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Apesar do momento dramático, é possível fazer boa ciência no Brasil, garante doutor Stevens Rehen

O neurocientista defende ainda que a divulgação de resultados de pesquisas seja realizada de forma rápida e para toda a comunidade científica

04/10/2016
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Dr. Rehen acredita que o desafio para o pesquisador é diversificar as fontes de financiamento e captação de recursos, esteja ele no Brasil ou nos Estados Unidos

O doutor Stevens Rehen, além de um dos neurocientistas mais respeitados do Brasil, é ainda um profissional que acredita que dá, sim, para fazer ciência de ponta no País – mesmo com a difícil situação brasileira, tanto na economia quanto na política.

O Dr. Rehen, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio De Janeiro (UFRJ), é um dos profissionais que vêm desenvolvendo estudos dos efeitos do vírus Zika no cérebro em formação. Um desses trabalhos, feito em minicerébros infectados com o vírus, mostrou que o crescimento dos organóides foi 40% menor se comparado aos não infectados. O trabalho é uma das iniciativas brasileiras que tenta entender melhor como o vírus interfere no desenvolvimento dos neurônios. Consequentemente, poderá levantar formas para intervir nesse processo futuramente.

“Há dez anos nossa equipe no Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ e mais recentemente também no Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) utiliza modelos celulares baseados em células-tronco reprogramadas para estudar o desenvolvimento do cérebro e transtornos mentais. Utilizamos esses modelos, incluindo os minicérebros, para descrever pioneiramente a infecção destes pelo vírus zika, contribuindo decisivamente para elucidar os mecanismos subjacentes à microcefalia causada por este vírus”, explica.

Cientistas divergem

Apesar de acreditar que é possível fazer boa ciência no Brasil, há pesquisadores que discordam do posicionamento do Dr. Stevens Rehen. É o caso de outra grande neurocientista do País, a doutora Suzana Herculano-Houzel.

Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, em maio, a doutora Suzana afirmou que o fato de muitos dos pesquisadores do País serem funcionários concursados de universidades e instituições públicas, com poucos incentivos para aumentar sua produtividade e poucos riscos se produzirem pouco, atrapalha quem quer se destacar. A falta de foco nos investimentos em pesquisa, bem como a burocracia e os custos altíssimos, completam o cenário desanimador, segundo ela.

Na mesma entrevista, porém, a doutora Suzana destaca que há “ilhas de excelência” no Brasil, citando o trabalho do doutor Stevens Rehen, que recebe recursos da iniciativa privada, do Instituto DOr de Pesquisa e Ensino (IDOR).

“Respeito a posição de Suzana Herculano-Houzel, a quem tenho bastante carinho. Fomos contemporâneos de faculdade e depois docentes no mesmo instituto. A opção de Suzana é individual, mas suas críticas são pertinentes, coletivas e não podem ser ignoradas. Dito isso e apesar do momento tão dramático, é possível sim fazer boa ciência no Brasil. O desafio para o pesquisador é diversificar as fontes de financiamento e captação de recursos, esteja ele no Brasil ou EUA”, explica o doutor Rehen.

Divulgação de resultados científicos

O doutor Stevens Rehen é ainda um dos defensores de que a divulgação de resultados de pesquisas seja feita como preprints, ou seja, antes mesmo de submetidas a revistas com sistema de peer review.

Isso porque a divulgação de resultados na forma de preprints permite o compartilhamento rápido e também que outros cientistas façam críticas em tempo real trata-se de algo comum na área de física há muitos anos.

“O preprint compartilhado deve ser lido, criticado e comentado pelos pares. O objetivo é disseminar o conhecimento, com transparência, o que não interfere – ou não deveria interferir – com a submissão tradicional para as revistas científicas (peer-review)”, explica.