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Dispositivo simples de tratamento da água pode reduzir diarreia infantil

Um dispositivo automático de cloro instalado em pontos de água compartilhados da comunidade pode reduzir as taxas de diarreia em crianças

02/10/2019
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Pesquisadores esperam que a técnica possa melhorar a captação, fornecendo água com bom gosto e evitando a necessidade de mudança de comportamento

Em 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu o acesso à água e ao saneamento básico como um direito universal. Desde então, os países membros precisam trabalhar para que as pessoas tenham acesso a estes direitos até 2030. A meta, no entanto, parece distante. A doença diarreica, por exemplo, que acomete pessoas com acesso limitado à água limpa, que vivem em situação de vulnerabilidade e de pobreza, em condições precárias de higiene e de saneamento, é responsável por 88% das mortes infantis, chamadas mortes evitáveis. A diarreia é a segunda principal causa de morte infantil em todo o mundo, mata, em média, uma criança com menos de 5 anos a cada minuto. Um Relatório do Banco Mundial, divulgado em 2017, (Reducing Inequalities in Water Supply, Sanitation, and Hygiene in the Era of the Sustainable Development Goals), revelou que em Bangladesh, por exemplo, foi detectada a presença da bactéria E. coli em aproximadamente 80% das torneiras da amostra, taxa semelhante foi extraída na água da lagoa.

Mas pesquisadores demonstraram que um dispositivo simples pode reduzir as taxas de diarreia infantil. Os resultados do teste conduzido durante dois anos sobre o impacto na saúde em Bangladesh (“Effect of in-line drinking water chlorination at the point of collection on child diarrhoea in urban Bangladesh: a double-blind, cluster-randomised controlled Trial”) revelou que o uso do dispositivo na entrada de um sistema de tratamento de água de tanque doméstico reduziu a diarreia definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em crianças em mais de 25% em comparação com a água não tratada. A pesquisa teve como objetivo avaliar se a cloração passiva poderia reduzir a diarreia infantil em um ambiente urbano de baixa renda. O estudo foi publicado em setembro, na revista científica jounal Lancet Global Health.

Os resultados obtidos com a utilização do dispositivo de tratamento de água de baixo custo foram comemorados pelos pesquisadores que agora esperam que a técnica possa melhorar a captação, além de fornecer água com bom gosto e evitar a necessidade de tratamento em casa, proporcionando melhorias em relação a outras estratégias de purificação, o que pode aumentar significativamente a aceitação. Uma das autoras da pesquisa, a Dra. Amy Pickering, explica que o dispositivo é instalado no interior das caixas dágua e à medida que a água flui, ele adiciona a quantidade certa de cloro para desinfectar. Para ela, essa tecnologia simples e independente de eletricidade pode ser transformadora na ampliação do tratamento da água em favelas e na redução da diarreia infantil “Estamos confiantes que essa abordagem possa ser transformadora, uma vez que elimina a carga do usuário. Os moradores podem coletar água da maneira que normalmente coletariam, e a água é segura por padrão”, destaca.

A cloração é uma das maneiras mais baratas e amplamente disponíveis de desinfectar a água, mas o sabor e o odor do produto químico são barreiras significativas para muitas pessoas. Mas de acordo com a autora, a tecnologia utilizada neste teste foi capaz de automaticamente adicionar o cloro na quantidade certa para inativar bactérias e vírus, bem como possibilitou a certificação de que o nível de cloro não afetaria o gosto da água ao dosar abaixo do limite de sabor para a maioria dos moradores. “Isso aumentou a aceitação da tecnologia”, assinala. Para evitar água de mau gosto, os pesquisadores consultaram os moradores de Dhaka (Bangladesh) para descobrir quanto cloro poderia permanecer na água sem ser questionável. Em seguida, eles definiram os dosadores de cloro para fornecer baixos níveis nos primeiros meses, para que as pessoas se acostumassem com o sabor. Mais tarde, eles elevaram essa quantidade a um nível que purificou a água de maneira eficaz, permanecendo aceitável em termos de sabor. A água tratada tinha uma probabilidade quatro vezes menor de conter E. coli.

Sistema de desinfecção de água Aquatabs Flo

Trabalhando em duas comunidades pobres de Dhaka, os pesquisadores testaram uma maneira de tratar a água, chamada Aquatabs Flo, um sistema de desinfecção de água de baixo custo, de fácil instalação e sem manutenção, que pode ser adaptado na caixa dágua em 30 minutos. O sistema torna a água segura e a mantém segura no tanque devido ao equilíbrio residual inovador. Nos países em desenvolvimento, poucas cidades são capazes de manter sistemas de água totalmente pressurizados que bombeiam a água de maneira consistente o tempo todo. Mesmo que seja seguro na fonte, a água nesses sistemas corre o risco de se contaminar enquanto estiver armazenada em tubulações. Cerca de 1 bilhão de pessoas que acessam a água através de sistemas de tubulação a recebe de forma que não atende aos padrões internacionais de segurança. Já o tratamento a nível comunitário proporciona o panorama de oferecer água potável segura a moradores vulneráveis de favelas em todo o mundo.

