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Dengue: comitê da EMA endossa candidata à vacina a partir dos 4 anos

Caso seja aprovada definitivamente, a vacina fabricada pela farmacêutica japonesa Takeda será a segunda do mundo contra a dengue

14/11/2022
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De acordo com a EMA, este novo imunizante mostrou uma proteção mais ampla para crianças pequenas e pessoas com mais de 45 anos

O Comitê de Medicamentos para Uso Humano (CHMP) da Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla inglesa), deu recomendação positiva em meados de outubro para a aprovação da candidata à vacina contra a dengue da farmacêutica japonesa Takeda, intitulada TAK-003, para a prevenção da doença causada por qualquer sorotipo em pessoas a partir de quatro anos na Europa e em países onde a dengue é endêmica que participam do procedimento EU-M4all. A decisão é apoiada por resultados em ensaios de fase clínicos rigorosos incluindo pessoas com idade entre 18 meses e 60 anos, de regiões endêmicas e não endêmicas. A TAK-003 é baseada em um vírus vivo atenuado do sorotipo 2 da dengue (DENV-2), que fornece a estrutura principal genética para todos os quatro sorotipos da vacina e, expõe o indivíduo a vários componentes do vírus que podem ser importantes na proteção contra infecções futuras.

Em termos de segurança, o conselho consultivo de comunicações da Takeda explicou que a TAK-003 foi avaliada em 19 ensaios clínicos de Fase 1, 2 e 3 envolvendo mais de 28 mil crianças e adultos, que inclui dados de quatro anos e meio de acompanhamento do Estudo de Eficácia da Imunização Tetravalente contra a Dengue [Tetravalent Immunization against Dengue Efficacy Study] (TIDES), consistente com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) que exigem obter dados de acompanhamento de três a cinco anos após a conclusão de uma vacinação primária contra a dengue, a fim de avaliar com mais precisão a segurança e a eficácia. Segundo a companhia farmacêutica, o estudo TIDES também atendeu a outras recomendações importantes da OMS, como uma grande população de estudo (mais de 20 mil participantes), capacidade de realizar análises estratificadas de eficácia e segurança e implementação de um sistema de vigilância rigoroso.

“O estudo TIDES atingiu sua meta primária de eficácia geral da vacina contra a dengue confirmada virologicamente com 80,2% de eficácia em 12 meses de acompanhamento. O estudo também atendeu a todas as metas secundárias para os quais havia um número suficiente de casos da doença em 18 meses de acompanhamento. Houve uma eficácia de 90,4% da vacina em prevenir hospitalizações pela dengue. Análises exploratórias mostraram que, ao longo de quatro anos e meio, a TAK-003 preveniu 84% dos casos de dengue com hospitalização na população geral, incluindo indivíduos soropositivos e soronegativos. A vacina candidata tem sido geralmente bem tolerada, sem evidência de aumento da doença naqueles que a receberam, e sem riscos de segurança importantes identificados no estudo TIDES, até o momento”, disse o Dr. Derek Wallace, vice-presidente e chefe do Programa Global de dengue no Departamento de Vacinas da Takeda Pharmaceuticals.

Revisões regulatórias progridem

Caso seja aprovada definitivamente, a vacina fabricada pela farmacêutica japonesa será a segunda do mundo usada contra a dengue. De acordo com a Takeda, a TAK-003 é a primeira vacina contra a dengue a ter dados de acompanhamento de longo prazo tão robustos como parte de seu pacote de depósito. “Projetamos deliberadamente o estudo TIDES de Fase 3 para abordar a complexidade do vírus da dengue e sua presença global, incluindo populações ainda sem contatos com a doença e aquelas expostas à dengue em oito países endêmicos na Ásia e na América Latina”, acrescentou.

De acordo com a empresa, este parecer positivo é um momento importante para a comunidade de saúde global, os países europeus e os países endêmicos da dengue que participaram no procedimento EU-M4all e simboliza um passo em frente no sentido de potencialmente fornecer à comunidade global uma nova opção importante para complementar os esforços existentes de prevenção da doença. “O parecer assinala igualmente a conclusão da primeira avaliação paralela da EMA de um medicamento para utilização na União Europeia (UE) e em outros países por meio do procedimento EU-M4all. Os endossos do CHMP apoiam a qualidade e robustez dos dados da TAK-003 e ajudam a informar os países endêmicos que participaram do estudo à medida que avançam nas suas próprias revisões regulamentares”, enfatizou o Dr. Wallace.

