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Ameaça global do sarampo: mortes aumentam quase 50% em 2022

Na comparação com o ano anterior, foram aproximadamente 9 milhões de casos e 136 mil mortes, sendo as crianças as mais afetadas

03/01/2024

O sarampo é chamado de vírus da desigualdade porque a doença vai encontrar e atacar aqueles que não estão protegidos

O sarampo, doença prevenível por vacinação, tem apresentado um crescimento alarmante nos últimos anos, conforme relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês). De acordo com o “Progress Toward Measles Elimination — Worldwide, 2000–2022”, o mundo registrou uma alta de 43% nas mortes ligadas ao sarampo em 2022. A maior parte dos 9,23 milhões de infecções e das 136.200 mortes em 2022 ocorreram principalmente entre crianças, sobretudo em países mais pobres. Um aumento de 18% em relação ao ano anterior. Em comunicado, o CDC explicou que o aumento de surtos de sarampo e de mortes é impressionante, mas, infelizmente, não era inesperado, tendo em vista o declínio das taxas de vacinação dos últimos anos.

Os dados do novo relatório revelam ainda que 37 países enfrentaram surtos consideráveis ou perturbadores de sarampo em 2022, um aumento significativo em relação aos 22 países afetados no ano anterior. O impacto também foi desproporcional: 28 destas nações que enfrentaram a doença estão na região Africana, seis no Mediterrâneo Oriental, dois no Sudeste Asiático e um na Região Europeia. A cobertura estimada da segunda dose da vacina contra o sarampo amentou de 17% em 2000 para 74% em 2022. Entretanto, 11 milhões de crianças não receberam a segunda dose. O relatório estima que 57 milhões de mortes potenciais por sarampo foram evitadas durante um período de duas décadas (entre 2000 e 2022) devido à vacinação.

Em relação às taxas de imunização, o documento aponta que os países de baixa renda, onde o risco de morte por sarampo é maior, entre 2019 e 2021, a cobertura vacinal caiu de 71% para 67%, e, em 2022, para 66%. Das 22 milhões de crianças que perderam a primeira dose da vacina contra o sarampo em 2022, mais da metade vive em apenas 10 países: Nigéria (3 milhões), República Democrática do Congo (1,8 milhões), Etiópia (1,7 milhões), Índia (1,1 milhões), Paquistão (1,1 milhões), Angola (0,8 milhões), Filipinas (0,8 milhões), Indonésia (0,7 milhões), Brasil (0,5 milhões) e Madagáscar (0,5 milhões). Esses países representaram 55% de todas as crianças no mundo que não receberam a primeira dose da vacina contra o sarampo.

A vacinação tem sido uma das principais preocupações das organizações de saúde, principalmente depois que, em 2021, ter sido atingido o mais baixo valor de imunização contra o sarampo desde 2008.  Nas duas últimas décadas, os surtos de sarampo têm até aumentado em países onde isso não era esperado, como Israel, França, Canadá, Itália, Espanha ou Alemanha. A prioridade está centrada no reforço da vacinação nos países mais pobres, nos quais o acesso às vacinas é difícil, bem como impedir eventuais quebras nos países com maior taxa de imunização devido ao crescimento da recusa de vacinação por movimentos antivax. A cobertura de vacinação igual ou superior a 95% com duas doses da vacina contra o sarampo pode proteger de forma segura e eficaz contra a doença.

Brasil deixa de ser endêmico

O Brasil aparece no novo relatório da OMS entre os 10 países onde mais crianças perderam a primeira dose do imunizante em 2022. O resultado evidencia os retrocessos da imunização no País. Em 2016, o Brasil chegou a receber a certificação de eliminação do vírus. Após voltar a ter surtos registrados em 2018, o certificado de país livre do sarampo foi perdido em 2019. Em 2018, foram confirmados 9.325 casos da doença. A situação se agravou em 2019, com 20.901 diagnósticos. Desde então, os números vêm caindo: 8.100 em 2020, 670 em 2021 e 41 em 2022. O último caso foi confirmado em junho de 2022, no estado do Amapá.

No final de novembro, após 74 semanas sem novos registros da doença, o Brasil obteve a elevação de status de “país endêmico” para “país pendente de reverificação” do sarampo. Para isso, estão sendo implementadas ações conjuntas com estados e municípios para interromper a circulação do vírus, principalmente em quatro estados: Amapá, Pará, Rio de Janeiro e São Paulo. Em 2023, foram investidos R$ 724,1 milhões em ações de vigilância em saúde, laboratórios estaduais, imunobiológicos, capacitações e imunização, com estratégias de microplanejamento e multivacinação. A nova condição permite que o Brasil inicie o processo de recertificação de país livre de sarampo; categoria perdida em 2019.

Nova plataforma facilita acesso a informações sobre cobertura vacinal

Com o objetivo de facilitar a visualização e o acompanhamento dos indicadores de taxa de cobertura vacinal, o Instituto Questão de Ciências (IQC) lançou a plataforma VacinaBR, um espaço virtual interativo com dados, mapas e gráficos sobre a vacinação no Brasil. O nova espaço virtual, que foi desenvolvida pelo Observatório de Políticas Científicas do IQC, com o apoio da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), tem como objetivo contribuir para dar mais transparência às ações de imunização no País e facilitar o acesso a essas informações para pesquisadores, gestores, profissionais de saúde e jornalistas. Por ser de fácil acesso e uso intuitivo, a plataforma também pode ser utilizada por qualquer pessoa que tenha interesse nessas informações.

**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**