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Mineração ilegal provocou aumento dos casos de malária na Amazônia, aponta revisão publicada na RSBMT

Aproximadamente 35 mil garimpeiros ilegais operam na Terra Indígena Yanomami

06/07/2024

Apesar de negligenciarem o risco de malária, os mineradores confiam no atendimento médico, diagnósticos e medicações quando adoecem, revela o estudo

É fato: o desmatamento provocado pela mineração modifica o ambiente natural, criando condições ideais para a proliferação dos mosquitos Anopheles, vetores da malária. Agora, uma revisão publicada na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (RSBMT), que reuniu constatações científicas anteriores, aponta que a área de garimpo em terras indígenas aumentou 102% entre 2018 e 2021. Em relação aos aspectos epidemiológicos e de controle da malária em áreas mineradoras da Amazônia, as evidências do estudo da Universidade de Brasília (UnB) são claras: há uma correlação positiva entre a atividade mineradora ilegal e a incidência de malária. De acordo com o estudo, a maioria dos mineiros são homens jovens, de 15 a 29 anos, que se deslocam frequentemente entre estados e até países, facilitando a propagação da doença. O estudo foi baseado em dados de casos da doença registrados nestes 13 anos no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica (Sivep-Malária) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde.

O Dr. Rodrigo Gurgel, membro da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), biólogo e professor da UnB, um dos autores da revisão, ressalta que a mineração ilegal causa o desmatamento da floresta, o que cria um ambiente propício para a proliferação dos mosquitos. A alta mobilidade dos mineradores espalha a malária para novas áreas, dificultando o controle da doença. Ainda segundo ele, a mineração ilegal é uma das atividades mais reportadas dentro das terras indígenas, sendo identificada como uma das principais causas de surtos de malária entre os povos indígenas na Amazônia. “As invasões de terras indígenas, como a Terra Indígena Yanomami, resultam em desmatamento, contaminação de águas e escassez de alimentos, agravando a situação de saúde das comunidades”, lamenta. Em 2021, mais de 20 mil casos de malária foram relatados na Terra Indígena Yanomami, com aproximadamente 17 mil casos entre crianças com menos de 5 anos, 13 vezes mais do que em 2014.

Em 13 anos, mais de 253 mil casos de malária foram registrados em áreas de garimpo. Os registros começaram a subir, principalmente, a partir de 2020. Dentre as regiões mais afetadas, estão os estados do Mato Grosso e de Roraima, com aumento de casos entre 2017 e 2022, principalmente em áreas de garimpo ilegal. Em 2020, 59% dos garimpos brasileiros eram ilegais. O Dr. Gurgel lembra que em janeiro de 2023, os Yanomami enfrentaram uma crise de saúde pública, com um aumento alarmante nos casos de malária, especialmente entre crianças. A resposta do governo brasileiro incluiu a declaração de emergência de saúde pública e a formação de uma força-tarefa para eliminar a mineração ilegal e fornecer assistência médica e alimentar. 

A revisão identificou cinco estratégias principais para reduzir a incidência de malária em áreas de mineração, entre elas: revisar a legislação ambiental para controlar o desmatamento e a expansão da mineração, com foco especial em terras indígenas; fortalecer a vigilância da malária por meio da expansão da rede de agentes comunitários de saúde, permitindo diagnósticos e tratamentos rápidos; reforçar estratégias de controle vetorial, como o uso de redes tratadas com inseticidas; integrar alertas de desmatamento no programa nacional de controle da malária, para uma resposta mais rápida e eficaz; e implementar atividades multisetoriais e fornecer assistência imediata às populações indígenas afetadas.

“A malária é um dos principais flagelos à população amazônica, principalmente para os mais vulneráveis, e um grande problema de saúde pública nas áreas de mineração. A atividade garimpeira se caracteriza pela intensa mobilidade populacional e dificuldade de acesso das equipes de saúde, o que limita os cuidados de saúde nessas áreas com alta incidência de malária. A implementação de estratégias de controle eficazes, adaptadas às necessidades locais e com reforço das medidas de vigilância e controle vetorial, são essenciais para reduzir a carga da malária e proteger as comunidades afetadas”, destaca o pesquisador Pablo Sebastian Tavares Amaral, coautor do artigo e doutorando no Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical da UnB. Por fim, ele enfatiza que a colaboração entre governos, organizações de saúde e comunidades locais é fundamental para o sucesso das iniciativas de eliminação da malária na Amazônia,” conclui. Com esforços coordenados, espera-se que a incidência da doença nas áreas mineradoras da Amazônia diminua significativamente no futuro, alcançando o objetivo de eliminação da malária no Brasil, conforme plano do Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária, do Ministério da Saúde.

Confira a revisão “Malaria in areas under mining activity in the Amazon: A review” publicada na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (RSBMT): https://doi.org/10.1590/0037-8682-0551-2023.

**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**