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De acordo com o diretor médico da Aquatabs Flo, Dr. Michael Gately, a unidade de desinfecção mata com segurança microorganismos, eliminando bactérias e vírus, além de controlar a Legionella e prevenir biofilme. “A simplicidade do design permite que seja automaticamente desinfectada assim que entra no tanque, sem uso de eletricidade. Além disso, o dispositivo está de acordo com as performances recomendadas pela OMS Internacional para tratamento de água em residências”, esclarece.

Até o momento foram realizados testes com o dispositivo em Bangladesh, Venezuela, Quênia, Nigéria, Colômbia, Uganda e Tailândia. Ele foi instalado em mais de 20 mil escolas na Nigéria e no Quênia, e agora 10 milhões de crianças têm água segura para beber nas escolas. “Nossos parceiros Impact Water Nigéria foram anunciados como finalistas do Accelerate 2030, iniciativa social que usa Aquatabs Flo para ampliar o acesso a água potável nas escolas nigerianas”, comemora o médico. Saiba mais: https://accelerate2030.net/impact-water/. Já na Tailândia, a Medentech se associou a WARIDI e a autoridade local de água para testar o Aquatabs Flo e sua irmã maior, a Aquatabs InLine. Água limpa e segura para consumo será fornecida para 13 mil pessoas, adiantou o Dr. Michael Gately. Saiba mais: https://resonanceglobal.com/working-private-sector-unlock-access-clean-water-sanitation-tanzania/.

“Essa primeira fase tem sido um sucesso e os relatórios finais são esperados a qualquer momento. Contudo, outro estudo no local está confirmado. Esses testes são executados para demonstrar que sistemas de água limpa podem ser eficientes, facilmente controlados e mantidos. Mas o mais importante, de baixo custo e acessíveis a toda comunidade”, assinala o Dr. Michael Gately ao dizer que após os testes com sucesso e o uso em curso de Aquatabs Flo em escolas e centros de saúde, agora estão em busca de parceiros internacionais para levar esse sistema inovador para as comunidades emergentes do mundo inteiro.

Uma em cada três pessoas no mundo não tem acesso água potável

De acordo com um novo relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e da Organização Mundial de Saúde (OMS), publicado em junho, bilhões de pessoas em todo o mundo continuam sofrendo com a falta de acesso a água, saneamento e higiene. O relatório do Programa de Monitoramento Conjunto (“Progress on drinking water, sanitation and hygiene: 2000-2017: Special focus on inequalities”), revela que, embora tenha havido progressos significativos para alcançar o acesso universal à água, saneamento e higiene básicos, há enormes lacunas na qualidade dos serviços prestados. “O mero acesso não é suficiente. Se a água não for limpa, não será segura para beber. Se está distante e se o acesso ao banheiro é inseguro ou limitado, então não estamos entregando esses serviços às crianças do mundo”, disse Kelly Ann Naylor, diretora associada de água, saneamento e higiene do UNICEF.

O documento destaca ainda que todos os anos, 297 mil crianças com menos de 5 anos morrem devido à diarreia associada à água, saneamento e higiene inadequados. Saneamento deficiente e água contaminada também estão ligados à transmissão de doenças como cólera, disenteria, hepatite A e febre tifóide. Ainda segundo o relatório, estima-se que 1 em cada 10 pessoas (785 milhões) ainda carece de serviços básicos, incluindo as 144 milhões que bebem água sem tratamento. Os dados demonstram que 8 em cada 10 pessoas que vivem em áreas rurais não têm ace

sso a esses serviços; além disso, em 1 a cada quatro países com estimativas para diferentes grupos de renda, a cobertura de serviços básicos entre os mais ricos era pelo menos duas vezes maior do que entre as pessoas mais pobres.

Alcançar as metas do Objetivo de Desenvolvimento sustentável (ODS) vai exigir empenho e os países devem dobrar seus esforços em saneamento ou não será possível alcançar o acesso universal até 2030. A Dra. Amy Pickering lembra que para cumprir os ODS novas estratégias se fazem necessárias a fim de garantir que o fornecimento de água seja desinfectado nas comunidades urbanas de baixa renda.