Notícias

Médicos Sem Fronteiras lança relatório sobre doenças tropicais no BrasilMédecins Sans Frontières launches report on tropic

13/10/2012

Médicos

Poderia haver uma melhora rápida na qualidade de vida das pessoas com doenças tropicais se houvesse um aumento na oferta de melhores estratégias e diagnósticos, conforme divulgado no relatório

A análise do passado, presente e futuro do manejo das doenças tropicais, foi apresentada em um estudo desenvolvido pela organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF). O relatório, intitulado Fighting Neglect, mostra a experiência de 25 anos de MSF no manejo da doença de Chagas, da doença do sono e do calazar. Apresentado pela primeira vez no Brasil, durante o 18º Congresso Internacional de Medicina Tropical e Malária, o estudo conclui que o acesso ao tratamento de qualidade requer mais esforços políticos por parte dos principais doadores internacionais e dos países afetados.

“Os tomadores de decisões políticas não focam esforços nas doenças negligenciadas, alegando que existem meios adequados para tratar os pacientes. A indústria farmacêutica, por sua vez, não investe em pesquisa e desenvolvimento voltados para novos tratamentos e testes de diagnósticos, porque essas doenças atingem principalmente a parcela mais pobre da população mundial, o que significa que não é um mercado lucrativo”, avalia Gemma Ortiz Genovese, consultora de MSF para doenças negligenciadas, que afirma que esse ciclo precisa ser quebrado.

Poderia haver uma melhora rápida na qualidade de vida das pessoas com doenças tropicais se houvesse um aumento na oferta de melhores estratégias e diagnósticos, conforme divulgado no relatório. “Os medicamentos usados para o tratamento da doença de Chagas, por exemplo, foram desenvolvidos na década de 60 e 70 e causam efeitos adversos frequentes”, destaca a médica Carolina Batista, diretora da Unidade Médica de Médicos Sem Fronteiras Brasil.

Para viabilizar novos e efetivos diagnósticos, o estudo chama a atenção para a necessidade de mais investimento em pesquisas e desenvolvimento. “Milhares de vidas poderiam ser salvas porque essas doenças são altamente tratáveis e curáveis. Mas para isso é preciso políticas para financiar programas que funcionem e iniciativas que desenvolvam métodos de tratamentos eficientes”, defende Carolina Batista. “Há um ciclo de negligência terrível”, complementa Gemma Genovese.

Na análise da consultora de MSF para doenças negligenciadas, para que novos diagnósticos e medicamentos sejam desenvolvidos, é preciso mais que investimentos em inovação. “É preciso repensar o modo como são conduzidos os investimentos em pesquisa e desenvolvimento para garantir que as inovações atendam as necessidades de saúde pública nos países pobres”, diz Gemma.

Ela lembra que, recentemente, os Estados Unidos e a Europa se opuseram, na Organização Mundial da Saúde (OMS), à tentativa de dar às inovações médicas para doenças negligenciadas um novo caráter, que priorize os pacientes em países pobres. Por outro lado, em janeiro de 2012, em Londres, a OMS, lançou um relatório com os melhores meios de controle e eliminação de algumas doenças tropicais. Resultados concretos, no entanto, ainda não apareceram.

Relatório aponta necessidade de melhorias

Doença de Chagas
Até o ano passado, o Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco (Lafepe) era o único fabricante do Benzonidazol, principal medicamento para tratamento da doença de Chagas. A recente chegada de um novo produtor, na Argentina, pode evitar situações de ruptura de estoque do medicamento, ocorrida em 2011, e possibilitar a expansão dos programas para América do Sul. Além disso, com o lançamento da versão pediátrica do Benzonidazol, que começou a ser fabricada no Brasil esse ano, mais crianças devem ser tratadas.

Calazar
Melhores tratamentos para calazar, incluindo o tratamento combinado com anfotericina lipossomal, deveriam ser oferecidos no Sul da Ásia.

A maioria dos testes e medicamentos é antiquada e exige profissionais altamente especializados e esquemas logísticos específicos. No leste da África, por exemplo, as opções de tratamento de calazar ainda dependem de medicamentos altamente tóxicos, desenvolvidos nos anos 30, aplicados com injeções doloridas.

