
Município com surto de febre tifóide precisa de intervenção em saneamento, apontam pesquisadores
Em apenas um mês, casos detectados da enfermidade em Breves (PA) subiram de 20 para 46
02/02/2016
Vacina para prevenção da doença no município está sendo estudada e posteriormente deve ser levada ao Ministério da Saúde
Um surto de febre tifóide colocou em alerta os moradores do município de Breves (PA), que fica no arquipélago do Marajó. A doença, aliás, é endêmica na região, devido principalmente às péssimas condições de saneamento local. Segundo o investigador do Instituto Evandro Chagas (IEC), doutor Haroldo Matos, será necessário um grande projeto de intervenção para resolver o problema.
“Algo como um projeto ‘Pará azul’, assim como houve em Salvador o projeto Bahia azul [conjunto de obras e ações na área de saneamento e meio ambiente desde a década de 1970]. Sem essa intervenção, nossa atuação será pontual”, afirma o pesquisador.
A necessidade de ações de higiene deve-se principalmente à forma de transmissão da doença, que ocorre por via oral/fecal, com a ingestão de água e alimentos contaminados pelas fezes de pessoas portadoras da bactéria Salmonella typhi. Caso a enfermidade não seja tratada ou haja atraso no diagnóstico, o paciente infectado pode ter hemorragia intestinal e vir a óbito.
Também investigadora do IEC, a doutora Tânia Chaves é outra que defende melhorias no saneamento básico local para conter o avanço da doença. Ela acredita que esse é o principal motivo que vem multiplicando os registros de febre tifóide na região do Marajó. Em um mês, entre novembro e dezembro do ano passado, os casos detectados da enfermidade subiram de 20 para 46, segundo a Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa).
Entre as ações que vem sendo tomadas, está o esclarecimento à população sobre a transmissão da doença. Além disso, os agentes comunitários de saúde estão alertando aos moradores sobre o uso de hipoclorito de sódio na água consumível. “Apesar do esclarecimento sobre a necessidade do uso dessa substância, a adesão é baixa. A justificativa da população é que o sabor da água resultante do tratamento inviabiliza o líquido para o consumo”, explica a doutora Tânia.
O doutor Haroldo acrescenta que está sendo estudado o uso de uma vacina para a profilaxia da doença no município de Breves. Essa intervenção já vem sendo discutida com representantes da Sespa e, posteriormente, deve ser levada também ao Ministério da Saúde.
Surtos recorrentes
A atual situação, apesar de preocupante, não é inédita no estado do Pará. Na própria ilha de Marajó, no município de Anajás, já houve no passado investigações neste sentido, segundo o doutor Haroldo. “Também estamos atentos a ocorrências na região metropolitana de Belém, onde em 2014 houve uma investigação de um surto”, explica.
Em relação aos casos recentemente registrados em Breves, o tema foi discutido entre a Secretaria de Saúde do Estado e o IEC no final de outubro do ano passado, quando já havia ocorrido inclusive uma morte devido à doença.
**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**