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Brasil intensifica controle do Aedes com Estações Disseminadoras de Larvicidas

Estratégia vira política nacional e a expectativa é de que a medida contribua para reduzir os vetores

30/07/2024

Atualmente, a estratégia está sendo iniciada para 15 cidades selecionadas para avaliação contínua de seus efeitos

Em uma iniciativa inovadora, o Ministério da Saúde, com apoio técnico do grupo de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/Manaus), liderado pelo Dr. Sérgio Luz, está implementando Estações Disseminadoras de Larvicidas (EDLs) em municípios brasileiros para combater o mosquito Aedes spp., responsável pela transmissão de doenças como dengue, Zika e Chikungunya. A medida é parte de uma estratégia abrangente de controle vetorial, baseada em pesquisas de sucesso. As estações funcionam atraindo os mosquitos para depósitos de água que são recobertos por um tecido com larvicida, que, após o pouso e contato do inseto nessa superfície, ficam aderidos às patas e partes do corpo desses mosquitos. Posteriormente, na procura por novos criadouros, os mosquitos levam e disseminam o larvicida a outros criadouros. Este método não apenas diminui a quantidade de mosquitos adultos, mas também reduz significativamente a transmissão de doenças.

O Dr. Luz explica que a estratégia de utilização das EDLs começou a partir de publicações científicas dos anos 90. “Takaki Itoh, um cientista japonês, demonstrou que os mosquitos eram potenciais carreadores de larvicida. Em seus experimentos de laboratório, ele comprovou que esses insetos podiam espalhar larvicidas que ficavam aderidas em seus corpos. Com base na informação de que o Aedes aegypti distribui seus ovos em vários criadores, desenvolvemos as EDLs: um pote plástico com água, revestido com um pano preto coberto com larvicida. O mosquito é atraído para colocar ovos nesse local, e ao tocar o pano, leva partículas de larvicida. Assim, quando coloca ovos em outros lugares, dissemina o larvicida, que mata as larvas”, detalha. Ainda segundo o pesquisador, essa estratégia é essencial porque mais de 70% dos criadouros de Aedes estão dentro das casas, muitas vezes inacessíveis ou em terrenos baldios. As EDLs auxiliam no controle das formas imaturas do vetor.

As EDLs foram inicialmente testadas em Manaus, onde havia uma base de dados que possibilitava reconhecer a dinâmica populacional dos mosquitos naquele território. “Promovemos uma intervenção colocando estações nessa área e percebemos que o efeito foi muito expressivo. Constatamos a eficácia do larvicida e sua disseminação a mais de 400 metros das estações. Em seguida, aplicamos a estratégia em Manacapuru, cidade próxima à capital, cobrindo toda a cidade com mil estações disseminadoras. Os resultados foram surpreendentes, com uma significativa redução do Aedes aegypti e do Aedes albopictus durante os cinco meses de intervenção e, após, por mais três meses, efeito residual muito importante”.

Política pública nacional

De acordo com o Dr. Luz, o Ministério da Saúde, em busca de novas estratégias de controle, colaborou com a equipe para implementar as EDLs em outras regiões do Brasil: Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste, a fim de observar como elas funcionariam em escalas maiores e em diferentes condições ambientais e climáticas. “Recentemente, o Ministério da Saúde reconheceu o potencial dessa estratégia, incorporando-a no programa de controle vetorial. Com isso, o Brasil tornou-se o primeiro país do mundo a adotar essa abordagem em um programa de controle oficial. Atualmente, a estratégia está sendo iniciada para 15 cidades selecionadas para avaliação contínua de seus efeitos e para que ela possa ser capilarizada dentro dos programas de controle, chegando a uma escala que permita trabalhar com todas as cidades brasileiras”, destaca. Além disso, a equipe está desenvolvendo uma versão mais adequada das EDLs para facilitar a aplicação em larga escala e maximizar os recursos dos programas de controle.

A oficialização da utilização das EDLs – tecnologia desenvolvida pelo Núcleo de Patógenos, Reservatórios e Vetores na Amazônia (PReV Amazônia), do Laboratório Ecologia de Doenças Transmissíveis na Amazônia (EDTA), da Fiocruz Amazônia – como estratégia nacional para o controle do Aedes aegypti e Aedes albopictus se deu por meio da nota técnica informativa Nº 25/2024-CGARB/DEDT/SVSA/MS, publicada em junho deste ano.

Embora as EDLs sejam uma ferramenta promissora, elas devem ser utilizadas como parte de um conjunto de ações, incluindo a eliminação de criadouros, o uso de repelentes e a conscientização pública. “Essa estratégia é mais uma a entrar no rol daquelas já conhecidas para o controle vetorial. Ela vem ajudar, não resolve todos os problemas, mas contribui significativamente para o controle da dengue. Entretanto, a colaboração da população, mantendo os terrenos limpos e sem acúmulo de água, continua essencial. A nova estratégia se soma a esses esforços para combater as epidemias constantes no País e no mundo”, finaliza do Dr. Luz. Além da implementação das estações, a Fiocruz está realizando treinamentos técnicos e disponibilizando um curso online gratuito “Estratégia de Disseminação de Larvicida para combate ao mosquito Aedes: Orientações técnicas para a implantação e manutenção de Estações Disseminadoras de Larvicida (EDL) para o controle de Aedes spp., para profissionais de saúde e campanhas de conscientização para a população, explicando como as EDLs funcionam e como todos podem contribuir para o sucesso dessa estratégia.

A colaboração entre governo, comunidade científica e população é essencial para vencer a batalha contra o Aedes. À medida que as EDLs são instaladas em mais municípios, espera-se uma queda significativa nas incidências de dengue, Zika e Chikungunya, doenças que há anos afligem a população brasileira. Esta nova estratégia representa um passo importante na direção de um Brasil mais saudável e livre das doenças transmitidas por vetores.

 

**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**