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Abertura do MEDTROP 2023 destaca importância da mulher na gestão da saúde

A ciência para ajudar a melhorar a qualidade de vida da população brasileira

13/09/2023

Com 600 palestrantes de 17 países e todos os estados brasileiros, mais o Distrito Federal, o 58º MEDTROP reuniu 2.900 pessoas

E a Bahia da alegria, da capoeira e da música; a Bahia de todos os santos, do pelourinho e do vatapá; a Bahia da poesia, da medicina e dos tropicalistas, sediou, entre os dias 10 e 13 de setembro, o maior evento multidisciplinar em Medicina Tropical da América Latina. Com 600 palestrantes de 17 países (Afeganistão, Argentina, Austrália, Belize, Bolívia, Território Antártico Britânico, Canadá, Chile, Colômbia, Itália, México, Nigéria, Panamá, Paraguai, Peru, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça, Reino Unido, Estados Unidos e Venezuela), representando todos os continentes, e de todos os estados brasileiros mais o Distrito Federal, o 58º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (MEDTROP) reuniu, este ano, 2.900 pessoas. No total foram 15 salas simultâneas de atividades científicas, 13 cursos pré-congresso, 2 oficinas do Ministério da Saúde, 5 conferências magnas, 60 mesas-redondas, 114 miniconferências, 283 temas livres, 1.663 e-pôster e 8 metragem com a curadoria de Médicos Sem Fronteiras (MSF). Bahia, patrimônio da humanidade, terra de Caymi, Caetano e Gil, conhecida por sua rica cultura, história e belezas naturais, certamente contribuiu para uma atmosfera enriquecedora e inspiradora.

Durante a cerimônia de abertura, que contou com a presença de autoridades da área da saúde, representantes do governo, entidades médicas e científicas, além de parceiros, o protagonismo e a importância da mulher foram destacados em todos os discursos. O presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), Dr. Julio Croda, aproveitou a ocasião para anunciar que, a partir de janeiro, a SBMT será presidida por uma mulher, a Dra. Rosália Morais Torres e o 59º MEDTROP, que será realizado no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, entre os dias 22 e 25 de setembro de 2024, também será presidido por uma mulher, a Dra. Hiro Goto.

O presidente do MEDTROP 2023, Dr. Mitermayer Galvão dos Reis, lembrou que no século XX, Manuel Augusto Pirajá da Silva, nascido em Camamu, na Bahia, contribuiu de forma marcante para a Medicina Tropical com seus estudos sobre esquistossomose, leishmaniose, doença de Chagas, sífilis e micoses. Foi ele também quem demonstrou que o botão de Brotas era uma lesão causada pela Leishmania. Por fim, saudou a professora Sônia e professor Zilton Andrade, exemplos de médicos patologistas, professores, cientistas, gestores na área acadêmica e brilhantes cientistas do estado da Bahia e do Brasil, que contribuíram de forma significativa com estudos relevantes sobre a patologia das doenças que mais afligem as populações negligenciadas, além de contribuírem para formação de inúmeros patologistas.

Emoção toma conta da abertura

A Secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA) do Ministério da Saúde, Dra. Ethel Maciel, emocionada iniciou sua fala pedindo um minuto de silêncio em solidariedade às vítimas da tragédia no Rio Grande do Sul (RS). Em seguida ressaltou que as mulheres representam a maioria dos profissionais de saúde do País. “Demoramos muito para chegar nos postos mais altos do comando do nosso Sistema Único de Saúde (SUS). Essa emblemática mesa de abertura mostra a diferença do momento que vivemos hoje e que as nossas políticas estão voltadas para o povo brasileiro”, afirmou. Por fim, anunciou investimentos na saúde e na ciência. “Estamos trabalhando em financiamentos para linha de pesquisa, colocando mais de R$ 14 milhões para tuberculose e outras doenças negligenciadas. Teremos o maior edital da história para as doenças negligenciadas”, enfatizou.

O Secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde (SECTICS) do Ministério da Saúde, Dr. Carlos Gadelha, garantiu que o atual governo vai investir em um ano mais do que foi investido nos últimos 20 anos em doenças negligenciadas. “Vamos investir em produção nacional soberana e retomar a missão original dos laboratórios públicos”, disse. Com estas e outras chamadas, o secretário destacou a importância da ciência para ajudar a melhorar a qualidade de vida da população brasileira. Já a Dra. Socorro Gross, representante da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) no Brasil, reconheceu a importância da equidade entre os países da América Latina e a importância do trabalho em conjunto para uma melhor resposta às necessidades das pessoas mais vulneráveis.

Premiação

Ainda durante a solenidade de abertura, o Dr. André Siqueira anunciou os vencedores do Prêmio Jovem Pesquisador nas categorias Graduação, Mestrado e Doutorado. Os vencedores na categoria Graduação foram Klauss Villalva Serra Junior, com o trabalho “Assessing the impact of genexpert mitb/rif implementation on tuberculosis diagnosis and drug resistant tuberculosis control in brazil: an ecological analysis“(1º lugar), Rebeca Souza Borges, com o trabalho “Manifestações clínicas por faixa etária de pacientes com chikungunya atendidos em uma unidade de pronto atendimento de Salvador – BA, 2014-2023” (2º lugar) e Manuela Crispim Morais, com o trabalho “Avaliação da influência de polimorfismos genéticos em mao-a na recorrência de indivíduos com malária por Plasmodium vivax tratados com primaquina” (3º lugar).

