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Saúde mental em emergências: alerta para a necessidade de atenção psicossocial em crises públicas

Pós-doutora em Saúde Pública pela Fiocruz destaca a importância da resposta rápida e integrada à saúde mental em cenários de desastres

30/09/2024

Durante sua apresentação no 59º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), a pós-doutora em Saúde Pública pela Fiocruz, Débora Noal, falou sobre a importância da saúde mental e da atenção psicossocial em emergências. Ela ressaltou a necessidade de um olhar atento e estruturado para esses casos em situações de crise, como desastres naturais, citando o exemplo das enchentes no Rio Grande do Sul. Noal enfatizou que o impacto de eventos catastróficos na saúde mental vai muito além das primeiras 72 horas e requer uma intervenção multidisciplinar.

Ela explicou que, em resposta a essas crises, equipes da Força Nacional do SUS são enviadas para mapear o território afetado, identificando tanto as características da situação quanto às necessidades mais urgentes da população. O primeiro passo é avaliar o histórico da região, compreender a estrutura existente, a organização social e o plano de contingência disponível. O que já aconteceu e o que pode vir a acontecer, a curto, médio e longo prazo, deve ser analisado.

A estrutura de profissionais de saúde envolvida nesses casos deve incluir profissionais de saúde mental, para garantir que estejam disponíveis e capacitados para atuar em alerta, vigília e pronta resposta. No entanto, a psicóloga aponta que um dos grandes desafios é que, muitas vezes, quem planeja as respostas emergenciais não é quem atua diretamente no plano de ação. Ou seja, é preciso garantir que as pessoas que estruturam os planos sejam as mesmas que respondem de forma prática à emergência.

Em relação aos efeitos psicológicos, Noal compartilhou alguns dados: cerca de 15% a 20% da população afetada por desastres relata dificuldades para dormir, distúrbios alimentares e irritabilidade. No entanto, muitos desses indivíduos já apresentavam sinais de fragilidade mental antes dos eventos, mas sem um diagnóstico formal ou tratamento. Estima-se que entre 1% e 2% das pessoas possam desenvolver transtorno de estresse pós-traumático, com sintomas que surgem a longo prazo.

Um aspecto marcante trazido por Noal foi a menção ao impacto duradouro na população, especialmente no contexto recente do Rio Grande do Sul. Segundo ela, toda a população gaúcha foi afetada de alguma forma por esse desastre: ” ser afetado por um desastre não é apenas perder a sua casa, é ver o seu vizinho,  acompanhar o processo como um todo e ser emocionalmente impactado com a percepção de que poderia ter sido você”, pontua a psicóloga.

De acordo com a especialista, é preciso agilidade, organização e formação contínua dos profissionais para lidar com emergência. Além disso, destaca-se a importância de um acompanhamento e diagnóstico adequados, sem a o uso imediato de medicamentos, bem como a atenção às equipes de assistência.

**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**