
Médico angolano assume Instituto de Higiene e Medicina Tropical de Lisboa
Dr. Filomeno Fortes é o primeiro estrangeiro a assumir este cargo. Ele foi eleito por unanimidade em 31 de julho após concurso internacional
06/11/2019
Em sua apresentação pública da proposta de ação para o IHMT, o professor defendeu o reforço do prestígio nacional e internacional do Instituto, bem como as parcerias com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa
A Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), representada pelo Dr. Carlos Costa, membro da diretoria e responsável pelas mídias e Professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), esteve presente na promissora posse do Dr. Filomeno Fortes na direção do Instituto de Higiene e Medicina Tropical de Lisboa (IHMT). A cerimônia pública ocorreu no dia 26 de setembro, na Sala do Senado, na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, no Campus de Campolide.
O Professor Filomeno Fortes, é um médico Angolano cedido à ciência, apaixonado pela Medicina Tropical e pela Saúde Pública, com o ensejo de fazer mais e melhor, trabalhando com o objetivo da amenização do sofrimento humano e contribuição para um mundo melhor. Tem doutoramento em Ciências Biomédias e é especialista em Saúde Pública, em Epidemiologia e Controle da Malária e em Doenças Tropicais, já desempenhou vários cargos em Angola; foi Diretor Nacional de Controle de Endemias, chefe do Departamento de Controle de Doenças da Direção Nacional de Saúde Pública e diretor do Programa de Controle da Malária. Internacionalmente, em 2012, foi eleito secretário-geral da Federação Internacional das Doenças Tropicais (IFTM). Em Angola, é coordenador do Doutoramento em Ciências Biomédicas da Universidade Agostinho Neto em Angola
A eleição do Dr. Filomeno Fortes se deu após um concurso internacional. Em sua apresentação pública da proposta de ação para o IHMT para o período de 2019-2023, defendeu o reforço do prestígio nacional e internacional do Instituto, bem como as parcerias com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). O Professor ressalta que sua gestão deseja manter a Instituição alinhada com a estratégia da Universidade NOVA de Lisboa, revolucionar e consolidar o seu papel no contexto da Medicina Tropical, Biomedicina e Saúde Global, contribuir para uma maior projeção do seu patrimônio científico-cultural e promover a criação de valor como instituição de referência a nível Nacional e Internacional.
“Pretende-se trabalhar em parceria e sinergia com outras instituições da NOVA, promover a formação superior orientada para o segundo e terceiro ciclos, organizar cursos, conferências, colóquios e seminários, executar programas, projetos e ações de investigação e desenvolvimento, cooperar e apoiar a comunidade em que o Instituto se encontra inserido entre outros”, esclarece. Ainda segundo o médico angolano, promover a criação de valor, a ideia é que o IHMT se consolide como Centro de Referência da Clínica das Doenças Tropicais, Centro de Referência de Medicina das Viagens, Centro de Pesquisa de Doenças Tropicais e Biblioteca de Medicina Tropical. “A cooperação e o desenvolvimento como eixo estratégico importante deverá consubstanciar-se no reforço de redes de instituições de ensino, investigação e prestação de serviços com países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), na cooperação bilateral e na presença e participação de órgãos internacionais com destaque para a Organização Mundial da Saúde (OMS-Genéve e OMS-Afro). A valorização da língua portuguesa deverá constar no plano estratégico da Instituição mais que um desafio uma obrigação”, destaca.
Integração científica
O Instituto de Higiene e Medicina Tropical de Lisboa é uma Instituição centenária e um dos Institutos de maior prestígio a nível Europeu. Conta com o estatuto de Centro Colaborador da OMS, observador no Joint Coordinating Board of the WHO Special Program for Research and Training in Tropical Diseases (TDR), parceiro do WHO European Observatory on Health Systems and Policies, para além de relações importantes com o a European and Developing Countries Clinical Trials Partnership (EDCTP) e o TropEd. “Queremos consolidar os ganhos adquiridos e estender bilateralmente a parceria com Institutos de referência a nível da Europa, como os de Londres e Liverpool (Inglaterra), Antuérpia (Bélgica) e Montpellier (França). O reconhecimento do potencial do IHMT a nível europeu deverá passar pela sua participação ativa nos programas e intervenções do Centro de Controlo de Doenças Europeu (ECDC)”, admite o Dr. Filomeno.
