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Arcturus, nova variante da Covid-19 chega ao Brasil e casos de conjuntivite devem se intensificar

XBB.1.16 chega ao Brasil em época de clima seco, o que aumenta a chance de problemas oculares

09/06/2023

“Por enquanto, não há expectativa de que a XBB.1.16 venha a causar grandes problemas, contudo, quando se trata de Covid, as coisas podem mudar a qualquer momento”, diz infectologista

A nova variante do coronavírus Arcturus, também chamada de XBB.1.16, que surgiu na Índia em janeiro deste ano, já se alastrou por quarenta países, incluindo o Brasil . O primeiro caso brasileiro foi confirmado no dia 1º de maio pela Prefeitura de São Paulo. As características clínicas são semelhantes a outras subvariantes, como febre, tosse, dor de garganta, coriza e um fator novo, a conjuntivite viral. Até o momento, pesquisadores não encontraram características que indiquem que a Arcturus seja uma variante de preocupação, assim como a Ômicron, e no passado Alfa, Beta, Delta e Gama. A nova linhagem vem sendo tratada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), desde meados de abril, como uma variante de interesse (VOI, na sigla em inglês). Saiba mais sobre a subvariante Arcturus XBB.1.16.

A Dra. Mirian Dal Ben, graduada em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explica que a XBB.1.16 é uma linhagem derivada da Ômicron XBB, uma recombinante de duas linhagens descendentes BA.2. “Ela tem um perfil genético semelhante à outra variante de interesse, a XBB.1.5, com mutações adicionais dos aminoácidos E180V, K478R e S486P na proteína Spike, responsável por fazer a ligação com as células humanas. Como aprendemos com as outras variantes, provavelmente a XBB.1.16 tem uma vantagem seletiva em relação às demais, provavelmente por ser uma mais transmissível”, acrescenta a infectologista do hospital Sírio-Libanês.

Por enquanto, a variante parece estar infectando as pessoas mais suscetíveis, aquelas que não se imunizaram com as doses de reforço. Embora a eficácia das vacinas possa ser reduzida contra a Arcturus, elas continuam sendo uma ferramenta crucial para reduzir a gravidade dos casos e prevenir hospitalizações e óbitos. A vacinação tem sido fundamental nessa jornada. A Dra. Dal Ben ressalta que ainda não há dados ou estudos especificamente sobre a eficácia das vacinas contra a nova variante, nem in vitro. “Mas, com base em trabalhos que avaliaram a capacidade de neutralização dos anticorpos que adquirimos com a imunização nas variantes próximas à Arcturus (XBB e XBB.1), provavelmente teremos anticorpos neutralizantes com capacidade de neutralização menor. Por outro lado, graças aos esforços globais de produção e distribuição de vacinas, um número significativo de pessoas já foi imunizado, fortalecendo a proteção coletiva contra o vírus. Hoje temos uma população com imunidade híbrida, e isso deve garantir que grande parte das pessoas não apresente quadro clínico grave a ponto de necessitar de hospitalização. Além disso, o número de óbitos, proporcionalmente ao número de casos, não deverá ser elevado”, assinala.

Embora a XBB.1.16 tenha adquirido importância maior por estar se tornando mais prevalente e, em alguns países, apresente maior capacidade de transmissibilidade, a Dra. Dal Ben esclarece, que, mediante os dados disponíveis atualmente, a princípio, ela não é considerada uma variante de preocupação. “Obviamente tem sido monitorada, mas, por enquanto, não há expectativa de que venha a causar maiores problemas, da mesma forma como as outras variantes descendentes da XBB não provocaram grandes adversidades. Contudo, quando se trata de Covid, as coisas podem mudar a qualquer momento”, atenta. A cooperação entre governos, ciência e população tem sido fundamental. “Neste momento dispomos de mais dados do que no começo de abril, quando a nova variante começou a adquirir importância maior na Índia e até mesmo nos Estados Unidos, entretanto ainda não há trabalhos que nos elucidem sobre uma série de fatos. Apesar de ainda termos muito a aprender sobre a Arcturus, a colaboração global e o compartilhamento de informações entre os países desempenham papel crucial no monitoramento e na contenção de novas variantes”, finaliza a Dra. Dal Ben.

