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Exames rápidos de malária não devem ser utilizados amplamente, alerta especialistaExpert alerts that rapid malaria exams should not be widely used

Um dos procedimentos utilizados para garantir o tratamento imediato à malária é o exame de diagnóstico rápido (RDT), adotado especialmente onde e quando não existem condições adequadas para o microscópico.One of the common procedures to assure immediate access to malaria treatment is the rapid diagnostic exam (RDE), adopted especially where and when there are no satisfying conditions for the use of a microscope.

17/06/2014

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Estudo publicado recentemente mostra que a implantação de testes de diagnóstico rápido da enfermidade nos países endêmicos deve ocorrer ao lado de novos programas de formação

Um dos procedimentos utilizados para garantir o tratamento imediato à malária é o exame de diagnóstico rápido (RDT), adotado especialmente onde e quando não existem condições adequadas para o microscópico. No entanto, o método ainda necessita de aperfeiçoamento, até porque pode aumentar o uso de medicamentos contra a doença, alerta o responsável pela Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, Dr. Marcos Boulos .

No exame tradicional para detecção de malária, em laboratório, é obrigatória a presença de um profissional. Isso não é imprescindível no caso do diagnóstico rápido, que leva cerca de 20 minutos para ser concluído. O especialista afirma que, apesar de serem mais ágeis e reduzirem custos, essas análises não garantem menor utilização de medicamentos. “Pelo contrário, o uso de antimaláricos tende a aumentar pela maior sensibilidade do exame. Esse método não deve ser utilizado amplamente porque necessita de aperfeiçoamentos para melhorar a especificidade do teste por espécie de plasmódio. As RDTs têm tido sua utilização aumentada, mas ainda não substituem o diagnóstico microscópico”, explica.

Treinamento pode evitar desperdício

Trabalhos para aproveitar melhor os RDTs têm sido feitos em todo o mundo, como uma pesquisa realizada em Camarões apontando que programas de treinamento para profissionais de saúde ajudam a evitar desperdícios de antimaláricos. O estudo, publicado recentemente na revista The Lancet , no Dia Mundial da Malária, 25 de abril, mostra que a implantação de testes de diagnóstico rápido da enfermidade nos países endêmicos deve ocorrer ao lado de novos programas de formação.

De acordo com a pesquisa, no grupo dos pacientes onde foi adotado o método padrão de exames rápidos, houve desperdício de 84% de antimaláricos, enquanto este número foi de 52% em grupos tratados por profissionais com treinamento convencional em RDT e de apenas 31% onde houve a adoção do programa mais abrangente, que envolvia discussões sobre diretrizes clínicas e uma comunicação mais eficaz com os pacientes – utilizando até mesmo atividades lúdicas, como peças teatrais.

Casos da doença diminuem no País

O Brasil reduziu em 50% o número de casos de malária nos últimos dez anos. No comparativo entre o ano passado e 2012, o índice caiu em 26%, passando de 241.806 para 177.758 ocorrências registradas. “O País, principalmente na última década, tem seguido os preceitos internacionais sugeridos para o controle da doença. Quando se seguem as recomendações já suficientemente testadas, o ônus tanto financeiro quanto para a saúde da população se reduz significativamente”, explica Dr. Boulos.

Entre as recomendações que o Brasil tem seguido, estão o uso de mosquiteiros impregnados com inseticidas, diagnóstico e tratamento precoces e adequados, medidas de saneamento ambiental específicas para cada local, uso de larvicidas em situações específicas e vigilância permanente para detectar e notificar novos focos. “É importante lembrar que a descontinuidade das ações é um fator que contribui para as falhas das medidas de controle”, acrescenta. O atendimento a essas recomendações possibilitou reduzir o número de mortes pela enfermidade de 60, em 2012, para 36, no ano passado. No Brasil, a Amazônia concentra 99,6% dos casos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, das 3,4 bilhões de pessoas no mundo em situação de risco para desenvolver malária, 80% são africanas. Em todo o planeta, a mortalidade caiu 45% entre 2000 e 2012 em todos os grupos etários e 51% nas crianças até os cinco anos de idade.

Estudo

A recent study showed that implementing rapid diagnostic exams for malaria in endemic countries must happen along with new formation programs

One of the common procedures to assure immediate access to malaria treatment is the rapid diagnostic exam (RDE), adopted especially where and when there are no satisfying conditions for the use of a microscope. However, the method still needs enhancements, even because it could increase the use of medications against the disease, alerts Dr. Marcos Boulos , in charge of the Disease Control Coordination from the Sao Paulo State Health Secretary.

The traditional exam for malaria detection, in laboratory, demands the presence of a professional. This is not indispensable for the rapid diagnostic. The specialist affirms that, although more agile and reduce costs, these analysis do not assure a smaller use of drugs. “On the contrary, the use of antimalarial drugs tend to increase due to the exam’s greater sensitivity. This method should not be used widely because it need enhancements to increase its specificity by plasmodium species. The RDEs have been more used, but do not replace the microscopic diagnosis”, explains.

Training can avoid waste

Works seeking to make better use of the RDEs have been done all over the world, as a research conducted in Cameroon showing that training programs for health professionals help avoiding antimalarial medication  waste. The study, published recently in The Lancet , on World Malaria Day, April 25, shows that implementing rapid diagnostic tests for malaria in endemic countries should happen along with new formation programs.

According to the research, the patient group in which the standard method of rapid exams was adopted, wasted 84% of the antimalarials, while this number decreased to 52% in groups where the patients were only treated by professionals trained in the conventional RDE, and only 31% when the program was more widely used, involving discussions on clinical guidelines and more efficient communication with the patients – using even ludic activities, as theatrical plays.

Number of cases decrease in Brazil

Brazil has cut in half the number of malaria cases in the last 10 years. Comparing 2013 and 2012, the index decreased 26%, dropping from 241,806 registered occurrences to 177,758. “The Country, especially in the last decade, has followed the international precepts suggested for the disease’s control. When the enough tested recommendations are followed, both the financial costs and the population’s burden are significantly reduced”, explains Dr. Boulos.

Among the recommendations Brazil has been following, are the use of impregnated mosquito nets, adequate diagnosis and early treatment, use of larvicides in specific situations and permanent surveillance to detect and notify new points. “It is important to remember that discontinuing the actions is a factor that favors control measures flaws”, adds. The correct attendance of these recommendations allowed Brazil to reduce the number of deaths by the disease from 60, in 2012, to 36, last year. In Brazil, 99.6% of the cases are concentrated in the Amazon region.

The World Health Organization (WHO) estimates that from the 3.4 billion people at risk of developing malaria, 80% are in Africa. In the entire planet, mortality dropped 45% between 2000 and 2012 in all age groups and 51% among children up to 5 years of age.

**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**