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Melhor forma de eliminar as doenças é trabalhar em conjunto, diz Secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente

Esta é uma nova oportunidade para contribuir nacionalmente nas estratégias e no enfrentamento de tantas doenças que acometem as pessoas mais vulneráveis

09/01/2023

Para a pós-doutora em Epidemiologia pela universidade norte-americana Johns Hopkins, sua nomeação representa o reconhecimento do trabalho sério e comprometido com a ciência, que demonstra o papel importante da mulher pesquisadora

A ex-presidente da Rede Brasileira de Pesquisas em Tuberculose REDE-TB, epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Dra. Ethel Maciel foi convidada pela Ministra da Saúde, Dra. Nísia Trindade, para compor a sua equipe frente à Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, uma das mais importantes dentro da pasta, que foi criada para reforçar uma área extremamente estratégica do Ministério, por meio do fortalecimento e ampliação das ações de Vigilância Epidemiológica. Entre suas ações estão incluídos os programas nacionais de combate à dengue, à malária e outras doenças transmitidas por vetores; a prevenção e o controle de doenças imunopreveníveis, como o sarampo, o controle de zoonoses; e a vigilância de doenças emergentes. A Secretaria também agrega importantes programas nacionais de combate a doenças como tuberculose, hanseníase, hepatites virais, IST e Aids. O órgão tem ainda dentre suas ações, o Programa Nacional de Imunização, responsável por todas as vacinas que são distribuídas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Apesar do Brasil contar com o maior Sistema Único de Saúde gratuito do mundo e que apresenta a maior capacidade técnica da América Latina para o enfrentamento das doenças emergentes e reemergentes que vêm sendo frequentemente notificadas no País, ainda convivemos com um número significativo de casos dessas enfermidades. O desafio da nova Secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente será grande, mas sua experiência no Comitê Técnico da Organização Mundial de Saúde (OMS), que auxilia os países com elevados índices de tuberculose a combater a doença, juntamente com a sua participação no Programa Nacional de Controle da Tuberculose e como membro do Grupo Técnico Assessor de Tuberculose no Ministério da Saúde, somado ao seu destaque no enfrentamento ao coronavírus durante a pandemia, tendo participado do Plano Nacional de Vacinação contra a Covid-19, do Ministério da Saúde, devem ser o seu maior diferencial. A assessoria de Comunicação da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT) conversou com a Secretária de Estado, Dra. Ethel Maciel.

Confira a entrevista na íntegra.

SBMT: Qual a expectativa para a sua gestão na Secretária de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde?

Dra. Ethel Maciel: A expectativa é a melhor possível, estou muito motivada e com muita esperança na reconstrução de vários programas que foram impactados negativamente durante a gestão que finalizou. Vamos também atuar no enfrentamento de várias doenças que ficaram muito aquém do desejado no Brasil; a própria vacinação, onde houve uma ação efetiva para prejudicar as coberturas vacinais no País, com campanhas que colocaram em dúvida a segurança e a eficácia das vacinas; inclusive com discursos de autoridades que estavam no comanda da pasta. Então, a expectativa é a melhor possível, principalmente porque teremos a primeira mulher Ministra da Saúde, uma pessoa muito preparada para essa missão e que tenho a certeza de que vai conduzir muito bem o Ministério. Dra. Nísia está trazendo toda a experiência que possui, principalmente à frente da presidência da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Estou com muita esperança. Acho que essa é a melhor palavra nessa reconstrução e estou muito motivada.

SBMT: Quais as perspectivas para doenças tropicais como dengue, chikungunya, calazar, doença de Chagas, tuberculose, hanseníase, entre outras?

Dra. Ethel Maciel: A perspectiva para as doenças tropicais é que nós consigamos melhorar e inovar nas ações de enfrentamento. Temos pesquisas científicas que já colocam novas formas de controle para os vetores, para essas arboviroses, e que não foram efetivamente implantados. Vamos ter à frente da direção do Departamento de Doenças Transmissíveis uma tarefa de buscar as evidências científicas para que novas formas de controle possam ser implementadas. Vamos trabalhar isso junto com a Atenção Primária, onde efetivamente essas políticas são feitas, e também junto com a Atenção Especializada, que são outras duas secretarias do Ministério da Saúde. A proposta da Ministra é que as secretarias trabalhem em ações integradas, e é isso que pretendemos fazer. Em relação à hanseníase e à doença de Chagas, que estão dentro das doenças em eliminação, elas estão dentro de uma coordenação específica, e também serão alvo de prioridade dessa gestão. São doenças que estão localizadas em áreas passíveis de intervenção, e com um bom planejamento podemos chegar próximo da eliminação de muitas delas. Em relação à tuberculose, que está no Departamento de IST-Aids, Hepatites e Tuberculose, pensamos em uma estratégia comum de atuação conjunta. É um departamento que temos grandes expectativas porque o Brasil assumiu várias metas com a Organização Mundial de Saúde visando o controle a eliminação como problema de saúde pública.  No entanto, nesses últimos quatro anos o governo se afastou muito delas. Precisamos retomar o protagonismo do Brasil no controle dessas doenças.