Em relação à integração com a comunidade dos países de língua portuguesa, o médico explica que considerando o papel de assessor técnico e observador consultivo do Secretariado Executivo da CPLP, a intenção é, em parceria com instituições brasileiras, reforçar as redes de ensino, investigação e prestação de serviços e colaborar com instituições de cooperação bilateral. Tem também a intenção de contribuir para a melhoria dos conhecimentos e competências de profissionais da saúde em matéria de Medicina Tropical, biomedicina, desenvolvimento de políticas de sistemas de saúde e planejamento de força de trabalho. “Propomo-nos a criar uma rede de Medicina Tropical da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) abrangente que abarque o controle das doenças tropicais negligenciadas, doenças emergentes e re-emergentes e a componente das migrações. A formação do segundo e do terceiro ciclo do IHMT deve atrair fundamentalmente técnicos da CPLP levando em consideração entre vários fatores a facilidade da língua portuguesa. A implementação de cursos de especialização em regime de curta duração, e com recurso ao uso das tecnologias de informação e comunicação para formação à distância serão uma das ferramentas a serem disponibilizados pelo IHMT. Do ponto de vista prático objetiva-se que os estudantes de Medicina Tropical tenham acesso a estágios em países tropicais de acordo com o seu perfil epidemiológico e endemicidade”, detalha o Dr. Filomeno. Atualmente o Instituto coordena todos os programas de saúde a nível da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
“Como o IHMT é parceiro da Fiocruz na missão de assessoria técnica e de observador consultivo do Secretariado Executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, queremos que este papel seja reforçado com maior interatividade e agressividade na implementação do Plano Estratégico da CPLP para a saúde”, assinala. O Instituto também é parceiro do Conselho Nacional de Secretários da Saúde do Brasil (CONASS). “Vários investigadores e professores do IHMT são membros ativos da SBMT e participam regularmente dos Congressos interagindo e estimulando a produção pontual de projetos e de atividades pedagógicas. As atuais redes de cooperação da CPLP tiveram como base de inspiração a Rede de Investigação e Desenvolvimento da Malária criada na sequência de Congressos da SBMT sob liderança do Professor Carlos Henrique Costa, ex-presidente da SBMT, e do Professor Virgílio do Rosário do IHMT. A ideia é relançar esta dinâmica através da avaliação e reforço das atuais redes e da criação de novas, mais abrangentes inseridas em uma Rede de Coordenação mais estruturante de Medicina Tropical”, afirma. Além disso, o Professor Filomeno também aposta na relação de captação de alunos brasileiros para realizarem a sua formação em Portugal e a participação em projetos de investigação multicêntricos envolvendo países Africanos.
Mudanças climáticas e as doenças tropicais
As mudanças climáticas conjugadas com os fenômenos da globalização, migração e movimentos de refugiados representam uma ameaça de proporções catastróficas imprevisíveis para a humanidade, uma vez que facilitam a proliferação de vetores e agentes patogênicos de grande virulência em curto espaço de tempo. Neste sentido, o Dr. Filomeno chama a atenção para as arboviroses (dengue, chikungunya, Zika, entre outras), atentando ainda para o risco de disseminação da malária para zonas em que existem mosquitos transmissores da doença que atualmente por razões de curta longevidade, bem como climáticas, não chegam a serem vetores eficazes.
Para ele, os desafios que se colocam estão relacionados com a implementação de sistemas de vigilância epidemiológica eficientes suportados por mecanismos de registro, notificação e de investigação adequados, e planos de emergência/contingência. “A formação de quadros especializados em entomologia médica, diagnóstico e tratamento de doenças tropicais deve acompanhar esta dinâmica. O desenvolvimento das ciências biomédicas em Medicina Tropical deve ser uma prioridade para permitir o desenvolvimento de investigação que conduza a meios de diagnóstico cada vez mais sensíveis e específicos, medicamentos eficazes, vigilância de resistência a fármacos e inseticidas, produção de vacinas e desenvolvimento de outras medidas preventivas à semelhança das redes mosqueteiras tratadas com inseticida de longa duração. Do ponto de vista de saúde global o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) deve fazer parte das prioridades dos governos, dos órgãos das Nações Unidas e das organizações sociais”, conclui o Diretor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa-Portugal, Dr. Filomeno Fortes.