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Brasil lidera por intermédio da Fiocruz iniciativas estratégicas nacionais e Latino-americanas de pesquisas para enfrentamento da transmissão congênita da doença de Chagas

Uma data para não ser esquecida - 14 de abril de 2021: dia mundial da doença de Chagas

07/03/2021

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Por Alberto Novaes Ramos Jr.
Professor associado da Faculdade de Medicina – Universidade Federal do Ceará

Dia mundial da doença de Chagas

O dia 14 de abril foi instituído em maio de 2019 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) durante a 72ª Assembleia Mundial de Saúde daquele ano como o “dia mundial da doença de Chagas”. Trata-se de uma data muito especial, como verdadeira conquista coletiva para ampliar a visibilidade a esta doença, em especial, a todas as pessoas acometidas por ela.

Trata-se de uma data relevante que reforça a importância da ciência a serviço da saúde e da vida para dar respostas aos caminhos para garantir acesso a diagnóstico e tratamento a todas as pessoas que precisam. A Sociedade Brasileira de Medicina Tropical apoia esta iniciativa desde o seu início e já demarcou esta importante conquista já durante o congresso Medtrop-Parasito de 2019 frente a elevada e persistente carga de morbimortalidade da doença.

A SBMT gostaria de registrar novamente a atuação destacada de muitos de nossos pesquisadores e pesquisadoras do país, com dedicação de suas vidas para decifrar e revelar as questões que envolvem a doença de Chagas. Lembramos aqui respeitosamente dos nossos pesquisadores eméritos Dr José Rodrigues Coura, do Instituto Oswaldo Cruz, e Dr Zilton de Araujo Andrade. Em nome deles, lembrar aqui de pesquisadores, pesquisadoras e profissionais de saúde em todo o mundo que seguem firmes neste trabalho para superarmos a doença de Chagas como problema de saúde pública em todo o mundo.

Esta data representa o dia em que Carlos Justiniano Ribeiro Chagas – pesquisador brasileiro da Fundação Oswaldo Cruz – diagnosticou pela primeira vez um caso humano da doença. A menina Berenice Soares de Moura teve acesso, aos dois anos de idade, ao diagnóstico por Carlos Chagas. Ela viveu nos sertões de Minas Gerais por muitas décadas, tornou-se mulher, mãe e avó, sem desenvolver nenhum sinal ou sintoma da doença, vindo a falecer aos 72 anos de idade por uma causa neurológica que não estava relacionada à doença.

Infelizmente, muitas mulheres do passado e do presente não tiveram e não têm tido a oportunidade de diagnóstico da doença, nem mesmo da triagem durante o pré-natal de suas filhas e seus filhos, assim como das gerações de mulheres que as seguiram. Desde a descoberta da doença muitos avanços foram alcançados para o controle, mas ainda persistem grandes falhas, particularmente para que todas as pessoas que necessitam tenham acesso a diagnóstico e tratamento, mantendo a transmissão congênita como possibilidade. Esta grave negligência está associada ao caráter social da doença, por acometer principalmente pessoas em condições de pobreza e vulnerabilidade social.

Desde a descoberta muitos avanços foram alcançados para o controle, mas ainda persistem grandes falhas, particularmente para que todas as pessoas que necessitam tenham acesso a diagnóstico e tratamento desta doença. Infelizmente de cada 100 pessoas com a doença, somente 10 (ou menos) tiveram acesso ao diagnóstico. O acesso ao tratamento da doença é ainda pior: de cada 100 pessoas com a doença e que precisam de tratamento, somente uma (1) tem acesso. Esta grave negligência está associada ao caráter social da doença, por acometer principalmente pessoas em condições de pobreza e vulnerabilidade social, demandando o desenvolvimento de pesquisas estratégicas.

 

O lançamento dos projetos

Em 2021 o tema do segundo Dia Mundial é “ATENÇÃO às pessoas afetadas, no seu sentido integral e universal” novamente em meio à pandemia pelo novo coronavírus (COVID-19). Entre os objetivos centrais do roteiro 2021-2030 da Organização Mundial da Saúde para controle da doença de Chagas inserem-se os esforços voltados para eliminação da transmissão congênita, considerada uma via de transmissão cada vez mais relevante, sem esquecer da transmissão vetorial domiciliar, transfusional e por sangue/transplantes de órgãos.

Como resposta a este crítico problema de saúde pública, estão sendo lançados no dia 14 de abril de 2021 dois importantes projetos liderados pela Fundação Oswaldo Cruz.

1- Ainda em 2019, começava a ser delineado o Projeto-Piloto: Acesso à detecção e ao tratamento da doença de Chagas no âmbito da atenção primária à saúde no Brasil – IntegraChagas-Brasil. Coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro em parceria com a Universidade Federal do Ceará, trata-se de um projeto de pesquisa estratégico do Ministério da Saúde, com articulação junto à Secretaria de Vigilância em Saúde e à Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Inserem-se ainda como parceiros nesta rede de pesquisa: Ministério da Saúde (SVS e SAPS), unidades de Fiocruz (IOC, ENSP, ICICT, Bio-Manguinhos, Farmanguinhos, INCQS, Fiocruz Minas Gerais e Bahia), movimentos sociais (Casa de Chagas, RioChagas, Achaba da Bahia e a caçula de Goiás, que está sendo constituída hoje com o apoio do projeto!), secretarias municipais de saúde (Espinosa, Porteirinha, São Desidério, Iguaracy e São Luis de Montes Belos), secretarias de estado da saúde (BA, GO, MG e PE), universidades parceiras (UFBA, UFG, UFBA, UPE, UFF com LABA Ciências e UFRJ), além de instituições não governamentais DNDi, Médicos sem Fronteiras e NHR Brasil.

