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Dr. Claudio Salgado alerta para falta de diagnóstico da hanseníase no Brasil e no mundo

O presidente da Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH), Cláudio Salgado, também chamou atenção para o aumento do número de casos da doença, que trazem outros desafios

12/12/2018
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O maior desafio continua sendo diagnóstico da doença que, por algum tempo, foi considerada extinta, tendo inclusive sido retirada da grade curricular das universidades

Embora a situação da hanseníase na África Ocidental seja importante, não precisamos ir tão longe para nos depararmos com a realidade da doença. A 15ª edição do Congresso Brasileiro de Hansenologia, realizada pela primeira vez em Palmas, discutiu os avanços e as formas de tratamento. O evento destacou o panorama da hanseníase no Brasil, situação que preocupa autoridades e trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS) que atuam para controlar a doença, levando informação e incentivando a adoção de políticas públicas que garantam o diagnóstico precoce e o tratamento adequado.

Em seu discurso de abertura, o presidente da Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH), o Dr. Cláudio Salgado, destacou que a entidade tem se posicionado enfaticamente com relação à falta de diagnóstico da doença no Brasil e no mundo. O Dr. Salgado lembrou que, com a meta da Organização Mundial da Saúde (OMS) de eliminação da hanseníase como problema de saúde pública para o ano 2000, muitos países e muitos estados receberam certificados de eliminação da doença, o que trouxe um grave efeito colateral: os pacientes antes eram facilmente encontrados aglomerados nos leprosários e, portanto, chamavam a atenção, mas, agora, retornam à sombra da sociedade, destinados a viver com a sua doença sem diagnóstico e, mesmo após receber o diagnóstico, a conviver com as suas incapacidades, somente por terem sido adquiridas por uma doença que já não existe mais, portanto, incapaz de ser devidamente tratada e curada, quando o que tem que ser tratado e curado é o preconceito arraigado no coração da sociedade.

O especialista destacou ainda que o aumento do número de casos traz outros desafios: capacitar os profissionais da atenção básica. Para ele, o sistema não está preparado para isso. Ainda de acordo com o Dr. Salgado, no cenário nacional, os exames de contato são precários. “Não examinamos bem ou, simplesmente, não examinamos. Mas os dados oficiais nos mostram mais de 80% de exame de contatos, exatamente o que está pactuado, e que gera recursos para os municípios. Examinamos mais de 80% dos contatos, mas apenas não mais que 8% dos casos de hanseníase são diagnosticados entre os contatos. Não há relação entre quantos examinamos e o percentual de diagnósticos”, apontou. Segundo ele, em algum lugar há falha, e isso deve ser revisto imediatamente.

“Pesquisamos muito e aplicamos pouco. Estamos seguramente entre os países que mais pesquisam hanseníase no mundo. Vamos das características clínicas à quimioprofilaxia, da sorologia à biologia molecular, mas simplesmente não conseguimos traduzir isso em ferramentas do SUS que estejam à disposição dos colegas para auxiliar no diagnóstico da doença. Mais do que nos perguntar, precisamos exigir que ferramentas usadas para outras doenças, como sorologia e PCR, eletroneuromiografia e ultrassom estejam amplamente disponíveis para auxiliar no diagnóstico da hanseníase, onde quer que o paciente esteja, no centro da maior capital do país, no município de 5.000 habitantes, dentro das favelas, no meio da Amazônia ou no sertão nordestino, lugares que nem médico tem”, enfatizou.

A doença no Brasil

O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial de hanseníase, com 26.875 casos novos notificados, atrás apenas da Índia. Os números foram apresentados pela coordenadora geral da hanseníase e doenças em eliminação do Ministério da Saúde, Carmelita Ribeiro.

Os estados do Centro-Oeste, Norte e Nordeste são hiperendêmicos. No Tocantins, de janeiro a outubro de 2018 foram diagnosticados 1.362 casos novos. O número é quase três vezes maior que os registrados em 2017, que chegou a 529. Em 2016, foram contabilizados 645 casos. Dos 139 municípios apenas 27 não tiveram casos novos. A SBH estima que o número de doentes seja de 3 a 5 vezes maior do que apontam os dados oficiais e que a preocupação é com regiões onde as notificações sinalizam controle da doença, o que mostra que a hanseníase não está sendo percebida.

A dermatologista Lívia Bessa, que atua no programa de controle da hanseníase na capital paulista, destacou que na capital não há casos da doença, que está controlada desde 2.000. Entretanto, segundo ela, o que chama atenção é a transmissão ativa dentro do município. Segundo a especialista, em 2017, foram registrados 125 novos casos de hanseníase, considerado baixo dado ao volume populacional da cidade.

Em todo o mundo, o número de novos casos diagnosticados é de cerca de 210 mil.

Modelo de enfrentamento à doença

Palmas registra mais de 600 casos de hanseníase. Todos os pacientes diagnosticados com a doença recebem o tratamento pelo SUS através do programa “Palmas livre da hanseníase”. Para o Dr. Salgado, o programa é um modelo de enfrentamento à doença a ser seguido. Desde a sua implantação, mais de 300 profissionais já participaram das formações em serviço com hansenólogo. Todos os 34 Centros de Saúde da Comunidade contam com profissionais capacitados para diagnosticar e tratar a doença. O programa conta com 857 pacientes em tratamento. Destes, 317 apresentam grau 1 de incapacidade e 52, grau 2.