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Método Wolbachia: entenda como funciona a liberação de mosquitos com a bactéria que evita a transmissão

Especialista fala sobre a estratégia durante o 59° Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical e apresenta os resultados no Rio e em Niterói

30/09/2024

O método Wolbachia consiste em liberar Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia e promover a substituição por mosquitos incapazes de transmitir vírus de doenças como dengue, Zika e chikungunya. Com o tempo, os mosquitos se reproduzem e geram filhotes com a bactéria, que são incapazes de transmitir estes vírus. O método foi apresentado no segundo dia do 59° Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (MEDTROP 2024) por Gabriel Sylvestre, Líder de Operações do World Mosquito Program Brasil/Fiocruz. 

O método não visa a eliminação dos mosquitos, ao contrário de outros, que são focados na redução da quantidade de mosquitos. “Nós liberamos mosquitos que não transmitem doenças. O Método Wolbachia não substitui quaisquer outros métodos usados pela população e pelo governo para conter o aumento da dengue. Somado a outras ações, colabora para a redução dos casos na localidade onde é aplicado”, diz Sylvestre.

Isso acontece de duas formas. “A primeira opção é a soltura de mosquitos nos bairros utilizando carros. O outro método é a liberação por cápsulas de ovos. Então, em vez de serem criados em laboratórios e depois soltos, esses mosquitos são criados ao ar livre e liberados. Tudo é feito com o engajamento dos moradores das áreas próximas “, explica. 

De acordo com Sylvestre, o Wolbito não faz nenhum mal às pessoas, animais ou meio ambiente. É um método seguro e natural. A Wolbachia é uma bactéria muito comum, está presente em 60% dos insetos e foi  transferida da mosca da fruta para o Aedes aegypti, o que gerou uma proteção, impedindo que este mosquito transmita vírus como dengue, Zika ou Chikungunya. A metodologia já é usada em 14 países, e cada um deles possui uma instituição responsável pela implementação. No Brasil, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) é quem faz esse apoio .

Condições climáticas e adaptabilidade são estudadas antes da liberação

De acordo com estudos feitos pelo projeto, os resultados de redução da transmissão destas arboviroses, como dengue, Zika e chikungunya podem ser observados após cerca de 2 anos. “Estudamos o local da liberação e as liberações ocorrem semanalmente por cerca de 20 semanas. De geração em geração, como a Wolbachia passa na reprodução dos mosquitos, há aumento da porcentagem de mosquitos com Wolbachia, os Wolbitos, até que haja uma estabilização. Por isso o método é natural e autossustentável, não é necessário liberar mosquitos para sempre, eles próprios fazem o trabalho “, afirma. 

O método já é utilizado em Niterói, onde se observou uma redução de 69% dos casos de dengue. “Outras cidades, como Campo Grande e Petrolina, que nos últimos anos apresentavam grande volume de casos,  tiveram uma redução importante após a implementação do projeto, , possivelmente o Método Wolbachia já está gerando algum efeito “, informa. 

Meta de expansão para 2025

Uma fábrica está sendo construída em Curitiba (PR) para aumentar a  produção de ovos de mosquitos com Wolbachia, visando expandir a atuação no país.  A expectativa é que a fábrica esteja pronta ainda no primeiro semestre do próximo ano.

Outro objetivo é, até o mês de agosto de 2025, atingir a produção de 100 milhões de ovos por semana, com a meta de, em 5 anos, cobrir áreas com uma população de 65 milhões de pessoas, finaliza.

**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**