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Malária: Luta contra a doença perdeu força, alerta professor da UnB Pedro Tauil

Após tendência de queda, casos de malária no mundo sobem em 2016. Já os óbitos ficaram em torno de 445 mil, número similar ao do ano anterior

12/12/2017
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Nos últimos anos, até 2016, a incidência, hospitalização e óbitos por malária no Brasil estavam caindo sistematicamente todos os anos, o que pode ter levado à redução da prioridade política do controle da doença em 2017

O progresso na luta mundial contra a malária estagnou. É o que aponta o recente relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Mesmo ainda não havendo dados globais de 2017, o “malaria report 2017” fornece uma visão abrangente do progresso na luta contra a doença. A Organização espera que os novos dados sirvam para “despertar” o mundo. De acordo com o documento, o Brasil confirmou 129.251 casos em 2016 e a meta de eliminação não é uma realidade para o nosso território, pois não estamos entre os países com menos de 10 mil casos.

O médico epidemiologista e docente do Núcleo de Medicina Tropical Universidade de Brasília (UnB), Dr. Pedro Tauil, diz ver com bastante preocupação os números, pois em 2016 houve um aumento de 5 milhões de casos em relação a 2015, apesar de grandes conquistas na luta contra a doença destacadas pelo diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Ainda segundo o infectologista, a preocupação cresce quando analisamos os países onde o risco de ser infectado é maior. A situação na Venezuela é caótica. A incidência da malária lá está mais do dobro do que a incidência no Brasil. Faltam dados oficiais, faltam meios para diagnóstico, medicamentos e recursos para manter atividades de controle vetorial. Na Colômbia também houve aumento da incidência, porém devido a fatores sócio-econômicos, como ocupação de novas áreas para garimpagem.

“Infelizmente, também no Brasil a situação neste ano de 2017 piorou muito, com aumento de mais de 40% do número de casos, em relação a 2016, principalmente no Amazonas e no Pará. Nos últimos anos a incidência, hospitalização e óbitos por malária estavam caindo sistematicamente todos os anos. Isso pode ter levado a uma redução da prioridade política do controle da doença, representada pela fusão da coordenação nacional do seu programa de controle com a coordenação de dengue, na SVS/MS. No nível dos municípios da região da Amazônia, houve também desorganização das atividades de controle com as mudanças políticas nas prefeituras”, alerta.

Na opinião do professor, algumas medidas podem ajudar a evitar um retrocesso, entre elas: melhorar o financiamento dos programas de controle, realizar o maior número possível de confirmação de diagnóstico e tratamento oportunos dos casos suspeitos, aumentar a cobertura do uso de mosquiteiros impregnados com inseticida, realizar medidas integradas de controle vetorial (borrifação intradomiciliar, redução de criadouros por aterro ou drenagem ou aplicação de larvicidas, de acordo com a situação de cada localidade).

Para que a meta da Estratégia Técnica Global da OMS, que prevê reduções de pelo menos 40% na incidência de casos da doença e nas taxas de mortalidade até 2020, seja atingida, é preciso melhorar o financiamento para apoio aos países, principalmente os da África, situados ao Sul do Saara. “Há necessidade de aumentar a cobertura da população com mosquiteiros impregnados. Essas metas são difíceis de serem alcançadas, mas não impossíveis”, complementa.

Existem pesquisas de novos medicamentos, principalmente contra P. falciparum, mas infelizmente ainda não temos substitutos dos derivados da Artemisinina, que sejam mais eficazes e seguros. Em relação à expectativa de vacina contra a malária, o professor Tauil acredita ainda ser remota essa possibilidade. “As atualmente disponíveis contra P. falciparum, em testes de campo, não mostram alta eficácia. Vacina contra um parasito é difícil pela grande multiplicidade de antígenos que ele possui”, explica o infectologista ao acrescentar que na luta contra parasitos resistentes à terapia combinada com derivados da Artemisinina, as pesquisas de novos medicamentos parece ser a única saída.