Na categoria Mestrado, os escolhidos foram Yanka Karolinna Batista Rodrigues, com o trabalho “Gestação em mulheres com infecção prévia pelo vírus zika em Manaus, Amazonas: desfechos e transferência de anticorpos IgG” (1º lugar), Ana Carolina Marinho Monteiro Lima, com o trabalho “HBZ and tax role in the influence of FOXp3 regulation and inflammatory responses in people living with HTLV-1 with HAM/TSP” (2º lugar) e Amanda Carvalho de Oliveira, com o trabalho “Influência das variantes genéticas de CYP208, CYP2C9, CYP2C19, CYP3A4 e UGT2B7 nasrecorrências de malária por plasmodium vivax em indivíduos tratados com Dihidroartemisinina piperaquina” (3º lugar).

Por fim, na categoria Doutorado, os premiados foram Matheus Silva de Jesus, com o trabalho “Linear vs. conformational determinants: Elisa reactivity of l. infantum recombinant proteins and linear epitope mapping through microarray analysis” (1º lugar), Erika Gomez Martinez, com o trabalho “Avaliação da competência vetorial do Anopheles darlingi e o efeito da carga parasitária de Plasmodium vivax após tratamentos de pacientes com distintos antimaláricos” (2º lugar) e Geovani de Oliveira Ribeiro, com o trabalho “Unveiling the evolutionary journey of DENV in brazil: A 30-year phylogenomic and structural biology study on receptor interactions and circulating strains” (3º lugar).

Dando prosseguimento às premiações, foi anunciado o vencedor da Medalha do Mérito Científico Carlos Chagas deste ano. A honraria foi outorgada ao Professor Dr. Edgar Marcelino de Carvalho Filho. Graduado na Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (FMB-UFBA), que fez especialização em Imunologia e Reumatologia na Universidade da Virginia, em 1979, doutorado em Medicina Interna na UFBA e pós-doutorado em Imunologia na Weil Cornell University. Foi Professor Titular de Clínica Médica da UFBA e de imunologia da Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP) e Adjunct Professor da Universidade de lowa e da Well Comell Medical College, além de Professor Honoris Causa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Ao todo, já formou 23 mestres, 27 doutores e 13 Pós-doutores. Recebeu várias condecorações pelas suas contribuições científicas, entre elas, o prêmio Sendas em Medicina Tropical (1993), título de Comendador (2005), prêmio Roberto Santos (2018) concedido pela Academia de Ciências da Bahia (ACB), medalha de Mérito Científico (2022), pela Associação Baiana de Medicina (ABM), Medalha Samuel Pessoa (2023), outorgada pela Sociedade Brasileira de Protozoologia (SBPZ) e medalha de Honra ao Mérito pela Presidência da República (2023), ano em que também foi reconhecido internacionalmente por suas contribuições científicas (mais de 400 trabalhos publicados em revistas científicas) na patogênese, imunologia, manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento das doenças tropicais. Atualmente é especialista do Instituto Gonçalo Moniz da Fundação Oswaldo Cruz (IGM/Fiocruz/Bahia) e Coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Doenças Tropicais (INCT-DT). A honraria foi entregue pelo Dr. Sinval Pinto Brandão Filho e Dr. Mitermayer Galvão dos Reis.

Realizado no Centro de Convenções Salvador, a edição deste ano, que teve como tema central “Desafios para Medicina Tropical no século XXI. Como enfrentá-los?“, trouxe uma ampla programação, com tópicos desde doenças infecciosas tropicais emergentes até os avanços no diagnóstico e tratamento de doenças tropicais já conhecidas. Durante quatro dias, os inscritos no 58º MEDTROP tiveram a oportunidade de participar das reuniões satélites: Workshop Nacional da REDE-TB, Reunião Anual ChagasLeish e 8º Fórum Social Brasileiro para Enfrentamento de Doenças Infecciosas e Negligenciadas; dez cursos pré-congresso, sessenta mesas redondas; oitenta miniconferências, vinte conferências, duzentos temas livres para apresentação oral e duas mil apresentação de E-pôster, de forma a expandir os seus conhecimentos.

“Esperamos que as discussões e os conhecimentos compartilhados na 58ª edição do MEDTROP possam contribuir significativamente para a melhoria da saúde tropical no Brasil. A busca por soluções inovadoras e eficazes para os desafios médicos, científicos e acadêmicos que se apresentam nas regiões tropicais permanecem no centro das atenções da SBMT”, finaliza o Dr. Croda. O MEDTROP é um grande espaço para o intercâmbio científico, bem como uma oportunidade para os profissionais de saúde, que atuam tanto no território nacional como internacional, discutirem avanços científicos, compartilharem conhecimentos e promoverem debates relevantes no campo da saúde.

**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**