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Mosquitos transgênicos são utilizados para controlar a população do Aedes aegypti

Apesar dos benefícios da tecnologia, uso desses insetos ainda pode ser caro para a rede pública de saúde

25/10/2015
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Em breve o Aedes aegypti do Bem será utilizado em lugares onde o risco de epidemias é mais alto e ou onde as ferramentas atuais têm se mostrado ineficazes

A criação do mosquito geneticamente modificado, também conhecido como mosquito transgênico, tem ganhado espaço no cenário brasileiro. A tecnologia, que ainda está sendo inserida no Brasil, busca controlar a população do mosquito transmissor da dengue, o Aedes aegypti, e reduzir os casos da doença no País.

Segundo a doutora em Ciências Biológicas Margareth Capurro, um dos benefícios para a utilização de mosquito transgênico é a diminuição no uso de inseticidas. “O uso do mosquito modificado sempre foi pensado como forma integral de controle integrado. Se existe um mosquito que vai reduzir a população natural, então não é necessário tratar áreas com inseticida, que é altamente tóxico”, explicou.

Além disso, para a doutora, o Aedes aegypti é uma praga que, se erradicada, não causaria nenhum impacto ambiental. “Ele não é natural do Brasil. Inclusive já foi eliminado na época das campanhas de febre amarela e depois foi reintroduzido”, disse. “Ele não faz parte de um ecossistema da natureza. É muito associado à cidade. A ecologia dele é urbana, por isso é considerado uma praga. Está totalmente associado ao homem. Não tem impacto ecológico, mesmo se for erradicado”, completou.

Viabilidade de implementação

De acordo com a doutora Margareth Capurro, uma das dificuldades para o uso de mosquitos transgênicos – como o desenvolvido pela empresa inglesa Oxitec – é a linhagem utilizada, atualmente feita por meio da separação de macho e fêmea. “Uma das vantagens que vimos ao fazer os testes é que há um campo para o desenvolvimento de novas linhagens, que seriam mais apropriadas para um sistema de implementação no Brasil”, apontou. Ainda de acordo com ela, há uma tentativa de melhoria no projeto para fazer com que o programa fique mais barato e mais eficiente.

Mas, segundo a doutora, a linhagem atual geraria um custo muito alto como programa de saúde pública. Isso porque, atualmente, somente cerca de 25% da produção é aproveitado, sendo o restante descartado. “O que acontece é que hoje temos uma visão do que podemos melhorar nas linhagens, para que a gente consiga usar 100% da produção”, ressaltou.

A tecnologia

A Oxitec criou o mosquito transgênico OX513A, conhecido como Aedes aegypti do Bem. O inseto pode ser usado em todas as áreas em que está presente o principal transmissor da dengue, da chikungunya e da zika. “Nos próximos anos, iremos focar em utilizar o Aedes aegypti do Bem em lugares onde o risco de epidemias é mais alto e ou onde as ferramentas atuais têm se mostrado ineficazes para controlar o mosquito selvagem”, explicou o diretor da Oxitec no Brasil, Glen Slade.

A tecnologia já está sendo utilizada nas cidades de Jacobina, na Bahia, e em Piracicaba, em São Paulo. Agora, a ideia é tentar expandir a utilização do mosquito transgênico. “Temos conversado com as diferentes esferas do governo brasileiro para expandir a utilização do Aedes aegypti do Bem. Infelizmente, até agora, a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) não respondeu ao nosso pedido sobre quais documentos devemos apresentar para poder pedir o registro comercial dele. Com isso, nossas opções para ampliar o uso desta solução segura, eficaz e amiga do ambiente se tornam mais restritas”, lamentou.

Com relação aos resultados por meio do uso desses mosquitos, o diretor da Oxitec afirma que, além de Juazeiro e Jacobina, na Bahia, o Aedes aegypti do Bem suprimiu o mosquito transmissor da dengue em East End, nas Ilhas Cayman, com 96% de redução, e em Nuevo Chorrillo, no Panamá, com 93% de redução.

Como funciona

Por meio da genética e biologia molecular, a Oxitec inseriu um gene letal para criar uma linhagem de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs). Esses OGMs machos, quando liberados no campo, encontram instintivamente fêmeas selvagens (responsáveis pela transmissão da dengue). Os filhotes deste cruzamento morrem antes da idade adulta, o que resulta na diminuição da população selvagem do inseto praga.