Notícias

Estudo indiano reforça importância de se descobrir novo medicamento contra leishmanioseIndian study reinforces the importance of finding a new drug against leishmaniasis

Diferente do Brasil, em que se tem o cão como principal transmissor da leishmaniose, no estado indiano de Bihar, os parasitas são transmitidos de pessoa a pessoa por meio da picada de uma pequena mosca.Unlike Brazil, where the dog is the major leishmaniasis transmitter, in the Indian state Bihar, the parasites are transmitted from person to person through the bite of a small fly. The problem is that

18/01/2014

foto2

Diferente do Brasil, em que se tem o cão como principal transmissor da leishmaniose, no estado indiano de Bihar, os parasitas são transmitidos de pessoa a pessoa por meio da picada de uma pequena mosca. O problema é que, assim como no Brasil e em outros países pobres e tropicais, a falta de infraestrutura e o ambiente propício assegura o local favorável para o desenvolvimento dos flebotomíneos – transmissor da doença.

Mas segundo a professora do Departamento de Parasitologia, Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), Dra. Sílvia Uliana, a região norte da Índia é a única em que a população apresenta altos níveis de resistência a antimoniais – medicamentos para tratamento da leishmaniose – com testes comprovados em laboratório. “Existem outras regiões do mundo onde a eficácia dos medicamentos tem se reduzido, mas não há ainda evidências laboratoriais da seleção de parasitas resistentes. Precisamos de novos medicamentos para tratar leishmaniose não só pelo problema da resistência, mas também por que dispomos atualmente de poucos medicamentos ativos”, analisa a professora ao antecipar que eles são caros, acarretam efeitos indesejáveis e têm que ser administrados por via parenteral – por injeção.

Tropicalidade indiana
Com clima úmido subtropical, verões quentes e florestas tropicais, Bihar é um estado do nordeste da Índia, situado na bacia do rio Ganges, que já registrou frequentes e devastadoras cheias. Com a grande maioria da população vivendo em área rural, a província indiana registra alta incidência de leishmaniose e a população apresenta alta resistência ao tratamento.

Estudo recente, desenvolvido pela Universidade de Dundee, na Escócia, finalmente explicou a razão da má resposta ao medicamento: presença de arsênico na água consumida pela população. Sabendo que a água dos poços no norte da Índia tem alta incidência de contaminação por arsênico, os pesquisadores levantaram a hipótese de que os dois fatos poderiam estar relacionados. “Em artigo publicado recentemente, esses autores mostraram a hipótese de que a contaminação da água por arsênico pode facilitar a seleção de leishmanias resistentes a antimoniais tem fundamento. Essa descoberta ajuda a entender por que há índices muito altos de resistência a antimoniais, em uma região com altíssima incidência de leishmaniose visceral”, assinala Dra. Uliana, ao atentar que até 1980, medicamentos antimoniais eram eficazes para tratar leishmaniose na Índia.

Substâncias podem comprometer eficácia de medicamentos
Dra. Uliana explica que a hipótese levantada está relacionada à presença de arsênico na água ingerida pela população dessa região. “Quando a pessoa ingere água contaminada com este metal ela o acumula em alguns órgãos do corpo, como o fígado, por exemplo. As leishmanias também vivem no fígado das pessoas infectadas e a presença de arsênico neste órgão faria com que, desde o começo da infecção, fossem selecionados os parasitas já resistentes ao arsênico”, esclarece.

A especialista ressalta que o problema para o tratamento é que o arsênico e o antimônio são parecidos e os parasitas que resistem ao arsênico também se tornam capazes de resistir ao antimônio, tornando o tratamento com antimoniais ineficaz. “Esses parasitas resistentes, selecionados em uma pessoa, vão agora infectar os insetos vetores e novos pacientes vão adquirir a infecção causada por parasitas já resistentes. Em alguns anos, a maior parte dos parasitas, naquela região, será resistente”, conclui.

A professora diz que não é possível prever, caso a população pare de beber a água contaminada se o medicamento voltará a fazer efeito. Ela pondera que se a pressão pela resistência ao arsênico for removida, é possível que a população de parasitas sensíveis a ele e ao antimônio volte a prevalecer em Bihar.foto2

Unlike Brazil, where the dog is the major leishmaniasis transmitter, in the Indian state Bihar, the parasites are transmitted from person to person through the bite of a small fly. The problem is that, as in Brazil and other poor and tropical countries, the lack of infrastructure and favorable environment ensures the development of the sandflies – the disease’s transmitter.

But according to the professor of the Parasitology Department of the Biomedic Sciences Institute of the University of São Paulo (USP), Dr. Silvia Uliana, the north of India is the only place where the population has high resistance against antimony – medication for leishmaniasis treatment – with laboratory proven tests. “There are other regions in the world where the drug’s efficacy has decreased, but there are little laboratorial evidences of resistant parasites selection. We need new medications for leishmaniasis treatment not only due to the resistance problem, but because we currently have few active medications”, analyzes the professor while pointing that they are expensive, lead to undesirable effects and must be administered by parenteral route – by injection.

Indian tropicality
Humid subtropical climate, hot summers and tropical forests compose Bihar state, in northeastern India, in the Ganges River basin, with records of frequent and devastating floods. With most of its population live in rural areas, the indian province registers high leishmaniasis incidence and the population presents high resistance to treatment.

Recent study developed by the Dundee University, in Scotland, finally explained the reason for the poor response to the treatment: presence of arsenic in the population’s drinking water. Knowing the north India’s wells have a high incidence of arsenic contamination, researchers raised the hypothesis of the two facts being connected. “Authors of a recently published article demonstrate the hypothesis of arsenic contaminated water easing the antimony resistant leishmaniasis selection is valid. This finding helps understanding why there are high indexes of antimony resistant leishmania, in a region with very large visceral leishmaniasis incidence”, signs Dr. Uliana, while stressing that until 1980, antimony drugs were efficient for leishmaniasis treatment in India.

Drug efficacy could be compromised by substances
Dr. Uliana explains that the hypothesis raised is related to the presence of arsenic in the population’s drinking water. “When a person ingests water contaminated by this metal, it will collect in some organs, as the liver, for example. Leishmania also lives in the infected people’s livers, and the presence of arsenic in this organ would allow, since the beginning of the infection, arsenic resistant parasites to be selected”, clears.

The specialist highlights that the treatment problem is that arsenic and antimony are very similar and the parasites resistant to arsenic are also able to resist antimony, making this treatment ineffective. “These resistant parasites, selected in one person, will now infect vector insects and new patients will acquire the infection by a now resistant parasite. In some years, most of the parasites in that region will be resistant”, finishes.

The professor says it is not possible to predict, whether in case the population stops drinking contaminated water, if the drug will be effective again. She counterweights that if the pressure for arsenic resistance is removed, it is possible the parasite population sensitive to it and antimony prevails in Bihar once again.