Doença do sono
Uma nova terapia para doença do sono em “estágio dois” foi lançada em 2009. No entanto, sua aplicação depende de 14 infusões que precisam ser administradas em um hospital. O ideal é que, no futuro, o tratamento seja baseado em um medicamento oral eficiente, que possa ser administrado em pessoas que moram na zona rural, sem a necessidade de clínicas de saúde.

Fiocruz e MSF assinam acordo
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) assinaram, durante o Congresso Internacional de Medicina Tropical e Malária, um acordo de cooperação. A iniciativa prevê ações, até 2017, nas áreas de atenção à saúde, apoio técnico, qualificação e treinamento, pesquisa operacional e elaboração de material científico.

Para a diretora da Unidade Médica de Médicos Sem Fronteiras Brasil, a oficialização do acordo fortalece a parceria existente entre as duas instituições.

Médicos

There could be a rapid improvement in the quality of life of people with tropical diseases if there were an increase in the supply of better strategies and diagnostics, as disclosed in the report

The analysis of past, present and future management of tropical diseases, was presented in a study developed by the humanitarian organization Médecins Sans Frontières (MSF). The report, titled Fighting Neglect presents the experience of 25 years of MSF in the management of Chagas disease, sleeping sickness and leishmaniasis. Presented for the first time in Brazil, during the 18th International Congress on Tropical Medicine and Malaria, the study concludes that access to quality care requires more political efforts by major international donors and affected countries.

“The policy makers do not focus efforts on neglected diseases, arguing that there are adequate facilities to treat patients. The pharmaceutical industry, in turn, does not invest in research and development aimed at new treatments and diagnostic tests, because these diseases mainly affect the poorest section of the world population, which means that there is no lucrative market”, said Gemma Ortiz Genovese, MSF consultant for neglected diseases, who states that this cycle must be broken.

There could be a rapid improvement in the quality of life of people with tropical diseases if there were an increase in the supply of better strategies and diagnostics, as disclosed in the report. “The drugs used for the treatment of Chagas disease, for example, were developed in the 60s and 70s and often cause adverse effects”, says the medic Carolina Batista, MSF Brazil Medical Unit director.

To enable new and effective diagnostics, the study draws attention to the need for more investment in research and development. “Thousands of lives could be saved because these diseases are highly treatable and curable. But this requires policies to fund programs that work and initiatives to develop methods of effective treatments”, argues Carolina Batista. “Theres a cycle of terrible neglect”, adds Gemma Genovese.

In Genovese’s analysis, for new diagnostics and drugs to be developed, it takes more than investment in innovation. “We need to rethink how investments in research and development are driven to ensure that innovations meet the public health needs of poor countries”, she says.

She recalls that, recently, the United States and Europe were opposed, in the World Health Organization (WHO), in the attempt to give medical innovation for neglected diseases a new character, which prioritizes patients in poor countries. Moreover, in January 2012, in London, the WHO released a report on the best means of controlling and eliminating some tropical diseases. Concrete results, however, have not yet appeared.

Report points to need for improvements

Chagas Disease
Until last year, the Pharmaceutical Laboratory of Pernambuco State (Lafepe) was the only manufacturer of Benznidazole, the main drug for treatment of Chagas disease. The recent arrival of a new producer in Argentina may avoid a rupture in the supply of medicine, which occurred in 2011, and enable the expansion of programs to South America. Additionally, with the release of the pediatric version of Benznidazole, which began to be manufactured in Brazil this year, most children should be treated.

Calazar
Better treatments for calazar, including combination treatment with liposomal amphotericin, should be offered in South Asia.

Most tests and medicines are outdated and require highly specialized professionals and specific logistics schemes. In East Africa, for example, the options for leishmaniasis treatment still rely on highly toxic drugs, developed in the 30s, applied with painful injections.

Sleeping sickness
A new therapy for sleeping sickness in stage two was released in 2009. However, its application depends on 14 infusions that need to be administered in a hospital. Ideally, in the future, the treatment will be based on an effective oral drug that can be given to people who live in rural areas, without the need for health clinics.

MSF Fiocruz and MSF sign agreement
The Oswaldo Cruz Foundation (Fiocruz) and the humanitarian organization Médecins Sans Frontières (MSF) signed a cooperation agreement during the International Congress on Tropical Medicine and Malaria. The initiative forecasts actions by 2017 in the areas of health care, technical support, training and qualification, operational research and development of scientific material.

For the director of the Medical Unit of Doctors Without Borders Brazil, formalizing the agreement strengthens the existing partnership between the two institutions.