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Brasil está em alto risco de futuras epidemias, diz especialista em doenças infecciosas emergentes

Para o professor do programa de Doenças Infecciosas Emergentes da Duke National University of Singapore Medical School, Mayaro e outros podem emergir da bacia Amazônica

07/11/2017
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Pela primeira vez se identifica falhas no nosso pensamento e crenças de que arbovirus requerem um reservatório vertebrado para permanecer na natureza

Publicado recentemente o trabalho “Vertebrate Reservoirs of Arboviruses: Myth, Synonym of Amplifier, or Reality?”, aborda questões controversas relativas aos reservatórios de vertebrados e seu papel na persistência de arbovírus na natureza, examina a gênese do problema a partir de uma perspectiva histórica, discute várias questões não resolvidas a partir de múltiplos pontos de vista, além de avaliar o status atual fornecendo opções para uma solução para o problema. Para o doutor Duane J Gubler, Professor Emérito do Programa de Doenças Infecciosas Emergentes da Duke National University of Singapore Medical School, um dos autores da obra, este trabalho se tornará um artigo inovador no campo de arbovirologia. “Pela primeira vez ele identifica falhas no nosso pensamento e crenças de que arbovírus requerem um reservatório vertebrado para permanecer na natureza. Eu também penso que o trabalho influenciará novas correntes de pensamento de como e onde os arbovírus evoluem”, aponta.

Questionado se sobre a definição atual de um reservatório, se existe realmente, ou estamos mudando para o conceito de reservatório transitório com o tempo em função da infecção e da dinâmica de transmissão, ou seja, os mesmos eventos na transmissão de Zika podem levar semanas, enquanto esses eventos no vírus da encefalite transmitida por carrapato podem levar anos, o doutor Gubler, que também foi diretor do Instituto Ásia-Pacífico de Medicina Tropical e Doenças Infecciosas, John A Burns School of Medicine, Universidade do Havaí em Manoa, ressalta que não existe reservatório documentado, como por definição, para qualquer arbovírus, conforme declarado no artigo. “Isso não significa que eles não existem, mas até o momento nenhum foi documentado. Eu acredito que devemos começar a pensar em termos de artrópodes serem os principais reservatórios, e vertebrados os hospedeiros amplificadores para alguns vírus, especialmente os flavivírus”, observa.

Sobre como o conceito se relaciona com a epidemiologia, emergência e controle das recentes pandemias de arbovírus, como chikungunya e Zika, o pesquisador não considera que isso tenha muito impacto em como abordamos prevenção e controle. “Ainda precisamos controlar os artrópodes e proteger os seres humanos com vacinas e drogas. Acho que precisamos combinar ambas as abordagens se quisermos ter sucesso em controlá-las”, completa.

Por fim, o doutor Gubler fala sobre os riscos dos arbovírus para o Brasil. Em sua opinião, como demonstrado pelas recentes epidemias de dengue, chikungunya, Zika e febre amarela, o Brasil se encontra em alto risco de futuras epidemias, especialmente àquelas cujos vírus são transmitidos pelo Aedes aegypti em áreas urbanas. “Além disso, o País concentra muitos outros vírus, como Mayaro e outros que podem emergir da bacia Amazônica”, adverte.