Forma grave de malária: descoberta causa da doença misteriosa no Congo
Segundo a Organização Mundial da Saúde, o surto na República Democrática do Congo já resultou em 416 casos e 31 mortes
19/12/2024O surto de uma doença misteriosa na República Democrática do Congo (RDC) resultou em 31 mortes e mais de 400 casos relatados, segundo informações da Organização Mundial da Saúde (OMS). A província de Kwango, especialmente a zona de saúde de Panzi, concentrou a maior parte dos registros. A infecção afetou principalmente crianças e mulheres, com sintomas semelhantes aos da gripe, incluindo febre alta, dores de cabeça severas e problemas respiratórios.
Além disso, a população enfrenta com altos índices de desnutrição e baixa cobertura vacinal, o que torna as crianças particularmente vulneráveis a diversas doenças, como malária, pneumonia, sarampo e outras infecções. O sistema de saúde local sofre com a escassez de medicamentos, acesso precário a cuidados médicos e infraestrutura limitada, problemas agravados pelas condições de extrema pobreza. Aproximadamente 40% da população na região não tem acesso à água potável, um fator que pode ter contribuído para a disseminação da doença e a deterioração das condições sanitárias.
No dia 17 de dezembro, o Ministério da Saúde da RDC anunciou que o surto, inicialmente atribuído a uma doença desconhecida, foi causado por quadros severos de malária agravados pela desnutrição. O diagnóstico enfrentou desafios significativos devido ao isolamento da região afetada. A zona de saúde de Panzi, localizada no sudoeste do Congo, não possui laboratórios adequados para a realização de testes diagnósticos. Como resultado, as amostras precisaram ser enviadas para Kinshasa, a capital, um processo que leva dois a três dias por estrada. Para minimizar o tempo de transporte e preservar a qualidade das amostras, foram realizados esforços adicionais, incluindo o uso de aviões em parte do trajeto.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, já havia sinalizado a presença de malária após a realização de testes preliminares. “Dos 12 testes iniciais, 10 apresentaram resultados positivos para malária. No entanto, outras causas não foram descartadas e análises adicionais foram realizadas”, afirmou durante coletiva de imprensa. Com o apoio da OMS, as autoridades de saúde congolesas orientaram a população a adotar medidas preventivas, como evitar o contato com corpos de vítimas. A colaboração entre governos e entidades internacionais foi essencial para esclarecer a origem da doença e conter a ameaça à saúde pública.
Epidemia de Mpox sobrecarrega sistema de saúde da RDC
A crise na RDC é agravada por uma epidemia de Mpox, que levou a OMS a declarar, em agosto, uma emergência de saúde pública de importância internacional, o mais alto nível de alerta do órgão. De acordo com a última atualização da OMS, apenas em 2024, o país registrou mais de 39 mil casos e cerca de mil mortes, números que representam a maior parte dos casos relatados em todo o continente africano.
O ministro da Saúde da RDC, Roger Kamba, informou que a média semanal de casos suspeitos de Mpox permanece acima de 800. Em uma atualização publicada no final de novembro na rede social X, Kamba destacou que, até o dia 23 de novembro, foram notificados 893 casos suspeitos, dos quais 42 foram confirmados e nove resultaram em morte. Contudo, não houve fatalidades entre os casos confirmados. A taxa de mortalidade geral subiu de 0,21% para 1%, indicando um agravamento do cenário epidemiológico.
As províncias mais afetadas pela epidemia de Mpox são Kivu do Sul e Equateur. Desde o início da epidemia, o país já registrou 49.566 casos suspeitos, com 10.846 confirmações e 1.193 mortes. Apesar das dificuldades enfrentadas, a campanha de vacinação contra a Mpox alcançou mais de 51 mil pessoas. Ainda assim, a RDC permanece como o “país mais impactado” pela doença.
Essa combinação de crises coloca a RDC em alerta máximo de saúde pública e evidencia os desafios enfrentados por países com infraestrutura médica limitada. A situação demanda uma resposta rápida e apoio internacional para evitar uma tragédia ainda maior. O caso destaca a importância de ações globais coordenadas para fortalecer os sistemas de saúde em regiões vulneráveis e investigar doenças emergentes com agilidade e eficácia, visando a proteção das populações mais afetadas.
**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**