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Brasil na vanguarda global: saúde única para populações ribeirinhas

Dengue, chikungunya, zika, febre do Nilo ocidental, Mayaro, Oropouche, Covid, Influenza, HIV e HTLV, sífilis, leptospirose, febre maculosa, leishmaniose, doenças fúngicas e parasitoses intestinais são doenças que serão analisadas no projeto

07/12/2023

Estão sendo realizados testes rápidos para hepatites A, B, C e D, HIV, Sífilis, malária, Covid-19, Influenza a e B, e vírus respiratório Sincicial, Leishmaniose, doença de Chagas

Uma parceria inovadora entre a Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso do Sul (SES-MS), a Marinha do Brasil e a Fundação Oswaldo Cruz de Minas Gerais (Fiocruz Minas) irá revolucionar a saúde das populações ribeirinhas. Trata-se do Projeto Navegação Ampliada para a Vigilância Intensiva e Otimizada (NAVIO), que tem como objetivo ampliar as ações de vigilância em saúde da Marinha do Brasil, implementando o conceito de “Saúde Única”, monitorando  os marcadores de alterações do clima e implantando ações de soroprevalência de patógenos virais, bacterianos, fúngicos e parasitários; realizar a detecção de patógenos emergentes e reemergentes, bem como a descrição de novos patógenos; vigilância genômica (para vírus, bactérias, fungos e parasitas) e metatranscriptômica, e vigilância dos fatores relacionados às alterações climáticas. Entre as principais doenças alvo do projeto estão: dengue, chikungunya, zika, febre do Nilo ocidental, Mayaro, Oropouche, Covid-19, Influenza, HIV, HTLV, sífilis, leptospirose, febre maculosa, leishmaniose, doenças fúngicas e diferentes parasitoses intestinais.

As atividades  têm sido realizadas em três navios da Marinha e aproximadamente 30 pesquisadores estão a bordo do Navio de Assistência Hospitalar (NAsH) “Tenente Maximiano”, do Navio de Apoio Logístico Fluvial (NApLogFlu) “Potengi” e do Navio-Transporte Fluvial “Paraguassu”, sob a responsabilidade dos  comandantes Igor Cobellas, Thiago Moret e Jackson Silva, respectivamente. Essa parceria pioneira enfatiza não apenas a importância da cooperação entre instituições governamentais e científicas, além de reforçar o compromisso com a saúde das populações mais vulneráveis. O projeto, que conta com o apoio de diversas instituições, incluindo universidades, órgãos de pesquisa, entidades internacionais e outras, está em execução desde o dia 20 de novembro e teráiduração de 5 anos. Nele também está sendo realizada triagem através de testes rápidos para melhor entendimento do perfil dos indivíduos dessas comunidades ribeirinhas, como por exemplo, para hepatites A, B, C e D, HIV, sífilis, malária, Covid-19, influenza a e B, e vírus respiratório sincicial,leishmaniose, doença de Chagas, entre outros.

De acordo com o pesquisador da Fiocruz Minas, idealizador e coordenador do Projeto NAVIO, Prof. Luiz Alcântara, junto com a Secretária Adjunta de Saúde do Estado do Mato Grosso do Sul, Dra. Christinne Maymone, participam do estudo indivíduos de 53 comunidades ribeirinhas do lado brasileiro, atendidas nas 5 paradas, durante as 5 viagens, para o Sul do Rio Paraguai – chamada de Tramo Sul: de Ladário, no Mato Grosso do Sul (MS), para Porto Murtinho, no mesmo estado; e das 5 paradas, durante as 5 viagens, para o Norte do Rio Paraguai – chamada de Tramo Norte: de Ladário para Cáceres, no Mato Grosso. Além da pesquisa, há prestação de serviços médicos e odontológicos para comunidades do Paraguai e Bolívia que atravessam o rio para o lado brasileiro. Em relação aos principais desafios que a equipe deve enfrentar ao longo dos 5 anos do projeto, o Dr. Alcântara menciona a descoberta de novos vírus, o desenvolvimento de mecanismos educativos de profilaxia das doenças encontradas, a busca de apoio dos municípios inseridos, bem como dos estados e do Ministério da Saúde para que as populações ribeirinhas tenham toda a atenção e suporte necessários para tratamento das doenças e para a vigilância ativa dos patógenos detectados.

Os dados gerados vão contribuir para aprimorar políticas de saúde e intervenções direcionadas. A integração de informações genômicas, epidemiológicas e climáticas podem orientar as autoridades de saúde na antecipação e resposta a eventos de propagação de doenças. “As ferramentas desenvolvidas a partir da integração desses dados irão proporcionar uma visão holística dos fatores que influenciam a ecologia das doenças. Isso irá permitir prever surtos e implementar medidas preventivas e de controle com maior eficácia. Esse conhecimento é essencial para orientar as ações das autoridades de saúde pública, ajudando a antecipar e responder rapidamente a eventos de propagação de doenças, minimizando os impactos na saúde das populações afetadas, ressalta o pesquisador.

Vigilância genômica para enfrentamento de doenças em comunidades ribeirinhas

O coordenador do projeto explica que a integração da metagenômica com a eco-epidemiologia representa um avanço crucial no campo da vigilância e controle de doenças infecciosas em um contexto de mudanças climáticas. Segundo ele, ao combinar a análise genômica com dados sobre os ecossistemas e o clima, é possível identificar as interações complexas entre os patógenos, seus vetores, os hospedeiros e o meio ambiente em constante transformação. “Compreender essas interações permite adaptar e aprimorar as estratégias tradicionais de vigilância e controle, levando em conta os desafios e urgências trazidas pelas mudanças climáticas. Além disso, essa abordagem inovadora pode lançar luz sobre a emergência e reemergência de patógenos virais em novas regiões, fornecendo informações valiosas para enfrentar as doenças infecciosas que se espalham em um mundo em transformação”, frisa.

