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Cura da AIDS ainda exige muita pesquisa, diz especialistaAIDS cure still demands a lot of research, says specialist
Pesquisadores

Comunidade científica, sociedade, organizações governamentais e não-governamentais de países emergentes como o Brasil têm um grande papel a desempenhar na mobilização internacional pela cura e pela erradicação do HIV/AIDS

Dra. Cristina comenta que a International AIDS Society acaba de lançar, na Conferência de AIDS 2012, sob a coordenação da prêmio Nobel Dra. Françoise Barre-Sinoussi, do Instituto Pasteur, na Franca, e do Dr. Steve Deeks da Universidade da Califórnia em San Francisco, nos EUA, a Iniciativa para a Cura do HIV. A especialista, que também estava presente na Conferência em Washington D.C, destaca que o financiamento para pesquisa nesta área, ainda é muito limitado. “No plano internacional, permanece como o principal problema. Baseados na avaliação dos recentes avanços científicos, alguns pesquisadores chegam mesmo a estimar que estaríamos a cerca de U$ 200 milhões da cura da AIDS”, salienta. A quantia parece significativa. Mas segundo a especialista, não, se considerarmos o gasto apenas dos EUA na prevenção e tratamento da AIDS no mundo, em 2011, que foi de aproximadamente U$ 20 bilhões.

A especialista lembra o caso recente, relatado na mídia, de uma nova esperança de cura para AIDS via transplante de medula. O caso ganhou destaque quando o americano Timothy Brown, que era portador do HIV e sofria de leucemia recebeu, em 2007, transplante de medula óssea para tratara sua doença. O paciente, que teve o seu próprio sistema imunológico substituído por outro, resistente à infecção pelo HIV, ficou aparentemente, desde então, livre do vírus e conseguiu interromper seu tratamento antirretroviral.

Entretanto, Dra. Cristina chama a atenção para o fato de que embora esta descoberta tenha sido bastante inovadora do ponto de vista cientifico, permitindo avanços importantes neste campo, na verdade os  transplantes de medula óssea são uma opção terapêutica ainda arriscada e cara. “Além disto, é difícil encontrar um doador imunologicamente compatível e com as características de resistência natural à infecção. Deste ponto de vista, não pode ser considerada uma alternativa viável”, aponta.

Mas alternativas com relação a cura e controle do HIV começam a despontar como uma realidade. “Há estudos que confirmam que o Truvada, já utilizado no tratamento do HIV/AIDS no país, atua também como uma eficaz ferramenta para a prevenção da transmissão do HIV”, ressalta ao realçar a recente descoberta. Entretanto, a especialista observa que, apesar da relevância do medicamento, a droga é apenas uma ferramenta adicional às estratégias atualmente existentes de prevenção e não deve substituir a camisinha. “É indicada apenas para a prevenção do HIV em grupos populacionais de alto risco, como homens que fazem sexo com homens, e casais sorodiscordantes, em que um dos parceiros é positivo”, esclarece.

Para Dra. Cristina esta foi, sem dúvida, uma importante descoberta do ponto de vista científico: “a constatação de que um medicamento ARV como o Truvada, pode atuar não apenas no tratamento, mas também na prevenção”. A especialista lembra que embora tenha sido aprovado pelas agências reguladoras, como o FDA e a ANVISA, o Truvada deve ser utilizado com o necessário cuidado e adequado acompanhamento médico. “Ainda se desconhece os seus efeitos colaterais ao longo prazo”, analisa.

Entretanto, limitações nas atuais estratégias terapêuticas têm levado cientistas a buscar novas estratégias e a investir na pesquisa de cura do HIV. “Não podemos dizer que estamos próximos da cura do HIV/AIDS, não seria sensato criar no momento falsas expectativas”, fala Dra. Cristina ao destacar que a comunidade científica, a sociedade e as organizações governamentais e não-governamentais de países emergentes como o Brasil têm, na verdade, um grande papel a desempenhar na mobilização internacional pela cura e pela erradicação do HIV/AIDS.

Pesquisadores
Scientific community, society, government and non-governmental organizations in emerging countries such as Brazil have a big role to play in international mobilization for the cure and eradication of HIV/AIDS.

Significant research advances have been made in search for a cure, especially regarding the study of HIV’s persistence and latency in the body, the action of the immune system in this process of latency, and in the development of new antiretroviral therapeutic regimens that reverse latency. This was confirmed by Dr. Cristina Possas, coordinator of the postgraduate (Masters and PhD) programmes in Clinical Research in Infectious Diseases, the Clinical Research Institute Evandro Chagas/Oswaldo Cruz Foundation (Fiocruz). She says we now have scientific evidence, such as the HIV controllers: patients whose immunological system spontaneously controls their infection. This brings the prospect of a better understanding of the immune system and thus, treatment that can induce analog control in other infected patients, says the expert.

Dr. Possas says that the International AIDS Society launched the Initiative for the Cure of HIV, at the 2012 AIDS Conference, under the coordination of the Nobel Prize winner Dr. Françoise Barre-Sinoussi, from the Pasteur Institute in France, and Dr. Steve Deeks at the University of California, San Francisco, USA. The expert, who was also at the Conference in Washington DC, highlights that funding for research in this area is still very limited. Internationally, this continues to be the main problem. Based on the evaluation of recent scientific advances, some researchers estimate that we are US$ 200 million away from a cure for AIDS, she emphasizes. The figure seems large. But it is not, according to the expert, if we consider how much the US alone spent in the prevention and treatment of AIDS worldwide in 2011: approximately US$20 billion.

The expert mentions the recent case, reported in the media, about a new hope for an AIDS cure through a bone marrow transplant. The case made headlines when in 2007, American Timothy Brown, an HIV-positive patient suffering from leukemia, received a bone marrow transplant to treat his illness. The patient, whose own immune system was replaced by another one that was resistant to HIV infection, has apparently remained free of the virus and been able to discontinue antiretroviral therapy.

However, Dr. Possas mentions that although this finding is innovative from a scientific point of view, enabling significant advances in this field, bone marrow transplants are a risky and expensive treatment. Moreover, it is difficult to find an immunologically-compatible donor with natural resistance to the infection. From this point of view, the treatment cannot be considered a viable alternative, she says.

But some possibilities to cure and control HIV are beginning to emerge as a reality. There are studies that confirm that the drug Truvada, used in the treatment of HIV/AIDS in Brazil, also acts as an effective tool for preventing HIV transmission, says the expert. However, she notes, despite the drug’s importance, it is just an additional tool to currently existing prevention strategies and should not replace condom usage. It is only indicated for HIV prevention in high-risk population groups, such as men who have sex with men, and serodiscordant couples (where one partner is positive) she explains.

According to Dr. Possas this is, undoubtedly, an important scientific discovery: the realization that an ARV drug, such as Truvada, can act not only in treatment but also as prevention. She points out that although it has been approved by regulatory agencies such as the FDA and ANVISA, Truvada should be used with appropriate care and medical follow-up. Were still not aware of the long-term side effects she says.

However, limitations in current treatment strategies have led scientists to seek new solutions and to invest in research for an HIV cure. We cannot yet say that we are close to a cure, it would be unwise at this time to create false expectations, says Dr. Possas, pointing out that the scientific community, society, and governmental and non-governmental organizations from emerging countries such as Brazil have, in fact, a large role to play in the international mobilization to cure and eradicate HIV/AIDS

**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**