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Projeto Orion: inovação na ciência nacional

Iniciativa fortalece o País na pesquisa de patógenos de alto risco e prepara o Brasil para futuros desafios sanitários

01/10/2024

Projeção gráfica do projeto Orion – complexo laboratorial para pesquisas avançadas em patógenos

A construção do Projeto Orion, um complexo laboratorial de máxima contenção biológica (NB4), posiciona o Brasil como um dos principais centros de pesquisa avançada em patógenos, tanto na América Latina quanto no cenário mundial. O complexo de laboratórios, que será conectado à fonte de luz síncrotron Sirius, vai permitir pesquisas pioneiras utilizando tecnologias inéditas para gerar imagens tridimensionais e estudar organismos desde a escala subcelular até a de organismos modelos. A principal inovação do Orion está na conexão com o síncrotron, que utiliza raios X para produzir imagens de alta resolução. Essas tecnologias têm o potencial de revolucionar o desenvolvimento de vacinas, diagnósticos e tratamentos, além de guiar novas estratégias de vigilância em saúde. O Orion está em construção no campus do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) em Campinas/SP.

Antônio José Roque da Silva, Diretor-Geral do CNPEM, explica que a integração entre o Orion e as três linhas de luz do Sirius é inédita no mundo. “Isso vai nos permitir explorar novos horizontes científicos, desde a dinâmica de inflamação nos tecidos e danos aos órgãos, até o acompanhamento do processo de infecção no organismo como um todo”, afirma. Além de dirigir o Sirius, Dr. Roque é professor titular do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFUSP) e desempenhou um papel central na Conferência “Projeto Orion e Alta Contenção no Brasil“, parte da programação científica do Congresso Brasileiro da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (MEDTROP 2024), realizado em São Paulo, entre os dias 22 e 25 de setembro.

A integração entre o laboratório NB4 e a fonte de luz síncrotron Sirius cria oportunidades inéditas para entender, em alta resolução e em, por exemplo, tempo real, os efeitos de patógenos no corpo humano. De acordo com o Dr. Roque, ao combinar técnicas de imagem tridimensional por raios X com a pesquisa realizada em ambientes biocontidos, será possível observar também detalhes inéditos dos danos causados aos tecidos e órgãos durante infecções, permitindo acompanhar a evolução de doenças, estudar os mecanismos de inflamação e desenvolver novas estratégias de combate, como vacinas e tratamentos.

Essa parceria entre alta tecnologia e biossegurança coloca o Brasil em um patamar de excelência científica global. Além de fortalecer a pesquisa básica, o Orion será fundamental para as ações de vigilância em saúde pública. “Vamos criar condições para o Brasil ser protagonista em estudos sobre doenças infecciosas emergentes e, ao mesmo tempo, fornecer ferramentas para a comunidade acadêmica responder rapidamente a surtos e pandemias”, explica o Dr. Roque. O Projeto Orion não só beneficiará a saúde, mas também outras áreas, como defesa, meio ambiente, ciência e tecnologia, colocando o Brasil na vanguarda da biossegurança e do enfrentamento de crises sanitárias.

Capacitação e cooperação internacional

Um dos grandes desafios para a implementação de um laboratório NB4 no Brasil é a formação de recursos humanos qualificados para lidar com a extrema complexidade dessas instalações. Profissionais treinados em biossegurança de alta e máxima contenção biológica (NB3 e NB4) são escassos, especialmente na América Latina.

Para enfrentar essa lacuna, o CNPEM desenvolve um programa de capacitação que inclui treinamentos específicos para o Projeto Orion. “Estamos trazendo especialistas internacionais e contando com grandes instituições de pesquisa, como o Instituto Robert Koch, na Alemanha, e a University of Texas Medical Branch (UTMB), nos Estados Unidos, para garantir que nossa equipe esteja preparada para operar em um ambiente de alta segurança e complexidade”, afirma o Dr. Roque.

Recentemente, o CNPEM assinou um acordo de cooperação com o Instituto Robert Koch, que irá auxiliar na mobilidade e no treinamento de pesquisadores, na realização de pesquisas conjuntas e no diagnóstico e desenvolvimento de vacinas. Além disso, profissionais do Centro Nacional de Pesquisa já foram certificados em práticas de biossegurança pela Universidade da Califórnia-Irvine, reforçando a capacidade do Brasil de operar instalações de alta contenção biológica.

“Entendemos que é fundamental aprender com a experiência de outras instituições e especialistas que já operam em ambientes NB4. Toda essa rede de colaboração internacional, além da rede de atores nacionais, tem em seu plano de fundo, fortalecer a resposta a futuras pandemias e epidemias globais”, reforça o diretor do CNPEM.

Instrumento de soberania nacional

O Projeto Orion vai além do desenvolvimento científico e da pesquisa de ponta. Ele também desempenha um papel estratégico para a soberania nacional. Em um contexto de crises sanitárias globais, como as que presenciamos recentemente, contar com uma infraestrutura de máxima contenção biológica é fundamental para garantir que o País seja autossuficiente na resposta a surtos de doenças infecciosas. O projeto será relevante para o setor de defesa nacional, permitindo ao Brasil estudar agentes biológicos que possam representar riscos à segurança do País.

A execução do projeto Orion é de responsabilidade do CNPEM. O Projeto integra o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal, é financiado com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) do MCTI e conta com o apoio pelo Ministério da Saúde (MS). A iniciativa faz parte da Nova Indústria Brasil (NIB), política industrial do Governo Federal, atuando como um instrumento de soberania, competência e segurança nacional nos campos científico e tecnológico para pesquisa, defesa, saúde humana, animal e ambiental. A concepção do Orion também deve fortalecer o Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS), iniciativa coordenada pelo MS e voltada ao atendimento de demandas prioritárias do Sistema Único de Saúde (SUS).

**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**