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Nova variante do H3N2 avança e chega ao Brasil

Variante do Influenza A apresenta mutações que podem reduzir a eficácia da vacina sazonal

23/12/2025

Mutações do subclado K do H3N2 tendem a ampliar a circulação viral em populações com proteção vacinal abaixo do recomendado

Desde agosto de 2025, sistemas de vigilância nos Estados Unidos e na Europa vêm registrando aumento da circulação de um novo subclado do vírus Influenza A (H3N2), classificado geneticamente como J.2.4.1, conhecido como subclado K. A variante tornou-se predominante em diversas amostras genéticas recentes e apresenta mutações na hemaglutinina, proteína responsável por estimular a resposta imunológica. Essas alterações no perfil antigênico do vírus, em relação à estirpe viral utilizada na vacina sazonal 2025–2026, aumentam a preocupação quanto ao potencial de redução da eficácia da imunização contra infecções sintomáticas, embora não haja evidências consistentes de aumento da gravidade clínica nem da diminuição da proteção da vacina contra casos graves e hospitalizações.

De acordo com a virologista Dra. Helena Lage Ferreira, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV), o comportamento do subclado K segue a lógica evolutiva já conhecida do Influenza. “Como outros vírus de Influenza, o H3N2 apresenta alta capacidade de sofrer deriva antigênica e apresentar a circulação de variantes virais. No Brasil, foi observada uma leve elevação na circulação dos vírus Influenza A (H3N2) neste final de primavera, porém, causada por outro clado genético (J.2.3). Não há qualquer indicação de que estes vírus sejam mais graves que outros vírus de Influenza, embora continuem exigindo vigilância, vacinação e medidas de saúde pública, especialmente em temporadas dominadas por H3N2”, explica. Segundo ela, a principal consequência tende a ser o aumento da circulação viral em populações com proteção vacinal abaixo do recomendado.

Dados do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) e da OMS indicam que o subclado K passou a representar uma parcela crescente das amostras analisadas nos Estados Unidos e na Ásia. Na Europa, relatórios do European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC) apontam aumento precoce de casos em países como França, Alemanha e Reino Unido, com maior impacto em crianças pequenas e pessoas idosas.

Até o momento, não há evidências de que o subclado K esteja associado a maior gravidade clínica quando comparado a outras variantes do H3N2. O principal efeito observado relaciona-se ao aumento do número absoluto de casos, em alguns países, como consequência da combinação entre elevada transmissibilidade e menor imunidade populacional prévia. Em temporadas anteriores, esse mesmo padrão esteve associado à sobrecarga dos serviços de saúde, mesmo sem aumento proporcional da letalidade.

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) acompanha a expansão do subclado K no hemisfério norte e emitiu alertas técnicos  recomendando o reforço da vigilância epidemiológica e laboratorial nos países das Américas. A entidade também destaca a importância de ampliar a cobertura vacinal entre idosos, gestantes, crianças pequenas e pessoas com comorbidades, além de orientar os sistemas de saúde a se prepararem para um possível início mais precoce ou maior intensidade da circulação de vírus respiratórios.

Na América Latina, até meados de dezembro, a circulação do subclado K ainda se mostra limitada. Registros pontuais confirmaram a presença da variante no México, sem evidência de transmissão sustentada. De acordo com a Dra. Ferreira, o Brasil identificou quatro casos de vírus associados ao subclado K: um no Pará e outros três no Mato Grosso do Sul. O caso no Pará foi classificado como importado, enquanto os do Mato Grosso estão em investigação. Especialistas, no entanto, já consideravam a chegada da variante ao hemisfério sul um cenário provável, com base no histórico de disseminação do Influenza entre as estações. “Tradicionalmente, as variantes predominantes no inverno do hemisfério norte tendem a alcançar o hemisfério sul alguns meses depois. O subclado K se encaixa nesse padrão”, afirma a ex-presidente da SBV.

Diante desse cenário, a virologista lembra que a vacinação anual continua sendo a principal estratégia para reduzir hospitalizações e óbitos, mesmo em contextos de menor correspondência antigênica. Para ela, o cenário exige preparação, não alarme. “Mesmo que o subclado K não represente, até o momento, um desvio no padrão de gravidade da gripe sazonal, sua disseminação global deixa claro a necessidade de vigilância contínua, atualização das estratégias de imunização e comunicação clara com a população”, finaliza.