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MEDTROP 2024: Medicina Tropical com perspectiva integrada de Saúde Única

Com o lema central "Medicina Tropical sob Olhar de Saúde Única", congresso destaca a necessidade de abordagens integradas para enfrentar desafios de saúde

09/11/2023

Saúde Única considerando não apenas os aspectos clínicos das doenças, mas também seus determinantes sociais, econômicos e ambientais

A cidade de São Paulo vai sediar entre os dias 22 e 25 de setembro, a 59ª edição do Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (MEDTROP). Com o lema “Medicina Tropical sob olhar de Saúde Única“, o evento, que será realizado no Centro de Convenções Rebouças, promete ser um marco. A escolha do tema reflete a crescente conscientização de que as doenças tropicais não podem ser entendidas isoladamente e sim abordadas dentro de um contexto mais amplo de saúde, ecologia e fatores socioeconômicos. A abordagem da Saúde Única busca integrar conhecimentos de diversas disciplinas, como medicina, biologia animal e vegetal e ecologia, para abordar os complexos desafios de saúde enfrentados em regiões tropicais.

A abordagem de “Saúde Única” é uma abordagem multisetorial, transdisciplinar, integrada e unificadora que visa equilibrar e otimizar de forma sustentável a saúde de pessoas, animais e ecossistemas. A abordagem reconhece que a saúde dos seres humanos, dos animais, das plantas e do meio ambiente mais amplo estão intimamente ligados e interdependentes, necessitando de uma abordagem em conjunto, visando um desenvolvimento sustentável. Assim, o MEDTROP 2024 pretende fornecer um espaço para a exploração e a discussão dessas temáticas. Para saber mais sobre o assunto, a assessoria de comunicação da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT) entrevistou a Dra. Hiro Goto, presidente do MEDTROP 2024.

Confira a entrevista na íntegra.

SBMT: O MEDTROP 2024 traz como lema “Medicina Tropical sob olhar de Saúde Única”. Por que ele foi escolhido como foco para o congresso?

Dra. Hiro Goto: O tema Saúde Única vem ganhando corpo nos últimos anos e sentimos necessidade de avançar nessa discussão para sugerir ações concretas para o desenvolvimento da área.

Na área de Medicina Tropical, já consideramos as outras espécies animais, plantas e meio ambiente, com visão de Saúde Única, mas, o papel de outras espécies é reduzido à condição de reservatório de agentes infecciosos. Sentimos que, ao falar de Saúde Única, estamos ainda na fase de alertar para ampliar a visão incluindo outros protagonistas, mas sem caminhar na busca de propostas de ação e discussão com o setor que cuida de outras espécies animais, como os veterinários, o que pretendemos colocar em prática no MEDTROP 2024.

Do meio ambiente, que é uma questão que envolve consciência coletiva, pretendemos trazer informações de como as mudanças climáticas estariam afetando ciclo da infecção e a biologia do agente etiológico e até na resposta ao tratamento.

SBMT: A senhora poderia compartilhar conosco por que o tema é relevante no cenário atual da Medicina Tropical e da Saúde Global?

Dra. Hiro Goto: Dependendo da doença, a saúde humana tem ligação estreita com doenças em outras espécies, como animais silvestres, mas outros próximos a nós que podem ser de pequeno porte, animais domésticos, com papel sócio-cultural preponderante atualmente, e outros, de grande porte, com peso econômico-financeiro na área agropecuária. Desta forma, há necessidade de enfrentar em conjunto as questões no cuidado de pacientes humanos e veterinários, no controle e prevenção para real avanço na área de Medicina Tropical.

No MedTrop2024, trabalharemos a Saúde Única porque os participantes gravitam nas áreas que esta abarca, mas, abre possibilidade de avançar na discussão de Saúde Global onde outras áreas do conhecimento, além daquelas de nosso domínio, são contempladas.

SBMT: Quais são os principais desafios ou questões críticas que os profissionais de saúde enfrentam dentro desse campo e que serão abordados durante o congresso?

Dra. Hiro Goto: Os desafios são inúmeros e elegemos Saúde Única como lema e ela permeará muitas de nossas atividades durante o MEDTROP 2024, ao elencar as diferentes doenças infecciosas e doenças tropicais negligenciadas. Pretendemos trazer as várias abordagens dentro da mesma programação, priorizando as que tem grande impacto no momento. Temos como exemplo a esporotricose em expansão logarítmica, afetando gatos e seres humanos. Outro exemplo é a mastite bovina que traz dano econômico na pecuária, cujo agente principal é a Staphylococcus aureus que, no campo humano, constitui sério problema com aparecimento de cepas resistentes a antimicrobianos. Com seus agentes etiológicos compartilhados, traz no bojo, por exemplo, a discussão da política de uso de antimicrobianos em cada setor.

