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Desigualdades favorecem violência em países tropicaisInequalities favor violence in tropical countries

14/07/2013

Desigualdades

Pessoas pobres não são mais violentas, porém estão mais vulneráveis a sofrê-la pelo próprio processo de exclusão e falta de acesso a serviços, além da questão de outros fatores de risco associado

Uma enfermidade contagiosa e que, embora acometa indivíduos vulneráveis em todas as classes sociais, é nos bairros pobres que ela se torna epidêmica. A violência é um fenômeno multicausal e complexo, que atinge todos os países e classes sociais, em maior ou menor proporção. Segundo Dra. Marta Silva, coordenadora-geral de Doenças e Agravos Não Transmissíveis do Ministério da Saúde (CGDANT/MS), a violência está muito relacionada com os determinantes sociais, econômicos, políticos e com as desigualdades.

“Temos um fenômeno que é complexo e não apresenta apenas uma causa. Há várias naturezas e tipologias de violência – ela não é uma única: violência interpessoal, violência autoprovocada, tentativas de suicídio, violência comunitária. Temos também a natureza diferente da violência: natureza física, sexual, psicológica, negligência, abandono”, enumera a especialista.

Para Dra. Marta, existem fatores de risco associados que podem desencadear ou precipitar os fenômenos violentos, como a bebida alcoólica e as drogas – a exemplo do crack. Entretanto, ela destaca que a violência é democrática. “Os maus tratos contra crianças, adolescentes e mulheres estão presentes tanto em famílias ricas quanto pobres. O que se verifica é que a desigualdade propicia condições para esse fenômeno ocorrer de formas diferentes nessas classes sociais”, esclarece ao afirmar que as principais vítimas são pessoas mais excluídas, de baixa escolaridade, menores níveis de renda e/ou desempregadas. A especialista enfatiza que as pessoas pobres não são mais violentas, porém estão mais vulneráveis a sofrer violência pelo próprio processo de exclusão e pela falta de acesso a serviços, além da questão de outros fatores de risco associado.

Pesquisa recente publicada na revista médica britânica Lancet, traz a violência, especialmente contra as mulheres, como um dos pontos que precisam ser trabalhados. O estudo mostra que as mulheres são desproporcionalmente mais vulneráveis à violência e, comumente, são agredidas por um parceiro íntimo.

“O meio em que o individuo vive tem correlação com a violência. Nós, enquanto seres humanos, estamos dentro de um contexto social, uma família. Quando trabalhamos a prevenção da violência é preciso ver aspectos que devem ser trabalhados em nível de individuo (homens, jovens, negros, pobres, baixa escolaridade) e outros em nível comunitário. Então isso tem sim uma influencia. Família é fundamental”, pondera Dra. Marta ao realçar que quanto mais precocemente são as ações de solidariedade, de valores, de respeito, de tolerância, de acompanhamento dessa família, maiores as chances de você prevenir a violência. De acordo ela, a violência é aprendida, ninguém nasce violento.

Notificação como arma de combate

A violência se tornou uma epidemia, representando um grande impacto no setor saúde e, consequentemente, um grande aumento da mortalidade da população pelas suas variadas formas (trânsito, urbana, doméstica). Por este motivo, a coordenadora-geral de Doenças e Agravos Não Transmissíveis do MS, atenta para a necessidade de se notificar essas agressões.

“Ao notificar, pretende-se, num primeiro momento a intervenção junto à pessoa que sofreu violência. Então quando comunicamos estamos acionando a rede de cuidados – dependendo da necessidade de cada ocorrência (por exemplo, em caso de estupro, se teve contato com sangue) – para então fazermos as profilaxias, (para hepatite B, HIV), se for uma mulher em idade fértil fazer a contracepção de emergência”, destaca ao afirmar que o trabalho é multisetorial, vai além da área da saúde.

Dra. Marta salienta que as vítimas são encaminhadas a uma rede de proteção: um trabalho que envolve saúde, educação, assistência social – por meio dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) – Ministério Público, delegacias, bem como outros atores e setores que estão envolvidos com essa temática que é a violência.

“A notificação para o Sistema Único de Saúde (SUS) é fundamental para produzir informações. Por intermédio delas, é possível propor ações e formular políticas públicas, de prevenção, de enfrentamento à violência e de garantia de direitos”, argumenta a especialista ao frisar que isso desencadeia na ponta – nos estados e nos municípios – essa rede de proteção, permitindo intervir no caso. “Cidades com maior índice de notificação, não são necessariamente mais violentas – o aumento nos números mostra que as denúncias estão aumentando”, explica. A especialista ressalta que a informação é fundamental para propor ações efetivas.

A notificação é um dos componentes que faz parte do Sistema de Violência e Acidentes que foi implantado pelo MS em 2006, de acordo com a coordenadora do CGDANT. “Em 2011 essa notificação foi universalizada. Hoje, todos os municípios estão aptos a fazê-la e qualquer profissional de saúde que atender um caso suspeito é obrigado a relatar, seja médico, dentista ou enfermeiro”, frisa.

