais infectados, como os domésticos. 

Alzira Almeida, Pesquisadora Emérita da Fundação Oswaldo Cruz, explicou durante o 59° Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (MEDTROP 2024) como o bioterrorismo pode ocorrer. “Na Segunda Guerra Mundial, o exército japonês lançou pulgas infectadas com a bactéria Yersinia pestis sobre a China. Já na idade média, cadáveres infectados com a bactéria era arremessados por catapultas para infectar as pessoas sadias”, relatou. 

Tratamento eficaz para o combate da peste

Para o tratamento da doença, são recomendados antibióticos da classe dos aminoglicosídeos, como estreptomicina, gentamicina e amicacina. Além disso, a categoria das fluoroquinolonas, incluindo ciprofloxacina, levofloxacina, e ofloxacina, pode ser utilizada. Outros antibióticos que podem se utilizados são cloranfenicol e sulfonamidas.

 

**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**