SBMT: O Brasil tem enfrentado grandes epidemias nos últimos anos e doenças já erradicadas voltam a ser motivo de preocupação entre autoridades sanitárias e profissionais de saúde. Estamos preparados para lidar com surtos de epidemias e com o surgimento de novas doenças? Como evitar e minimizar o avanço progressivo delas?

Dra. Ethel Maciel: O Brasil tem enfrentado grandes epidemias e a própria pandemia da Covid-19, que ainda é motivo de preocupação porque ela continua, ainda que o governo brasileiro tenha revogado a declaração de emergência de saúde pública, vamos avaliar, com o apoio de especialistas, a necessidade de restituição de emergência no País, observando principalmente a que está acontecendo na China. Temos um departamento específico de emergência que vai cuidar dessas ações junto com o Comitê Científico, que está sendo reinstalado, essa é uma ação importante da Ministra Nísia. Vamos estar atentas a essa avaliação dos especialistas.

SBMT: Quais desafios podem ser elencados no que diz respeito à Vigilância Epidemiológica?

Dra. Ethel Maciel: Os desafios são enormes para a Vigilância em Saúde, mas, felizmente, temos à frente do Ministério uma pessoa que compreende a importância do Sistema Único de Saúde (SUS), que compreende a importância da Ciência, que atua nesses campos e que sabe, portanto, a necessidade de investimento e planejamento, usando as melhores evidências para que tenhamos resultados concretos para entregar à sociedade.

SBMT: Como a SBMT pode ajudar nos desafios das doenças transmissíveis? A senhora vê a possibilidade de aumento na parceria? Como estimular o surgimento de novas lideranças?

Dra. Ethel Maciel: A Sociedade Brasileira de Medicina Tropical é fundamental para que possamos, em parceria, estimular, além do surgimento de novas lideranças nos comitês científicos, contamos com o acúmulo que a SBMT tem para nos auxiliar nas melhores tomadas de decisão. Temos que propiciar à sociedade brasileira o que há de melhor em atenção à saúde, no controle e na vigilância das nossas doenças. Então, a SBMT tem um papel fundamental nesse compromisso, assim como outras sociedades científicas, mas especificamente no auxílio à formulação dessas políticas.

SBMT: Os programas de controle dentro do Ministério da Saúde são muito bem-feitos e organizados, mas eles têm impacto muito reduzido quando distribuídos entre estados e municípios. Como e de que forma a sua secretaria pode ou pretende trabalhar/atuar para mudar esse cenário?

Dra. Ethel Maciel: Precisamos trabalhar, como eu falei antes, de forma integrada. A Secretaria de Vigilância em Saúde, junto com a Secretaria de Atenção Primária em Saúde e a Secretaria de Atenção Especializada, fazendo ações conjuntas para que possamos impactar o controle dessas doenças no Brasil. Além disso, muitas doenças acometem mais algumas populações vulneráveis e ações do intersetoriais focando por exemplo, na População de Rua com ministérios das Cidades e também do Desenvolvimento Social, no ministério da justiça, em especial as doenças transmissíveis no sistema prisional, na População Indígena com novo Ministério dos Povos Originários.

SBMT: A senhora gostaria de acrescentar algo?

Dra. Ethel Maciel: Eu fiquei muito honrada com o convite da Ministra Nísia Trindade para compor essa gestão, porque eu acredito que isso representa um novo capítulo da história da saúde no Brasil. Soma-se o fato de ser também a primeira mulher a ocupar essa pasta da Secretaria de Vigilância em Saúde, que agora passa a se chamar Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Estou muito motivada e muito feliz de fazer parte da reconstrução do nosso Sistema Único de Saúde e das políticas de saúde no Brasil.