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Conferência Internacional de Aids: 2016 deve ser lembrado como início da era da PrEP

Durante o International Aids Societ, um dos maiores fóruns científicos no campo de HIV e Aids do mundo, especialistas apelam por medidas urgentes contra novo avanço da doença

08/09/2016
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Apesar do progresso nos últimos dez anos, alguns países voltaram a registrar aumento no número de infecções, principalmente entre os jovens

Durante os cinco dias em que aconteceu em Durban (África do Sul) a 21ª Conferência Internacional de Aids, cerca de 15 mil pessoas morreram no mundo. Foi o que disse na cerimônia de encerramento do evento, a nova presidente do IAS (International Aids Society), a sul-africana Linda Gall-Becker. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que mais de 37 milhões de pessoas estão contaminadas pelo vírus HIV em todo o mundo. Embora o número de casos tenha caído 35% na última década, a quantidade de infectados aumentou em alguns países.

Hoje, cerca de 17 milhões de pessoas têm acesso à terapia antirretroviral. Há 16 anos, esse número não chegava a um milhão. No ano 2000, o custo do tratamento era de 10 mil dólares por ano, por pessoa. Nos dias atuais custa cerca de 100 dólares por mês, por pessoa. Dados do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids) mostram que 15 milhões de pessoas tiveram acesso ao tratamento em 2015.

Apesar dos participantes da conferência reconhecerem que houve progresso, eles avaliam que ainda falta muito para cumprir a meta estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) de acabar com a epidemia até 2030. Além disso, mais de 60% das pessoas que vivem com HIV ainda não tem acesso aos antirretrovirais. Na opinião dos especialistas, o preconceito e a falta de investimento são alguns dos obstáculos a serem enfrentados. Muitos não procuram por atendimento com medo da discriminação. Uma entrevista feita pela agência da ONU, com 52 mil jovens em 16 países, revelou que 68% deles não querem fazer o teste de HIV. Eles alegaram medo do resultado positivo e preocupação com estigmas sociais.

A população chave ainda são homens que fazem sexo com homens, usuários de drogas injetáveis e presidiários. Porém, segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a quantidade de adolescentes com o vírus aumentou: cerca de 29 jovens entre 15 e 19 anos são infectados a cada hora. A doença é a segunda causa de morte desse grupo. De acordo com a ONU, as meninas representam 65% das novas infecções em todo o mundo. Só na África Subsaariana, a cada quatro adolescentes infectados pelo vírus, três são do sexo feminino.

As infecções por HIV no Brasil também aumentaram, passando de 700 mil casos em 2010 para 830 mil, em 2015. São cerca de 40.000 novos casos e 15.000 mortes a cada ano. O coordenador da área de Acesso a Tratamento da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), Veriano Terto Júnior, que esteve entre os participantes do evento em Durban, fez críticas à estratégia do País. Segundo ele, as ações brasileiras são voltadas basicamente para o tratamento. Para Veriano, é preciso investir mais em educação e prevenção.

Durante a conferência, foi lançada a publicação “Mito versus realidade: Avaliação da resposta brasileira ao HIV em 2016”, da Abia. O documento expõe que o Brasil já foi referência para o mundo no combate à doença, mas hoje caminha em retrocesso. Ao menos há uma boa notícia para os brasileiros. Um remédio que diminui as chances de contaminação pela Aids deve entrar na lista de medicamentos gratuitos do Sistema Único de Saúde (SUS) até o final do ano. O medicamento, conhecido como profilaxia pré-exposição (PrEP), diminui em até 92% o risco de o vírus entrar nas células e deve ser usado por grupos de risco, além da camisinha, segundo pesquisas. A informação foi dada pela diretora do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Adele Benzaken, durante a conferência. “Precisamos nos unir para que 2016 seja lembrado como o início da era da PrEP (profilaxia pré-exposição)”, ressaltou Chris Beyrer, ex-presidente do IAS, referindo-se ao medicamento que previne HIV e deve ser aprovado no Brasil até o fim de 2016.

Também no evento, pesquisas mostraram que a expansão do acesso ao tratamento, no mundo, entre 2002 e 2012, evitou 4,2 milhões de mortes e contribuiu para a redução de 58% de novas infecções pelo vírus HIV. No entanto, a Unaids e a Fundação Kaiser Family apresentaram um estudo que aponta queda de US$ 8,6 bilhões em 2014 para US$ 7,5 bilhões em financiamentos de governos no ano passado.

De acordo com o Fundo Global de Combate à AIDS, Tuberculose e Malária (Fundo Global), 28 milhões de pessoas podem ser infectadas nos próximos seis anos se não houver recursos adicionais. O grupo informou ainda que precisa de R$ 13 bilhões de dólares para seu próximo ciclo de financiamento, que vai de 2017 a 2019. Anualmente, o Fundo Global mobiliza e investe quase US$ 4 bilhões para apoiar programas contra o HIV em mais de 100 países.

A conferência contou com a presença de 15 mil participantes, entre cientistas, ativistas e doadores. O evento chegou ao fim com o apelo de que medidas urgentes de prevenção sejam tomadas. A próxima conferência ocorrerá em 2008, na Holanda.

**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**