A combinação de análises genômicas de alta resolução com dados epidemiológicos e climáticos permite uma compreensão mais ampla das interações complexas entre patógenos, vetores, hospedeiros e o ambiente, especialmente ao considerar os efeitos das mudanças climáticas nessas regiões. Segundo o professor ao integrar dados genéticos e climáticos, o projeto pretende identificar locais prioritários para vigilância, levando em conta o estresse climático que pode aumentar o risco de transmissão de doenças infecciosas. “As ferramentas desenvolvidas a partir desses dados integrados podem ajudar prever surtos com maior precisão e implementar medidas preventivas e de controle mais eficazes”, detalha ao acrescentar que o sistema móvel de monitoramento genômico, instalado em um navio da marinha, permite a coleta de amostras biológicas de indivíduos que vivem ao longo dos rios, capacitando os profissionais de saúde locais para detectar e relatar prontamente casos suspeitos.

Além de contribuir de alguma maneira para tornar estas comunidades sustentáveis, o projeto tem o intuito de melhorar a saúde pública e o bem-estar das comunidades a longo prazo, com planos para gerenciar surtos, melhorar respostas emergenciais e desenvolver estratégias preventivas. “Um plano de ação para gerenciamento e controle de surtos de doenças virais identificadas será desenvolvido, para que se possa responder de forma mais rápida e eficaz às doenças emergentes. O projeto NAVIO é uma abordagem inovadora que combina a metagenômica com a eco-epidemiologia para enfrentar os desafios da vigilância e controle de doenças infecciosas em áreas remotas e afetadas pelas mudanças climáticas. A integração desses conhecimentos pode fornecer informações valiosas para enfrentar as doenças infecciosas emergentes e reemergentes em um mundo em constante transformação”, conclui o Dr. Alcântara.

Ao investir em vigilância genômica, essa colaboração abre portas para intervenções mais precisas e direcionadas, alinhando-se com os avanços necessários para promover a saúde pública e a equidade nas regiões ribeirinhas do Brasil. O projeto, que faz parte do consórcio internacional CLIMADE, conta ainda com o apoio da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde (SVSA/MS), Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso do Sul (SES-MT), Fiocruz MS, LACENs de MS, MT, MG e PR, Universidades Federais de Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Ouro Preto, Universidades Estaduais do MS e de Feira de Santana da Bahia, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Organização Pan-Americana da Saúde/ Organização Mundial da Saúde(OPAS/OMS), Ministério da Saúde, Loccus Solution, Biomanguinhos, Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), Prefeituras de Ladário, Corumbá e Porto Murtinho, Instituto Erasmus de Roterdan (Holanda), Universidade de Stellenbosch (África do Sul) e Universidade de Sidney (Austrália), National Institutes of Health (NIH), dos Estados Unidos.

 

Tecnologia móvel para monitoramento genômico em regiões remotas do MT e MS

Um novo sistema móvel de monitoramento genômico pode ser implantado em áreas remotas dos estados do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, com foco em comunidades vulneráveis, conforme adianta o Dr. Alcântara. Esta iniciativa tem como objetivo fortalecer a prevenção e controle de epidemias, alcançando áreas remotas e locais de difícil acesso. De acordo com o pesquisador, a implementação desse sistema integrado de vigilância, com uso de tecnologias de sequenciamento genético, é crucial para lidar com a detecção e controle de patógenos virais emergentes e reemergentes, principalmente em áreas ribeirinhas desses estados, onde essas comunidades enfrentam dificuldades significativas para acessar cuidados médicos adequados devido à distância geográfica, infraestrutura precária e recursos limitados, expondo-as a diversos riscos à saúde. “Nossa proposta é introduzir um sistema móvel instalado em um navio da marinha para realizar monitoramento genômico itinerante nas populações ribeirinhas desses dois estados, o que vai permitir coletar amostras biológicas de indivíduos que vivem ao longo dos rios, realizar análises genômicas de alta resolução e estabelecer um banco de dados genômico para monitoramento contínuo e vigilância epidemiológica”, justifica.

Os dados gerados serão integrados a informações climáticas e epidemiológicas para identificar locais prioritários para vigilância, considerando o risco de transmissão e exposição a zoonoses emergentes em cenários de estresse. Segundo o Dr. Alcântara, monitorar essas mudanças em populações ribeirinhas é crucial, pois o aumento das temperaturas e eventos climáticos extremos influenciam a propagação de doenças. “A combinação de dados genômicos e climáticos, presentes e de cenários prováveis futuros, permite a identificação de áreas propensas à emergência de patógenos virais e a detecção de tendências e padrões que antes passavam imperceptíveis anteriormente. Essa análise detalhada dos vírus e seus vetores nos ajuda a prever áreas de risco para doenças infecciosas à medida que as mudanças climáticas se intensificam”, complementa ao dizer que com a análise de nichos específicos tanto para as viroses quanto para seus insetos vetores, é possível identificar regiões onde as mudanças climáticas estão se ampliando, ou irão ampliar o risco de transmissão e propagação de doenças infecciosas.

**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**