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Artigo científico revela importância de métodos moleculares para diagnóstico de doença por Rickettsia

Estudo publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical destaca avanços no uso de métodos moleculares para diagnosticar a febre maculosa

03/12/2024

Técnicas como a PCR e suas variações superam os métodos tradicionais ao oferecer maior precisão e sensibilidade na detecção do DNA bacteriano, possibilitando diagnósticos rápidos e eficazes

Um artigo de revisão publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical intitulado “Spotted fever diagnosis using molecular methods apresenta uma análise abrangente dos avanços no diagnóstico molecular da febre maculosa, doença causada por bactérias do gênero Rickettsia. De acordo com a revisão, técnicas como a reação em cadeia da polimerase (PCR) e suas variações demonstraram elevada sensibilidade diagnóstica, oferecendo uma ferramenta fundamental para enfrentar essa doença grave, caracterizada por alta letalidade e crescente expansão em regiões tropicais.

“A febre maculosa representa um desafio significativo para o diagnóstico clínico e laboratorial, especialmente em seus estágios iniciais, como ocorre com outras doenças”, explica o Dr. Alexsandro Galdino, coordenador do estudo e professor da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Ele destaca a necessidade de desenvolver um teste sorológico rápido, com alta sensibilidade e especificidade, para identificar a doença precocemente. “Os métodos sorológicos convencionais, apesar de amplamente utilizados, apresentam baixa sensibilidade em fases iniciais, quando comparados aos métodos moleculares, o que impacta negativamente na indicação para tratamento imediato”, diz. Para solucionar os desafios diagnósticos da febre maculosa e de outras doenças negligenciadas, o grupo de pesquisa liderado pelo prof. Galdino vem desenvolvendo antígenos com elevada sensibilidade diagnóstica. “O objetivo é criar tecnologias do tipo Point-Of-Care (POC), que permitem a realização de testes diretamente no local de atendimento. Essas ferramentas são rápidas, ideais para triagens iniciais e facilitam a identificação precoce, principalmente em regiões com infraestrutura limitada, aumentando as chances de um tratamento imediato e eficaz”, acrescenta.

Por outro lado, técnicas como a PCR, considerada um teste confirmatório e padrão-ouro, permitem detectar com precisão o DNA de bactérias do gênero Rickettsia em amostras humanas. O estudo também destacou variações dessa metodologia, como a qPCR, que realiza análises em tempo real, e o LAMP, uma técnica mais acessível, ideal para regiões com recursos limitados. “Desde 2015, observou-se um aumento no uso de métodos moleculares para detectar Rickettsia spp, o que representa um avanço significativo nas pesquisas e no interesse por melhorar a detecção precoce da doença,” enfatiza o Dr. Galdino.

Entre 2007 e 2021, o Brasil registrou 36.497 notificações de febre maculosa, das quais apenas 7% foram confirmadas, com uma média anual de 170 casos. Dos 2.545 casos confirmados, 2.538 relataram situações de exposição a riscos, sendo que 68,5% desses indivíduos frequentaram ambientes de mata. Quanto à exposição a animais, 74,7% relataram terem sido expostos a carrapatos, enquanto 41% indicaram exposição a cães e gatos. A maioria dos infectados eram homens (70,7%), com predominância na faixa etária de 35 a 49 anos, segundo dados do Ministério da Saúde. Entre as doenças transmitidas por vetores, a febre maculosa é uma das mais letais, ao lado da febre amarela. Sua taxa de letalidade é alarmante, em torno de 50%, o que reforça a necessidade de diagnósticos rápidos e precisos para reduzir o impacto da doença e salvar vidas.

Apesar de seu potencial, a implementação de métodos moleculares ainda enfrenta desafios importantes. A falta de padronização global, os custos elevados e a sensibilidade variável, dependendo do estágio da doença, são barreiras significativas. “Precisamos de mais estudos multicêntricos que validem essas técnicas em larga escala e ampliem seu uso em regiões de baixa renda”, afirma o pesquisador. Além disso, a baixa quantidade de DNA bacteriano nas fases iniciais da infecção e a escolha correta do tipo de amostra, como sangue ou tecido, são fatores fundamentais para o sucesso do diagnóstico.

A disseminação de métodos moleculares acessíveis e precisos pode transformar o enfrentamento da febre maculosa em todo o mundo, especialmente em países tropicais. “Estamos em um momento decisivo para integrar essas tecnologias à rotina clínica. Isso pode salvar vidas e reduzir significativamente a mortalidade associada à doença. Acreditamos que esses avanços devem ajudar a conter surtos e garantir diagnósticos mais rápidos e precisos, com um impacto significativo na saúde pública global”, conclui o Dr. Galdino.

No Brasil, duas espécies de riquétsias estão associadas a quadros clínicos da febre maculosa: Rickettsia rickettsii, responsável pelos casos mais graves, registrada no norte do estado do Paraná e nos estados da região Sudeste, e a Rickettsia parkeri, que tem sido registrada em todas as regiões do Brasil, estando associada a quadros clínicos menos graves.

**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**