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Limite de gastos públicos: duro golpe nos estudos das doenças tropicais

Levantamento do Ipea mostra que o Brasil poderá deixar de investir até R$ 743 bilhões pelas próximas duas décadas com a PEC 55 em vigor

09/01/2017
Investimentos

Investimentos sociais nos setores que alicerçam a saúde pública, como o saneamento básico, que cobre uma pequena parte da população brasileira, também devem ser afetados

A proposta que limita os gastos públicos no Brasil à inflação pelos próximos 20 anos (PEC 55) vem repercutindo mundo afora, sendo criticada até mesmo pela Organização das Nações Unidas (ONU), segundo matéria publicada. Aprovada e promulgada em dezembro de 2016, a matéria foi duramente rechaçada por diversas entidades ligadas à área saúde, uma das mais afetadas pela proposição. De acordo com o Professor da Universidade Federal do Piauí, mestre em Medicina Tropical e doutor em Saúde Pública, e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), Carlos Henrique Costa, as pesquisas em doenças tropicais podem ser as mais afetadas. “A SBMT entende que os investimentos nos estudos das doenças tropicais no Brasil sofrerão o mais duro golpe entre todas as áreas da Medicina e da Ciência”, alertou. Ele ainda acredita que serão reduzidos os investimentos sociais nos setores que alicerçam a saúde pública, como o saneamento básico, que, hoje, cobre apenas uma pequena parte da população brasileira.

E a preocupação da entidade tem motivos. A SBMT trata prioritariamente dos problemas de saúde que afetam as pessoas mais pobres. “Para esses seres humanos, o mercado não funciona, não se interessa pelas suas necessidades, que devido à pobreza endêmica, não geram as demandas de consumo requeridas pelo capital. A participação em inovação destas nações é quase nada comparada com os novos conhecimentos produzidos nos países desenvolvidos. Por estas razões, as investigações científicas e as inovações tecnológicas em Medicina Tropical dependem, fundamentalmente, dos Estados, de doações internacionais e de organizações não governamentais sem fins lucrativos”, explica o ex-presidente da instituição.

Um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ligado ao governo federal, mostra que o Brasil poderá deixar de investir até R$ 743 bilhões pelas próximas duas décadas com a PEC em vigor. E isso poderá prejudicar ainda mais o já combalido setor de ciência e tecnologia (C&T) no País. “Um atraso nos investimentos em C&T significaria a perda de mais um bonde da história: o incremento da produtividade. Daqui a 20 anos estaríamos em uma posição similar a dos países mais atrasados da América Latina e aquém de muitas nações africanas”, acredita o doutor Carlos.

Como a matéria já é uma realidade no País, o representante da SBMT espera que os governos que sucederão o atual não percam de vista os pobres dos trópicos, brasileiros ou não. “Serão eles os mais atingidos por esta política econômica injusta, desumana e economicamente ultrapassada”, reverbera.