Após cinco anos, Brasil recebe recertificação de país livre do sarampo: um marco na saúde pública
O Brasil já havia sido classificado como zona livre do sarampo em 2016. No entanto, perdeu o certificado em 2019 após surtos da doença
03/12/2024O Brasil foi recertificado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) como um país livre do sarampo, um marco importante para a saúde pública nacional. A conquista, anunciada em 12 de novembro, é resultado dos esforços contínuos do sistema de saúde e da sociedade brasileira na promoção da vacinação e no controle da doença altamente contagiosa.
A recertificação ocorre após um período crítico entre 2018 e 2022, durante o qual o Brasil enfrentou surtos que comprometeram o status de país livre do sarampo, conquistado inicialmente em 2016. Em junho de 2022, o País confirmou o último caso autóctone de sarampo, registrado no estado do Amapá. Desde então, não foram identificados novos casos de transmissão local, com os registros restringindo-se exclusivamente a casos importados.
Neste ano, por exemplo, foram notificados quatro casos de sarampo, todos provenientes do exterior, envolvendo pessoas que chegaram ao Brasil de países como Paquistão, Inglaterra e Itália. Nenhum desses casos resultou em transmissão secundária. Em 2023, o Brasil avançou de “país endêmico” para “país pendente de reverificação”, um marco importante no caminho para recuperar o certificado de eliminação da doença. Essa mudança de status foi o primeiro passo para consolidar os esforços de controle e prevenção que culminaram na recertificação como país livre do sarampo.
Segundo o Dr. Renato Kfouri, presidente da Câmara Técnica de Verificação da Eliminação do Sarampo, Rubéola e Síndrome da Rubéola Congênita, o processo de recertificação exige uma análise rigorosa e vai além da simples ausência de casos notificados. “Existem critérios claros, como vigilância ativa, número esperado de casos suspeitos investigados, pesquisa laboratorial eficiente com resultados rápidos, isolamento de pacientes e vacinação de bloqueio em contatos próximos. Para chegarmos a esse status, monitoramos indicadores de vigilância e cobertura vacinal em todas as regiões”, explicou.
O especialista, que também preside o Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), destacou ações específicas que contribuíram para a recertificação. Entre elas estão oficinas de capacitação para profissionais de saúde, melhorias nos sistemas de informação e a implementação de estratégias de vacinação extramuros, realizadas em escolas, áreas de fronteira, portos e aeroportos. “Anúncios e campanhas educativas sobre o sarampo em pontos de entrada no país também são parte desse esforço”, acrescentou.
Vacinação como pilar fundamental
O Programa Nacional de Imunizações (PNI) oferece gratuitamente o imunizante contra o sarampo na rede pública, com o esquema vacinal ajustado de acordo com a faixa etária. No calendário infantil, a primeira dose é administrada aos 12 meses de idade, e a segunda, aos 15 meses. Para jovens de até 29 anos que ainda não foram vacinados, são recomendadas duas doses, com intervalo mínimo de um mês entre elas. A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) orienta que o intervalo não ultrapasse dois meses. Para adultos entre 30 e 59 anos, a vacinação consiste em apenas uma dose.
Apesar do avanço, o Dr. Kfouri, vice-presidente da SBIm, alerta que o maior desafio não é conquistar a recertificação, mas mantê-la. “O mundo não está livre do sarampo, ao contrário, as notificações na Europa, por exemplo, dispararam. Precisamos garantir que os casos importados não encontrem terreno fértil aqui. Isso exige vigilância constante, cobertura vacinal em dia e ações integradas de controle. Manter o Brasil livre do sarampo será um esforço contínuo”, enfatizou. Dados do Ministério da Saúde mostram que a cobertura vacinal contra o sarampo alcançou 95% entre crianças de um ano em 2023, atingindo a meta estipulada pela OPAS. Para ampliar ainda mais a proteção da população, o Ministério planeja intensificar campanhas de conscientização, com foco especial em aumentar a vacinação em outras faixas etárias, garantindo um controle mais robusto da doença.
A recertificação sublinha a importância de investir continuamente em estratégias de vacinação e vigilância epidemiológica para manter o sarampo sob controle no Brasil e na América Latina. “A conquista deve ser motivo de orgulho, mas também de alerta. Manter a vigilância e garantir a imunização são passos fundamentais para que continuemos protegendo nossa população. O sarampo é, em muitos casos, uma doença importada, o que reforça a necessidade de mantermos altas taxas de vacinação enquanto houver circulação do vírus em outras partes do mundo. Essa é a melhor maneira de evitar novos surtos,” conclui o Dr. Kfouri.
**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**