Violência é evitável

A violência não é transmitida, ninguém nasce com esse gene, garante Dra. Marta. Ela reafirma que é um fenômeno social, construído histórica e socialmente, por relações de poder. “Ao falarmos de violência é importante citar a de gênero e questionar por que a mulher apanha mais? Isso se dá porque estamos dentro de uma relação de poder – assim como ocorre com as crianças que até poucos anos atrás era vista como objeto e hoje é um ser com direitos”, pontua. Dr. Marta lembra que nessas relações de poder vemos todos os tipos de violência: contra a mulher, a homofobia e o racismo.

Para a especialista, é preciso romper com a violência, já que ela é evitável. Ela aponta que ao combater os fatores de risco, como a arma de fogo, o álcool e as drogas, e investir cada vez mais em ações intersetoriais, em rede – ações de promoção à saúde que tentam prevenir as causas das causas, ou seja, aumentar a qualidade, gerar renda e emprego – é possível prevenir a violência. “É necessário um trabalho de educação permanente e campanhas de conscientização. A violência é um fenômeno social”, conclui.

Desigualdades

Poor people are not more violent, although the exclusion process and lack of access to services make them more vulnerable to violence, besides the other associated risk factors

A contagious disease that although attacks vulnerable individuals from all social ranks, it becomes an epidemic in the poor neighborhoods. Violence is a complex and multi-cause phenomena that strikes all countries and social ranks, in larger or lower proportion. According to Dr. Marta Silva, general coordinator of Non-contagious Diseases and Disorders (NCDD) from the Health Ministry, violence is closely related to social, economic and political determinants, as well as inequalities.

“We have a complex phenomenon that does not have one only cause. Violence has several natures and typologies – it is not unique: interpersonal violence, self-harm, suicide attempts, community violence. There are also violence’s different natures: physical, sexual, psychological, negligence and neglect”, she numbers.

For Dr. Marta, there are risk factors that can unleash or hasten violent phenomena, as alcoholic beverages and drugs – i.e. crack cocaine. Although, she points that violence is democratic. “Children, adolescent and women abuse are as much present in rich as in poor families. What can be seen is that the inequalities create conditions for the phenomenon to occur in different ways in these social classes”, she lightens saying that most victims are excluded people, with low scholarity, with lower income and/or unemployed. The specialist says that poor people are not more violent, although the exclusion process and lack of access to services make them more vulnerable to violence, besides the other associated risk factors.

A recent research published in the British medical jornal Lancet brings violence, specially against women as one of the goals to be worked on. The study shows that women are disproportionately more vulnerable to violence and, that commonly are assaulted by intimate partners.

The environment in which the individual lives has close connections to violence. We, as human beings, are in a social context, a family. When we study violence prevention, we need to look at individual level aspects (men, young, black, poor, low schooling) and others in community levels. “So this has an influence. Family is primordial”, said Dr. Marta remembering that the earlier solidarity values, respect, tolerance and accompanying of this family, the larger the chances to prevent violence. According to her, violence is learned, nobody is born violent.

Notification as a combat strategy
Violence has become an epidemic, representing a large impact in the health sector, and thus, a great increase in the population’s mortality in its many forms (traffic, urban, domestic). For this reason, the Health Ministry’s general coordinator of Diseases and Non-transmissible Diseases (GCDND), warns for the need to notify these agressions.

“By notifying, we intend, in a first moment the intervention along with the victim. When we notify we are activating the care network – according to the needs of each fact (i.e. in case of rape, if there was blood of fluid exchange) – and then prophylaxis is done (for hepatitis B, HIV), if it is a fertile age woman, do the emergency contraception”, points saying that the work is multisectoral, transcending the health area.

Dr. Marta highlights that the victims are taken to a protection network: a process involving health, education, social assistance – through the Social Assistance Reference Centers (SARC), Specialized Social Assistance Reference Centers (SSARC) – Public Ministry (Brazilian body of independent public prosecutors), police stations as well as other actors and sectors involved in the violence thematic.

“Notification to the Unified Health System (UHS) is the root of information production. Through them, it is possible to propose actions and formulate public policies, for prevention, violence combat and assuring rights”, she reasons while pointing that this unleashes the protection network from the end – states and cities – allowing intervention in the case. Cities with larger notification index are not necessarily the most violent – the increase in the numbers show only that the complaints are growing”, explains. The specialist says that the information is fundamental to propose effective actions.

Notification is one of the components of the Violence and Accidents System, implanted by the Health Ministry in 2006, according to the coordinator of the

GCDND. “In 2011 this notification system was unified. Today, all municipalities are obliged to do it and any health professional involved in a suspicious case is obliged to notify, whether he is a physician, a dentist or a nurse”, she said.

Violence is avoidable
Violence is not transmitted, no one is born with this gene, assures Dr. Marta. She reaffirms that this is a social phenomena, built historically and socially by power relations. “When we speak about violence, it is important to quote the gender and ask why the woman the one who is most assaulted. This happens because we are in a power relation – the same thing that used to happen to children being seen as objects, and today has their own rights”, points. Dr. Marta remembers that under these power relations all kinds of violence are found: against women, homophobia and racism.

To the specialist, we need a violence breakthrough, since it is avoidable. She points to fight the risk factors, as fire weapons, alcohol and drugs, and progressively investing in intersected actions, in networks – health promotion actions that intend to decrease the causes’ causes – it is possible to prevent violence. “Permanent education and conscience campaigns are necessary. Violence is a social fact”, concludes.

**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**