SBMT: Como o MEDTROP 2024 pretende contribuir para o avanço da pesquisa, prática clínica e políticas de saúde em relação a esse tema?

Dra. Hiro Goto: O fato de trazer essa preocupação já desperta os participantes para o tema. No entanto, os exemplos concretos que pretendemos apresentar, da interação entre os diferentes protagonistas e fatores, certamente propiciarão avanços da pesquisa, reflexão na prática clínica e políticas de saúde.

No tocante a políticas de saúde, idealizamos interações de vários setores governamentais e privados, partes interessadas, ligados ao tema para avançar em propostas concretas de implementação, desenvolvendo um trabalho conjunto.

SBMT: O MEDTROP também destaca a colaboração internacional e a troca de conhecimento. Como isso desempenha um papel fundamental na abordagem do tema do evento?

Dra. Hiro Goto: Observamos, felizmente, iniciativas e grupos de pesquisa avançando no tema Saúde Única, mas não são numerosos. Desta forma, a participação de pesquisadores internacionais com conhecimento e vivencia na área, ao lado de exemplos de locais que tem políticas avançadas de regulamentação e políticas de saúde humana e animal, considerando os parâmetros de Saúde Única, vão enriquecer a discussão e contribuirão no avanço da área. Colaborações internacionais podem surgir na esteira.

SBMT: A senhora gostaria de acrescentar algo?

Dra. Hiro Goto: A organização da programação está ainda incipiente, mas, podemos adiantar que uma pauta de destaque no MEDTROP 2024 será o “Controle de Doenças Negligenciadas” que será desenvolvida em conjunto com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e Ministério da Saúde, em várias sessões. A OMS elaborou Objetivos para Desenvolvimento Sustentável (ODS) e um Road map 2021 – 2030 com metas para o controle ou erradicação de Doenças Negligenciadas. As ações sofreram impacto pela pandemia e, em discussão inicial, considera-se que o MEDTROP 2024 seria um palco oportuno para analisar o rumo dessas ações no Brasil, na América Latina e quiçá em outras partes do mundo, e levantar sugestões para reformulação ou planejamento futuro.

Além das atividades principais, o MEDTROP oferece uma programação exclusiva de eventos satélites, que expandem os horizontes e enriquecem a experiência dos participantes. Esses eventos, realizados em paralelo ao congresso, abordam questões atuais e emergentes, trazem especialistas renomados. Entre os eventos satélites que ocorrerão durante o congresso, destaca-se o 10º Workshop de Genética e Biologia Molecular de Insetos Vetores de Doenças Tropicais (Entomol 10), o XI Workshop Nacional da Rede Brasileira de Pesquisas em Tuberculose REDE-TB, a 39ª Reunião de Pesquisa Aplicada em Doença de Chagas e a 27ª Reunião de Pesquisa Aplicada em Leishmanioses (ChagasLeish 2024), e o 9º Fórum Social Brasileiro para Enfrentamento de Doenças Infecciosas e Negligenciadas.

As inscrições para o MEDTROP 2024 podem ser realizadas pelo site: https://medtrop2024.com.br/. Também já temos uma agência de turismo disponível para reservar hospedagem, passagem e passeios. Aproveite os valores promocionais e faça a sua inscrição.

São Paulo: cidade de contrastes sob o manto das doenças tropicais

São Paulo, que é conhecida por seu pioneirismo em várias áreas, também desempenhou papel fundamental na pesquisa e no tratamento de doenças tropicais. Instituições médicas e científicas locais se destacaram no estudo de enfermidades como a leishmaniose, a febre amarela e a Covid-19. A cidade viu médicos e pesquisadores dedicando suas vidas à busca de soluções, desenvolvendo tratamentos, vacinas e estratégias de prevenção. São Paulo continua a ser um epicentro de pesquisa médica e científica na luta contra doenças tropicais. A cidade abriga algumas das principais instituições de saúde do Brasil, envolvidas em pesquisas, diagnósticos e tratamentos inovadores.

A história de São Paulo em relação às doenças tropicais é uma narrativa de desafios, resiliência e inovação. Enquanto a cidade avança no século XXI, a busca por soluções e a conscientização sobre essas enfermidades permanecem parte integral de seu legado, inspirando a continuidade dos esforços para um futuro onde as doenças tropicais possam ser controladas e, eventualmente, eliminadas.

Nas entranhas da metrópole, nas vielas esquecidas, as doenças tropicais encontraram abrigo. Em São Paulo, a poesia urbana se entrelaça com as doenças tropicais. Em versos de desafios, em rimas de cuidados especiais, que a luz dos laboratórios e o calor humano persistam, para que nas sombras das enfermidades, a esperança exista. Assim, entre a cidade que nunca dorme e os males que ameaçam, São Paulo, com determinação, as doenças tropicais desarma. E em cada paciente que se cura, em cada sorriso restaurado, a cidade e as doenças, em versos, são superadas.