MEDTROP 2024, Medicina Tropical no palco da grande metrópole
A interação com o setor veterinário foi cultivada com afinco e refletiu na construção da programação e contribuição esperada para ações futuras pela Saúde Única
06/09/2024O Congresso Brasileiro de Medicina Tropical (MEDTROP) deste ano será palco de um intenso diálogo entre instituições e diversos protagonistas para construir estratégias para o enfrentamento dos desafios presentes e futuros na área. A história e a experiência, tanto do passado distante quanto do recente, formaram a base para a montagem deste espetáculo.
Não é por acaso que a arena será montada em São Paulo. A cidade atrai os olhos do mundo não só pela sua pujança econômica, mas também pelo seu impacto no campo científico e pela atuação em prevenção e assistência. O progresso na área de Medicina Tropical foi, em parte, impulsionado pela necessidade, devido aos surtos de doenças infecciosas ao longo do tempo. O ciclo do café, a industrialização e o impulso no comércio internacional propiciaram grande movimentação de pessoas e mercadorias, inicialmente no porto de Santos e, atualmente, nos aeroportos, resultando na chegada de surtos de doenças infecciosas como a cólera, febre tifoide, peste bubônica e febre amarela no século XIX, e mais recentemente de HIV, Covid-19 e Monkeypox, com detecção de seus primeiros casos em São Paulo.
Neste MEDTROP, subirão ao palco o médico que notou a chegada de uma infecção “estranha”, o patologista que detecta o impacto do microrganismo nos órgãos, o pesquisador que estudou o genoma do agente, e a equipe que desenvolveu o teste diagnóstico. Um novo surto está a caminho? Do outro lado, também subirão ao palco aqueles que atuaram na detecção, acionando a vigilância sanitária a nível local, e iniciando a cadeia de ações a nível estadual e federal para trabalhar na detecção, controle e atuação sobre os indivíduos ou a população afetada. Os pesquisadores que foram instigados e envolvidos nas várias áreas a serem investigados vão apresentar os resultados inéditos e instigantes, além das dúvidas e questões que impulsionarão o avanço dos projetos, contribuindo efetivamente para o desenvolvimento científico na área. Conseguiremos medidas eficazes de prevenção? Mais uma vez, a ciência precisa estar lado a lado com todos os atores desta obra, com envolvimento de suas instituições de ensino e de pesquisa. Também subirão ao palco as instituições federais, estaduais e municipais que organizam e estabelecem as normas para o controle, prevenção e assistência a doenças tropicais infecciosas.
O lema do evento “Medicina Tropical sob olhar de Saúde Única” foi mais que propício diante de desastres climáticos e zoonoses em ascensão. O impacto das alterações climáticas será discutido, e as ações federais implementadas durante as enchentes no Rio Grande do Sul serão revisitadas. Veremos também que outras espécies animais não são meros coadjuvantes. Animais de grande porte, afetados e com grande peso na economia do setor agropecuário, precisam ser reconhecidos como protagonistas principais e vistos como parte integral do mesmo espetáculo. Isto é especialmente relevante em questões preocupantes, como a resistência de microrganismos a agentes antimicrobianos. Se não regulamentarmos o uso de antimicrobianos na área veterinária, nós, humanos, sofreremos com o aumento de microrganismos resistentes a medicamentos, que podem se espalhar para outras espécies animais. Na preparação do MEDTROP 2024, a interação com o setor veterinário vem sendo cultivada com afinco, refletindo na construção da programação do evento e na contribuição esperada para futuras ações visando Saúde Única.
Todos os congressistas do MedTrop2024, incluindo membros de órgãos governamentais, pesquisadores, médicos, outros profissionais de saúde e estudantes, são convidados a participar da construção de estratégias para o enfrentamento de desafios presentes e futuros na área de Medicina Tropical.
MEDTROP 2024 homenageia Prof. Thales de Brito
Na construção desse processo, todos são extremamente importantes, cada um trazendo sua contribuição, mas há aqueles que, inegavelmente, se destacam pela qualidade e abrangência de sua atuação. No MEDTROP deste ano, homenagearemos o Professor Dr. Thales de Brito, um dos grandes nomes da pesquisa em doenças tropicais no Brasil. Na ocasião, renomados pesquisadores apresentarão as últimas contribuições do Prof. Brito à ciência, especialmente no campo da leptospirose. A Profa. Dra. Mirian N. Sotto, da Universidade de São Paulo (USP), abrirá este momento com uma palestra sobre a trajetória e a dedicação do Prof. Thales na patologia de doenças infecciosas. Em seguida, o Prof. Dr. Antonio Carlos Seguro apresentará os resultados de pesquisas de ponta em leptospirose, realizadas em colaboração com o Prof. Thales até pouco antes de seu falecimento. Sua contribuição e influência não se restringiram à área de doenças infecciosas. Seu impacto, inicialmente na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, com a solidificação do ensino da Patologia, a essência da Ciência médica, foi sentido entre seus pares, patologistas renomados de outras instituições de ensino e de pesquisa em todo o Brasil, influenciando o desenvolvimento do ensino e da pesquisa em Patologia. Com mais de 80 anos, o Prof. Brito era conhecido por sua energia e dedicação incansável à pesquisa científica. Trabalhando lado a lado com pesquisadores jovens, ele aplicava os conhecimentos mais recentes e utilizava tecnologias inovadoras em suas investigações.
A programação do MEDTROP 2024 prevê, além dos cursos pré-congresso, mesas redondas, mini-conferências, conferências, temas livres para apresentação oral e apresentações de pôster, diversos eventos satélites: 39ª Reunião de Pesquisa Aplicada em Doença de Chagas e a 27ª Reunião de Pesquisa Aplicada em Leishmanioses (ChagasLeish 2024), Workshop de Genética e Biologia Molecular de Insetos Vetores de Doenças Tropicais (Entomol10), XI Workshop Nacional da Rede Brasileira de Pesquisas em Tuberculose REDE-TB, 9º Fórum Social Brasileiro para Enfrentamento de Doenças Infecciosas e Negligenciadas, Oficina de integração entre as Redes Internacional de Atenção e Estudo em Coinfecção T. cruzi/HIV e outras Condições de Imunossupressão, e Rede de Coinfecção Leishmania-HIV, além dos conceituados cursos de Manejo Clínico da doença de Chagas e de Redação Científica.
“Reconhecida por sua vitalidade cultural, científica e médica, São Paulo é um cenário inspirador para este congresso. Temos o privilégio de estar no coração de uma metrópole que respira inovação e pesquisa de ponta. Que essa energia contagiante nos motive a avançar com paixão e dedicação em nossas discussões. E que, ao olharmos para o futuro, cada um de nós possa abraçar a visão da Saúde Única/Uma Só Saúde em sua prática e pesquisa. Juntos, podemos fortalecer nossa capacidade de enfrentar desafios emergentes, construir resiliência em comunidades vulneráveis e contribuir para a saúde global de maneira significativa”, concluiu a Dra. Goto.
fortalecer nossa capacidade de enfrentar desafios emergentes, construir resiliência em comunidades vulneráveis e contribuir para a saúde global de maneira significativa’, concluiu a Dra. Goto”.
**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**