
Mpox: o que se sabe até agora?
Especialistas discutiram a disseminação global, cuidados e desafios no tratamento da doença que preocupa a saúde mundial durante o 59º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical
30/09/2024O 59º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (MEDTROP 2024) aconteceu entre os dias 22 e 25 de setembro, em São Paulo e trouxe especialistas para discutir um tema bastante relevante atualmente: a mpox. Anteriormente conhecida como varíola dos macacos, o assunto acendeu um alerta mundial devido ao aumento dos casos a nível internacional. De acordo com a doutora em microbiologia Camila Malta Romano, existem dois tipos de cepas do vírus: o clado I, presente na República do Congo, e o clado II, que se dissemina de forma mais ampla ao redor do mundo.
O mpox pode se espalhar facilmente entre pessoas pelo contato direto ou indireto com sangue, fluidos corporais, lesões na pele ou mucosas de animais infectados, como roedores. O infectologista Álvaro Furtado Costa destacou alguns cuidados essenciais ao atender um paciente com suspeita de mpox. Segundo o especialista, é importante avaliar o histórico de ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis), verificar se o paciente é transplantado e sempre realizar exames sorológicos. A taxa de mortalidade é maior em pacientes com AIDS, podendo chegar a 15%, com risco elevado de necrose.
O médico patologista e infectologista Amaro Nunes Duarte Neto compartilhou dois casos de pacientes com HIV que vieram a óbito após 46 e 91 dias, respectivamente. Devido à infecção preexistente, as lesões nesses pacientes foram mais progressivas e agressivas, com áreas de necrose e ampla disseminação pelo corpo.
Tratamentos disponíveis: o que se sabe até agora
No Brasil, este ano, houve 709 casos confirmados ou prováveis de mpox. No entanto, ainda não existem medicamentos e vacinas cientificamente comprovados para o tratamento específico da mpox. O uso de medicamentos e vacinas para varíola, por exemplo, é sugerido nos Estados Unidos, já que ambas fazem parte da mesma família viral, o Orthopox. Contudo, a médica ressalta que os estudos disponíveis incluem uma quantidade limitada de pacientes, o que impede conclusões definitivas para a aplicação em larga escala e evidencia a necessidade de mais pesquisas.
Estimativas e previsões para o futuro
O pesquisador Eduardo Hage Carmo, da Fiocruz/DF, afirmou que é difícil prever dados concretos sobre a mpox, pois as condições do vírus e seus padrões de transmissão ainda não estão claros. Na República do Congo, onde há mais de cinco mil casos confirmados, o cenário de guerra reduz o acesso e o diagnóstico de novos casos. Além disso, fatores como a violência contra os direitos humanos, os abusos sexuais que assolam as mulheres da região e o fluxo migratório de viajantes contribuem para a disseminação do vírus, dificultando o controle e o estudo mais detalhado da mpox.
**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**