Para saber mais, confira o informativo técnico 52 “SARS-CoV-2 variants of concern and variants under investigation in England” e a avaliação de risco inicial da XBB.1.16, de 17 abril.

Inflamação da conjuntiva: uma manifestação clínica peculiar da Arcturus

A Índia foi o primeiro país a relatar uma manifestação clínica frequente nas infecções por esta nova variante, que é a conjuntivite. Ainda que as variantes anteriores, algumas vezes, tenham sido responsáveis por quadros de conjuntivite, esta forma de apresentação não era tão marcante e prevalente. Um estudo publicado no Medrxiv, site com versões pré-print de artigos científicos sobre ciências da saúde, intitulado “Preliminary clinical characteristics of Pediatric Covid-19 cases during the ongoing Omicron XBB.1.16 driven surge in a north Indian city”, mostra que 43% das crianças apresentavam conjuntivite dentre os sintomas da nova variante.

Os principais sinais e sintomas da conjuntivite são queimação, prurido, sensação de corpo estranho na vista (inicia-se unilateral e pode envolver o outro olho alguns dias depois), lacrimejamento, hiperemia (alteração na circulação sanguínea), edema palpebral e pontos de hemorragia subconjuntival. Dentre os cuidados necessários recomenda-se evitar colocar as mãos nos olhos; não coçar os olhos; lavar as mãos com frequência com água e sabão; não compartilhar toalhas, travesseiros, almofadas, maquiagens, cosméticos e colírios; fazer a compressas com água gelada (previamente filtrada e fervida) ou com soro fisiológico. A hidratação da mucosa nasal pode facilitar a drenagem e abreviar a recuperação.

Revelados detalhes inéditos do processo de maturação da proteína-chave para replicação do SARS-CoV-2

Um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e de São Carlos (UFSCAR) acaba de apresentar resultados de estudos que apontam para um novo entendimento do processo de maturação e a interferência de inibidores sobre a proteína Mpro, essencial para o ciclo de vida do vírus Sars-CoV-2 e alvo de vários esforços para desenvolvimento de medicamentos para tratamento da Covid-19. A pesquisa foi desenvolvida com ajuda do acelerador de partículas Sirius, fonte de luz síncrotron instalada em Campinas e uma das mais modernas do mundo. A descoberta ocorre no momento em que a nova variante XBB.1.16 chegou no Brasil. Para a descoberta, os cientistas brasileiros combinaram técnicas de ponta e assim demonstram que a molécula alvo de medicamentos tem comportamento diferente do que era previsto na teoria. O artigo “An in-solution snapshot of SARS-COV-2 main protease maturation process and inhibition”, foi publicado na renomada Revista Nature Communications.

OMS declara fim da Emergência de Saúde Pública

Em um anúncio histórico, a OMS declarou, no dia 05 de maio de 2023, em Genebra, na Suíça, o fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) referente à Covid-19. A organização ressaltou a importância da cooperação internacional contínua para monitorar de perto o surgimento de novas variantes e lidar prontamente com quaisquer desafios que possam surgir. O diretor-geral, Tedros Adhanom, informou que acatou a recomendação, que tem como base o acompanhamento do cenário epidemiológico da doença. “Por mais de um ano, a pandemia está em tendência de queda, com aumento da imunidade da população por vacinação e infecção, diminuição da mortalidade e da pressão sobre os sistemas de saúde”, disse.

O diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Dr. Jarbas Barbosa, saudou a decisão de aceitar a recomendação do Comitê de Emergência. “Não devemos baixar a guarda, precisamos continuar vacinando os grupos vulneráveis e fortalecendo a vigilância. Também é hora de nos concentrarmos em nos preparar melhor para futuras emergências e reconstruir um futuro mais saudável e sustentável”, assinalou.

O encerramento da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional não representa o fim da pandemia, mas indica um grande passo nesse sentido. Embora o anúncio seja motivo de celebração, é fundamental que governos, organizações de saúde e população permaneçam vigilantes para evitar retrocessos e garantir um futuro mais seguro para todos. A jornada tem sido longa e desafiadora, mas a ciência e a determinação humana prevalem e oferecem esperança para o futuro.

**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**