Ainda segundo a farmacêutica japonesa, se a Comunidade Europeia (CE) conceder autorização de comercialização para TAK-003, ela vai ser a única vacina contra dengue aprovada para uso na UE para indivíduos independentemente da exposição anterior à doença, sem a necessidade de testes pré-vacinação, até o momento. Outra boa notícia é que as revisões regulatórias estão progredindo em países endêmicos na América Latina e na Ásia. Segundo a Takeda, em agosto a empresa recebeu a aprovação da vacina na Indonésia, área que sofreu quase metade da carga de dengue no Sudeste Asiático. O primeiro lançamento está previsto para o início de 2023.

E a farmacêutica vai continuar avançando nos registros regulatórios em outros países endêmicos e não endêmicos, entretanto, a aprovação regulatória e o uso da vacina dependem da avaliação das autoridades locais pertinentes e da indicação que julgarem apropriada. Questionada sobre as negociações no Brasil, cujo registro foi solicitado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em abril de 2021, a empresa disse não poder comentar especificamente, pois as discussões e os processos regulatórios estão em andamento. Em dezembro, a Takeda vai realizar um evento para investidores da TAK-003 para fornecer mais detalhes sobre o planejamento comercial e atualizações sobre o progresso regulatório. Antes disso, a farmacêutica participa do 57º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (MEDTROP), realizado em Belem (PA), entre os dias 13 e 16 de novembro.

Saiba mais:

Three-year Efficacy and Safety of Takeda’s Dengue Vaccine Candidate (TAK-003)

Nova vacina contra dengue apresenta bom desempenho em grandes ensaios

O Brasil também desenvolve uma vacina contra a dengue. O Instituto Butantan está na fase 3 de um estudo que acompanha 17 mil participantes ao longo de cinco anos. A pesquisa deve terminar em julho de 2024. O imunizante do Butantan se diferencia por ser de dose única e deve atuar contra os quatro tipos de dengue, em pessoas entre 2 e 59 anos que já tiveram ou não a doença.

A dengue é um grande desafio de saúde pública, subnotificado e em ascensão devido a fatores como mudanças climáticas e urbanização. Há uma necessidade médica ainda não atendida e urgência global, pois os métodos de prevenção foram limitados e o controle do vetor não foram o suficiente.

Sobre a dengue

Segundo dados da OMS, há aproximadamente 390 milhões de infeções mundiais de dengue por ano, com uma taxa de mortalidade estimada em 20 mil a 25 mil pessoas por ano, maioritariamente crianças. Estima-se que, no mundo, cerca de 500 mil pessoas com dengue grave precisam de hospitalização a cada ano. A doença é endêmica em mais de 100 países. No Brasil, até meados de outubro, houve aumento de 184,6% no número de casos prováveis de dengue em comparação com o mesmo período de 2021. As ocorrências passaram de 478,5 mil casos, no ano passado, para 1,3 milhão neste ano. Foram 909 óbitos confirmados em 2022. São mais mortes do que em todo o ano de 2021, quando 246 pessoas morreram. O número também já ultrapassou as mortes de 2020, que chegaram a 574. Especialistas atentam que o aumento de casos pode ser atribuído a fatores como urbanização, globalização e mudanças climáticas.

O vírus da dengue é transmitido por mosquitos fêmea, principalmente da espécie Aedes aegypti e, em menor proporção, da espécie Aedes albopictus. Esses vetores também transmitem chikungunya e Zika. Os sintomas das três arboviroses são semelhantes e incluem febre de início abrupto acompanhada de dor de cabeça, dores no corpo e articulações, prostração, fraqueza, dor atrás dos olhos, erupção e coceira na pele, manchas vermelhas pelo corpo, além de náuseas, vômitos e dores abdominais. A recuperação da infecção por um sorotipo fornece imunidade vitalícia apenas contra esse sorotipo e a exposição posterior a qualquer um dos sorotipos restantes pode estar associada a um maior risco de doença grave. Não há nenhum medicamento específico disponível, por isso a prevenção é o instrumento mais eficaz no combate à doença.

**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**