O objetivo principal definido é “ampliar o acesso à detecção e ao tratamento da doença de Chagas no âmbito da atenção primária à saúde no Brasil”. O estudo será desenvolvido nos estados de Goiás, Bahia, Pernambuco e Minas Gerais e foi pensado a partir da construção de uma forte parceria com estados, regionais de saúde e municípios. Nestes espaços institucionais a participação de gestores, profissionais de saúde, professores, pesquisadores e representantes de movimentos sociais é considerada fundamental para o sucesso deste projeto.

Como um dos importantes resultados deste importante projeto, espera-se desenvolver modelos de intervenção capazes de ampliar o acesso ao diagnóstico e tratamento na atenção primária em saúde, com grande potencial de serem replicados em outros cenários brasileiros para maior escala.

2- Mesmo diante do grave desafio sanitário imposto pela COVID-19, empreendeu-se também a construção do projeto Rumo à eliminação da transmissão congênita da doença de Chagas na América Latina, o projeto CUIDA Chagas. Hoje demarca-se simbolicamente a assinatura do contrato para a sua execução, motivo de muita alegria e que nos remete a responsabilidades históricas do país, particularmente da Fiocruz, ao ser lançado para toda a sociedade.

O projeto visa atuar por meio de ações integradas voltadas para a saúde reprodutiva, materna, neonatal e infantil, centradas na atenção primária à saúde, ampliando o acesso à detecção, diagnóstico e tratamento de mulheres em idade fértil, seus filhos e filhas, incluindo contatos domiciliares que vivem em condições de risco epidemiológico para a doença em Bolívia, Brasil, Colômbia e Paraguai. É um projeto inédito nesses países, com a proposição da implementação de ações integradas e sistematizadas de vigilância e controle da transmissão congênita possibilitando reconhecer o tamanho mais próximo do real desta condição, abrindo um caminho mais efetivo para a implementação de ações sustentáveis e eficazes para controle.

Liderado pela Fiocruz, este Consórcio conta com investimento assegurado pela parceria entre UNITAID e Ministério da Saúde do Brasil. A parceria inclui os Ministérios da Saúde de Bolívia, Colômbia e Paraguai por acreditarem na liderança de Fiocruz e pela parceria na construção deste projeto. Além disto destaca-se o papel altamente relevante dos membros que compõem o Consórcio Chagas (Instituto Nacional de Laboratórios de Salud, INLASA, na Bolívia; Instituto Nacional de Salud, em Colômbia; Servicio Nacional de Erradicación del Paludismo, SENEPA, no Paraguai, e a organização não-governamental internacional The Foundation for Innovative New Diagnostics, FIND, com sede em Genebra).

Estes projetos trarão grandes e importantes possibilidades de resposta que possibilitarão benefícios às pessoas acometidas pela doença de Chagas em todas as áreas endêmicas não apenas do Brasil, mas também de toda América Latina. Rumo a um mundo sem crianças com doença de Chagas!

A SBMT apoia estes dois projetos desde a origem, tendo aberto espaços dentro do Medtrop para debates e reuniões técnicas para construção e desenvolvimento.

Canais de lançamento

Dia Mundial da Doença de Chagas: Fiocruz vai coordenar projeto da Unitaid sobre a enfermidade

O Consórcio Chagas, liderado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), através da Fundação de apoio à Fiocruz (Fiotec), firmará no dia 14 de abril, em meio às comemorações do Dia Mundial da Doença de Chagas, um convênio com a Unitaid para o projeto que visa eliminar a transmissão congênita da doença de Chagas em países endêmicos da América Latina. A transmissão do evento será pelo canal da Fiocruz no YouTube (https://www.youtube.com/watch?v=kBpCnUq3EHk), a partir das 9h.

Mais detalhes em: https://agencia.fiocruz.br/fiocruz-coordena-projeto-da-unitaid-em-doenca-de-chagas

Vídeo: Nísia Trindade Lima, presidente da Fiocruz, conta como a história da Fundação está ligada à doença de Chagas 

Vídeo: Mauricio Cysne, diretor de Relações Externas da Unitaid, comenta a parceria com a Fiocruz 

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Lembrando de outras importantes mobilizações da Fiocruz para o dia 14 de abril de 2021:

Minas Gerais, 12, 13, 15 e 16/04/2021 – 9:00-10:00h: Evento Virtual da Fiocruz pelo Dia Mundial da Doença de Chagas. Canal da Fiocruz Minas do Youtube

Piauí, 14/04/2021 – 14:00-18:00h: Dia internacional da Doença de Chagas – Doença de Chagas no Piauí: uma visão da ciência, da educação e da sociedade. Website do evento